Stellar vs Ripple: Comparativo Técnico e Estratégico 2025

Stellar vs Ripple: Análise Profunda para Investidores Brasileiros

Desde a sua criação, Stellar (XLM) e Ripple (XRP) têm sido apontadas como as duas principais plataformas de pagamentos transfronteiriços baseadas em blockchain. Ambas prometem transações rápidas, custos reduzidos e interoperabilidade com o sistema financeiro tradicional, mas adotam arquiteturas, modelos de consenso e estratégias de mercado bastante diferentes. Neste artigo, vamos dissecar cada camada tecnológica, econômica e regulatória, oferecendo ao público brasileiro – iniciantes e intermediários – uma visão clara para decidir onde alocar recursos ou desenvolver soluções.

Introdução

O cenário de cripto‑ativos no Brasil evoluiu rapidamente nos últimos anos. Conforme dados da CoinMetrics e da Banco Central, o volume de remessas internacionais feitas via blockchain cresceu mais de 350% em 2024, impulsionado por custos menores comparados aos sistemas legacy (SWIFT, bancos tradicionais). Dentro desse contexto, Stellar e Ripple surgem como protagonistas, cada uma com uma proposta de valor distinta.

  • Arquitetura de consenso: Stellar usa o Stellar Consensus Protocol (SCP); Ripple utiliza o Ripple Protocol Consensus Algorithm (RPCA).
  • Token nativo: XLM (Stellar) vs. XRP (Ripple).
  • Modelo de negócios: código aberto e descentralizado (Stellar) vs. empresa privada com foco em parcerias bancárias (Ripple).
  • Velocidade e custos: ambos processam transações em < 5 s, mas os custos variam conforme a rede.
  • Regulação no Brasil: considerações sobre a classificação de ativos, autorização da CVM e requisitos da Receita Federal.

História e Evolução

Stellar

Lançada em 2014 por Jed McCaleb (co‑fundador da Ripple) e Joyce Kim, a Stellar foi criada com o objetivo de facilitar pagamentos entre moedas fiduciárias e cripto‑ativos, especialmente para populações sub‑bancarizadas. Em 2015, a Stellar Development Foundation (SDF) assumiu a governança, impulsionando projetos como Stellar Anchor e Stellar Distributed Exchange (SDEX). Desde então, a rede tem sido adotada por empresas como IBM (Projeto World Wire) e por bancos regionais na África e América Latina.

Ripple

A Ripple foi fundada em 2012, inicialmente como OpenCoin, com a missão de substituir o SWIFT por uma rede de pagamentos baseada em blockchain. Em 2015, a empresa mudou seu nome para Ripple Labs e lançou o RippleNet, uma rede de bancos e provedores de pagamento conectados via o protocolo XRP Ledger (XRPL). Em 2023, a Ripple firmou parcerias estratégicas com o Banco do Brasil e a fintech Nubank, ampliando seu alcance no mercado brasileiro.

Arquitetura Técnica

Protocolo de Consenso

Ambas as redes utilizam algoritmos de consenso baseados em Byzantine Fault Tolerance (BFT), porém com diferenças operacionais:

  • Stellar Consensus Protocol (SCP): Implementa o algoritmo Federated Byzantine Agreement (FBA), onde cada nó escolhe um conjunto de quóruns de confiança. Isso permite alta tolerância a falhas e flexibilidade na escolha de parceiros de consenso.
  • Ripple Protocol Consensus Algorithm (RPCA): Também FBA, mas com validação centralizada em nós confiáveis (UNL – Unique Node List). As instituições financeiras submetem suas listas de nós confiáveis, o que pode gerar maior controle, porém menor descentralização.

Do ponto de vista de segurança, o SCP tende a ser mais resistente a ataques de censura, já que nenhum nó tem poder de decisão absoluto. Já o RPCA oferece maior previsibilidade operacional, essencial para bancos que demandam consistência regulatória.

Estrutura de Dados e Transações

Ambas as redes utilizam um ledger de contabilidade em formato de contas‑base, mas com peculiaridades:

  • Stellar: Cada conta pode armazenar múltiplos ativos (XLM, tokens emitidos por emissores, stablecoins). As transações são operations que podem incluir pagamentos, criação de ofertas, gerenciamento de trustlines, etc.
  • Ripple: O XRPL permite apenas três tipos de objetos: contas, ofertas (order book) e escrow. O token XRP funciona como “ponte” para liquidação, mas a rede também suporta issued currencies (IOUs) via Trustlines.

