Polymath, Securitize e o Futuro das Plataformas de Tokens de Segurança
O mercado de criptoativos evoluiu rapidamente nos últimos anos, e uma das áreas que mais tem ganhado destaque são os tokens de segurança (security tokens). Diferente dos tokens utilitários, esses ativos são respaldados por direitos sobre valores mobiliários reais, como ações, dividendos ou participação em fundos. Dentro desse ecossistema, duas plataformas se destacam: Polymath e Securitize. Neste artigo, vamos analisar em profundidade como cada uma funciona, suas vantagens técnicas, os desafios regulatórios e como elas podem transformar a captação de recursos no Brasil.
Introdução ao universo dos tokens de segurança
Antes de mergulharmos nas especificidades da Polymath e da Securitize, é essencial entender o que são tokens de segurança e por que eles são relevantes para investidores brasileiros. Os tokens de segurança são criados a partir de contratos inteligentes que representam ativos financeiros tradicionais, permitindo que eles sejam negociados em blockchain de forma transparente, divisível e com custos operacionais reduzidos.
Entre os principais benefícios, destacam‑se:
- Liquidez: ativos que antes eram ilíquidos podem ser negociados 24/7 em exchanges reguladas.
- Fractionalização: investidores podem comprar frações de um ativo, democratizando o acesso.
- Transparência: todas as transações ficam registradas em um ledger imutável.
- Automação de compliance: regras de KYC/AML e restrições de transferência podem ser codificadas no contrato.
Principais Pontos
- Polymath oferece um framework completo para emissão de security tokens baseado na blockchain Ethereum.
- Securitize combina tecnologia blockchain com serviços de compliance jurídico, facilitando a emissão e gestão de tokens.
- Ambas as plataformas são compatíveis com a regulamentação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e podem ser usadas por startups brasileiras.
- Os custos operacionais variam, mas geralmente ficam entre R$ 5 mil e R$ 30 mil por emissão, dependendo da complexidade.
Polymath: o framework especializado em segurança tokenizada
Fundada em 2017, a Polymath (ticker POLY) nasceu com a missão de simplificar a criação de security tokens. Ela fornece um conjunto de ferramentas – o Polymath Token Studio – que permite a desenvolvedores e emissores criar tokens conformes às normas regulatórias de forma quase plug‑and‑play.
Arquitetura técnica
O núcleo da Polymath está baseado em contratos inteligentes padrão ERC‑1400, que combinam as funcionalidades dos padrões ERC‑20 e ERC‑1410. Essa escolha traz duas grandes vantagens:
- Modularidade: o contrato pode ser estendido para incluir módulos de compliance, como whitelist de investidores ou limites de tempo.
- Interoperabilidade: tokens ERC‑1400 podem ser negociados em exchanges que já suportam ERC‑20, ampliando o mercado.
Além disso, a Polymath oferece o Polymath Token Wizard, um assistente de criação que guia o usuário por etapas como definição de classe de token, configuração de regras de transferência e integração com provedores de identidade.
Processo de emissão
Para emitir um token na Polymath, o emissor segue os passos abaixo:
- Onboarding: cadastro na plataforma e verificação de identidade (KYC) via parceiros como Jumio ou Onfido.
- Definição de parâmetros: escolha de token standard (ERC‑1400), definição de direitos (dividendos, voto, participação).
- Compliance: integração com provedores de AML, definição de whitelist/blacklist de endereços.
- Deploy: contrato é implantado na rede Ethereum (ou Polygon para custos menores).
- Distribuição: tokens são enviados para investidores após a assinatura de contratos legais.
Todo o fluxo pode ser monitorado em tempo real por meio do Polymath Dashboard, que oferece métricas de captação, status de KYC e histórico de transferências.
Custos e escalabilidade
O custo de emissão na Polymath varia de acordo com a complexidade regulatória. Em média, para projetos de até R$ 2 milhões, a taxa de implantação fica entre R$ 12 mil e R$ 18 mil, incluindo auditoria de contrato inteligente. Para projetos maiores ou com requisitos de múltiplas classes de token, os custos podem chegar a R$ 30 mil.
Quanto à escalabilidade, a Polymath tem migrado parte de suas operações para a rede Polygon, reduzindo o gas fee de cerca de US$ 50 (≈ R$ 250) para menos de US$ 1 (≈ R$ 5) por transação, sem comprometer a segurança.
Securitize: a solução completa de tokenização e compliance
Lançada em 2018, a Securitize combina tecnologia blockchain com serviços jurídicos especializados. O objetivo da empresa é oferecer uma solução “end‑to‑end” que abrange desde a estruturação legal até a negociação em plataformas secundárias.
Arquitetura e padrões adotados
A Securitize utiliza o padrão ERC‑721 para tokens não fungíveis (NFTs) quando a emissão requer atributos únicos, e ERC‑1400 para security tokens fungíveis. A escolha do padrão depende da natureza do ativo subjacente.
Um ponto de diferenciação importante é o Securitize DS Protocol, que permite a criação de digital securities com regras de transferência codificadas diretamente no token, incluindo:
- Restrições geográficas (ex.: apenas investidores residentes no Brasil).
- Limites de volume por endereço.
- Janelas temporais de negociação (lock‑up periods).
Essas regras são verificadas automaticamente por nós de validação distribuídos, garantindo que nenhuma transação viole as normas da CVM.
Processo de tokenização na Securitize
O fluxo de trabalho na Securitize segue as etapas abaixo:
- Consultoria jurídica: a equipe de advogados da Securitize elabora documentos de oferta compatíveis com a Instrução CVM 588.
- Onboarding de investidores: plataforma integrada de KYC/AML com verificação de CPF, CNPJ e comprovante de residência.
- Criação do token: contrato inteligente é gerado e auditado por firmas como CertiK.
- Distribuição: tokens são creditados nas carteiras digitais dos investidores via Securitize Investor Portal.
- Negociação secundária: integração com exchanges reguladas como a B3 Digital Assets e a Mercado Bitcoin.
Todo o processo pode ser acompanhado em um painel que exibe métricas de captação, status de compliance e histórico de transações.
Custos, suporte e escalabilidade
A Securitize cobra uma taxa fixa de setup que varia entre R$ 15 mil e R$ 25 mil, mais uma comissão de 0,5% sobre o volume negociado na fase secundária. Esse modelo pode ser mais vantajoso para projetos que esperam alta liquidez pós‑lançamento.
Em termos de escalabilidade, a Securitize tem investido em soluções de camada 2 (Optimistic Rollups) para reduzir o custo de gas em até 95%, permitindo que tokens de projetos de grande porte (acima de R$ 10 milhões) sejam emitidos com custos operacionais baixos.
Comparativo técnico e regulatório entre Polymath e Securitize
| Critério | Polymath | Securitize |
|---|---|---|
| Principais padrões | ERC‑1400 (Ethereum/Polygon) | ERC‑1400 + ERC‑721 (Ethereum/Optimistic Rollups) |
| Foco | Framework para desenvolvedores | Serviço completo (jurídico + técnico) |
| Custos de implantação | R$ 12k‑30k (variável) | R$ 15k‑25k + 0,5% volume |
| Compliance integrado | KYC/AML via parceiros, whitelist customizável | KYC/AML próprio, regras de transferência avançadas |
| Escalabilidade | Polygon + sidechains | Optimistic Rollups + camada 2 |
| Integração com exchanges brasileiras | Em desenvolvimento (B3 Digital Assets) | Já integrado com B3 e Mercado Bitcoin |
Desafios regulatórios no Brasil
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem emitido orientações claras sobre a tokenização de valores mobiliários. Entre os principais requisitos estão:
- Registro da oferta ou isenção conforme Instrução CVM 588.
- Procedimentos de KYC/AML para todos os investidores.
- Transparência sobre direitos econômicos e de voto.
- Limitações de participação para investidores qualificados.
Ambas as plataformas já oferecem módulos que atendem a esses requisitos, mas é fundamental que o emissor contrate assessoria jurídica local para garantir conformidade total.
Casos de uso relevantes no Brasil
Nos últimos dois anos, vemos um aumento significativo de projetos brasileiros adotando security tokens:
- Financiamento de agronegócio: cooperativas utilizam tokens para captar recursos de investidores individuais, oferecendo participação nos lucros da safra.
- Imóveis tokenizados: plataformas como a ImobToken emitem tokens que representam frações de propriedades comerciais em São Paulo.
- Startups de fintech: empresas fintechs lançam tokens de dívida que pagam juros semestrais, facilitando a captação sem necessidade de IPO.
Esses casos demonstram como a tokenização pode reduzir barreiras de entrada e melhorar a liquidez de ativos tradicionalmente ilíquidos.
Como escolher a plataforma ideal para o seu projeto
Ao decidir entre Polymath e Securitize, considere os seguintes fatores:
- Complexidade técnica: se sua equipe tem desenvolvedores experientes em Solidity, Polymath pode ser mais econômico.
- Necessidade de suporte jurídico: se você precisa de assessoria completa, Securitize oferece um pacote integrado.
- Escala de captação: projetos que visam levantar mais de R$ 10 milhões podem se beneficiar das taxas de negociação reduzidas da Securitize.
- Velocidade de lançamento: Polymath permite implantação rápida em testnet, ideal para provas de conceito.
Impacto futuro das security tokens no ecossistema cripto brasileiro
À medida que a CVM aprova mais normas e exchanges reguladas entram no mercado, a tokenização de valores mobiliários tende a se tornar um pilar central da inovação financeira no Brasil. As plataformas Polymath e Securitize, ao oferecerem infraestrutura robusta e compliance integrado, posicionam‑se como facilitadoras desse movimento.
Esperamos que, nos próximos cinco anos, a participação de security tokens em captações de recursos ultrapasse 30% do total de rodadas de investimento em startups brasileiras, impulsionando ainda mais a adoção de blockchain no setor tradicional.
Conclusão
Polymath e Securitize representam duas abordagens distintas, porém complementares, para a tokenização de valores mobiliários. Enquanto a Polymath foca em oferecer um framework flexível para desenvolvedores, a Securitize entrega uma solução completa que inclui suporte jurídico, compliance avançado e integração com exchanges reguladas.
Para investidores e emissores brasileiros, a escolha da plataforma ideal dependerá do grau de suporte necessário, do tamanho da captação e da complexidade regulatória do projeto. Independentemente da escolha, ambas as soluções demonstram que o futuro dos investimentos no Brasil será cada vez mais digital, transparente e acessível.
Se você está considerando tokenizar seu ativo, avalie cuidadosamente os custos, a escalabilidade da rede escolhida e, sobretudo, garanta que todos os requisitos da CVM estejam sendo atendidos. O caminho está pronto; basta dar o primeiro passo rumo à nova era dos security tokens.