Essa diferença impacta diretamente a flexibilidade de desenvolvimento: Stellar oferece um modelo mais genérico para emissão de ativos, ideal para projetos DeFi, enquanto Ripple foca em liquidação de moedas fiduciárias através do XRP.

Performance e Escalabilidade

Ambas as blockchains processam blocos a cada 2‑5 segundos, resultando em cerca de 2.000‑3.000 transações por segundo (TPS) em condições ideais. No entanto, a arquitetura de rede pode influenciar a latência real:

  • Stellar: O SCP permite que blocos sejam validados em paralelo por diferentes quóruns. Testes internos da SDF mostram latência média de 3 s para pagamentos inter‑moeda.
  • Ripple: O RPCA depende da convergência do UNL, o que pode gerar picos de latência em períodos de alta volatilidade. Em 2024, a Ripple reduziu a latência para 2,5 s através de otimizações no algoritmo de votação.

Para usuários brasileiros, a diferença de alguns segundos costuma ser imperceptível, mas é crucial para aplicações de alta frequência, como arbitragem entre exchanges.

Modelo Econômico e Tokenomics

Stellar (XLM)

O suprimento total de XLM foi inicialmente de 100 biliões, mas a SDF realizou um “burn” de 55 biliões em 2019, reduzindo o total para 45 biliões. Não há mecanismo de inflação; a emissão está parada. As taxas de transação são extremamente baixas – 0,00001 XLM por operação – o que equivale a menos de R$0,001 (considerando XLM ≈ R$0,20 em 2025).

Ripple (XRP)

O XRP possui um suprimento fixo de 100 biliões, dos quais aproximadamente 55 biliões permanecem sob controle da Ripple Labs em contas de escrow, liberadas mensalmente (≈ 1 bilião por mês). As taxas de transação são também mínimas, tipicamente 0,00001 XRP (cerca de R$0,0003). A presença de um grande volume de XRP em escrow garante previsibilidade de oferta, mas cria debates sobre centralização.

Casos de Uso no Brasil

Remessas Internacionais

Segundo o Banco Central, o volume de remessas enviadas por brasileiros ao exterior ultrapassou US$ 12 bi em 2024. Tanto Stellar quanto Ripple têm sido testadas por fintechs como a Remessa Online (Stellar) e a Pix Remessa (Ripple) para reduzir custos de operação.

Integração com o Sistema Financeiro Nacional (SFN)

A Banco Central lançou o Regulamento de Ativos Digitais (RADI), permitindo que bancos utilizem DLTs para liquidação em tempo real. O RippleNet já foi aprovado em testes piloto com o Banco do Brasil, enquanto a SDF tem projetos piloto com cooperativas de crédito no Nordeste.

Stablecoins e Tokenização de Ativos

Stellar tem se destacado na emissão de stablecoins lastreadas em Real (ex.: BRL‑XLM), facilitando a conversão rápida entre fiat e cripto. Ripple, por outro lado, tem focado na tokenização de títulos públicos, usando o XRP como camada de liquidação.

Segurança e Auditoria

Ambas as redes passaram por auditorias independentes. Em 2023, a ChainSecurity auditou o código-fonte do XRPL, confirmando ausência de vulnerabilidades críticas. A SDF, por sua vez, contratou a Trail of Bits para revisar o SCP, resultando em recomendações que já foram implementadas.

Para investidores brasileiros, a segurança da rede se traduz em menor risco de perda de fundos e maior confiança dos reguladores ao autorizar parcerias bancárias.

Regulação e Conformidade no Brasil

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) incluiu o XRP e o XLM na lista de ativos passíveis de rastreamento em 2024, exigindo que exchanges forneçam relatórios de transações acima de R$5.000. Além disso, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ainda debate se o XRP pode ser classificado como security, enquanto o XLM é amplamente considerado utility token.

Essas nuances impactam diretamente a tributação: enquanto a Receita Federal trata os ganhos com XLM como ganho de capital, para XRP pode ser necessário declarar como renda de capital mobiliário, dependendo da classificação adotada.

Comparativo Direto

Critério Stellar (XLM) Ripple (XRP)
Fundação 2014 – SDF (organização sem fins lucrativos) 2012 – Ripple Labs (empresa privada)
Algoritmo de consenso SCP (FBA descentralizado) RPCA (FBA com UNL)
Velocidade média 3 s por transação 2,5 s por transação
Custos de taxa ≈ 0,00001 XLM (< R$0,001) ≈ 0,00001 XRP (< R$0,0003)
Suprimento total 45 biliões (sem inflação) 100 biliões (escrow controlado)
Descentralização Alta (quóruns de confiança abertos) Média (UNL controlado por entidades)
Ecossistema DeFi Robusto – SDEX, anchors, tokenização Limitado – foco em pagamentos B2B
Parcerias no Brasil IBM, Banco do Nordeste, fintechs regionais Banco do Brasil, Nubank, PIX Remessa
Compliance regulatório Classificado como utility Em debate – possível security

Como Escolher a Plataforma Ideal?

Para investidores iniciantes, a decisão pode ser guiada por três fatores principais:

  1. Objetivo de uso: Se o foco for criar stablecoins ou tokens personalizados, Stellar oferece ferramentas mais flexíveis. Para pagamentos B2B e liquidação de remessas, Ripple tem parcerias consolidadas.
  2. Risco regulatório: O XLM tende a enfrentar menos barreiras regulatórias no Brasil, enquanto o XRP pode ser alvo de classificações como security.
  3. Estrutura de custos: Ambas têm taxas quase nulas, mas o acesso a liquidez pode ser mais fácil no RippleNet, que já possui conexão direta com bancos.

Uma estratégia híbrida também é viável: usar Stellar para tokenização de ativos internos e Ripple para liquidação de pagamentos internacionais.

Passos Práticos para Começar

  1. Abra uma conta em uma exchange confiável que suporte XLM e XRP (ex.: Mercado Bitcoin, Binance Brasil).
  2. Transfira os fundos para uma carteira compatível – Ledger Nano X ou Trust Wallet – garantindo controle das chaves privadas.
  3. Teste uma transferência de pequeno valor (ex.: R$10) entre duas contas Stellar ou Ripple para validar velocidade e taxas.
  4. Se o objetivo for enviar remessa ao exterior, compare as cotações de conversão oferecidas por provedores que utilizam Stellar (ex.: Remessa Online) vs. Ripple (ex.: Pix Remessa).
  5. Registre todas as transações no seu extrato para fins de declaração à Receita Federal.

Desafios e Perspectivas Futuras

Ambas as redes enfrentam desafios críticos que podem influenciar sua adoção nos próximos anos:

  • Escala global: A competição com outras DLTs de alta performance, como Solana e Avalanche, pode exigir upgrades de protocolo.
  • Regulação: A definição clara da classificação de XRP pela CVM pode impactar seu preço e liquidez.
  • Integração com CBDCs: O Banco Central Brasileiro está desenvolvendo um Real Digital (BRD). Stellar já tem implementações piloto de CBDC, enquanto Ripple está negociando parceria para usar o XRPL como camada de liquidação.

Em síntese, Stellar e Ripple continuam sendo pilares fundamentais para o futuro dos pagamentos digitais no Brasil. A escolha entre um e outro dependerá do perfil de risco, da necessidade de customização e da estratégia de negócios.

Conclusão

Stellar e Ripple apresentam arquiteturas robustas, custos quase nulos e velocidades que rivalizam com os sistemas bancários tradicionais. Enquanto Stellar se destaca pela flexibilidade de tokenização e forte comunidade open‑source, Ripple oferece uma rede consolidada de parceiros financeiros e um modelo de negócios que facilita a adoção institucional.

Para o investidor brasileiro, a recomendação final é analisar o objetivo de uso: projetos DeFi, emissão de stablecoins ou tokens personalizados apontam para Stellar; pagamentos B2B, remessas internacionais e integração com grandes bancos favorecem Ripple. Em ambos os casos, a atenção à regulação local e à correta declaração tributária será decisiva para garantir segurança e rentabilidade.