Undercollateralized Lending em DeFi: O que é, como funciona e quais são os riscos?
Nos últimos anos, as Finanças Descentralizadas (DeFi) têm revolucionado a forma como indivíduos e instituições obtêm crédito. Enquanto a maioria dos protocolos de empréstimo tradicionalmente exige que o tomador deposite ativos como garantia (over‑collateralized lending), uma nova categoria vem ganhando destaque: o undercollateralized lending. Mas o que exatamente significa esse termo, como ele se aplica ao ecossistema DeFi e quais são as implicações para investidores e usuários?
1. Definição de Undercollateralized Lending
Em português, undercollateralized lending pode ser traduzido como “empréstimo sub‑colateralizado”. Diferente dos empréstimos sobre‑colateralizados, onde a garantia supera o valor emprestado (geralmente 150 % ou mais), o undercollateralized lending permite que o tomador receba um valor maior que a garantia oferecida, ou até mesmo nenhum colateral direto.
Esse modelo depende de mecanismos de avaliação de risco avançados, como pontuações de crédito on‑chain, reputação, contratos inteligentes que utilizam garantias externas (por exemplo, ativos do mundo real tokenizados) ou seguros descentralizados que cobrem possíveis inadimplências.
2. Por que o Under‑collateralizado está surgindo no DeFi?
O modelo tradicional tem duas limitações claras:
- Exige que usuários já possuam grandes quantidades de cripto‑ativos, excluindo quem tem bom histórico de crédito, mas pouco capital.
- Gera ineficiência de capital, já que ativos ficam “presos” como garantia.
Com o amadurecimento das infraestruturas DeFi, surgiram soluções que permitem avaliar o risco de forma mais granular, possibilitando empréstimos com menor colateral. Isso abre portas para:
- Empreendedores que precisam de capital rápido sem vender seus tokens.
- Usuários que desejam alavancar posições de investimento sem comprometer todo o seu portfólio.
- Instituições que podem usar ativos tokenizados como RWA (Real World Assets) como parte da garantia.
3. Como funciona na prática?
Um protocolo de undercollateralized lending geralmente segue os seguintes passos:

- On‑boarding do usuário: O tomador conecta sua carteira e passa por um processo de verificação de identidade (KYC/AML) opcional ou fornece dados de crédito on‑chain, como histórico de pagamentos em outros protocolos.
- Avaliação de risco: Algoritmos de scoring (por exemplo, credit scores) analisam transações passadas, reputação e, em alguns casos, informações de identidade real.
- Definição da taxa e limite: Com base no risco, o contrato inteligente determina a taxa de juros e o valor máximo que pode ser emprestado.
- Empréstimo e monitoramento: O valor é transferido ao tomador. O protocolo acompanha a saúde da posição em tempo real. Se o risco aumentar, pode acionar garantias adicionais ou liquidar ativos.
- Seguro descentralizado: Muitos projetos incorporam seguros (por exemplo, Nexus Mutual) para cobrir perdas inesperadas, reduzindo o risco para os provedores de liquidez.
Um exemplo real é o protocol Aave V3, que introduziu linhas de crédito de baixa colateralização usando credit delegation e risk tranching. Outro caso notável é o Guia Completo de Finanças Descentralizadas (DeFi), que explica como os empréstimos sub‑colateralizados se encaixam no ecossistema mais amplo.
4. Principais protocolos que oferecem Undercollateralized Lending
Embora ainda seja uma área emergente, alguns projetos já implementam esse modelo:
- Maple Finance: Focado em crédito institucional, permite empréstimos a empresas que apresentam garantias de fluxo de caixa tokenizado.
- TrueFi: Utiliza pontuações de crédito on‑chain e auditorias externas para conceder empréstimos com garantia parcial.
- Notional Finance: Oferece mercados de dívida onde o risco é distribuído entre diferentes tranches, permitindo que investidores escolham exposições mais agressivas.
5. Riscos e desafios
Apesar das vantagens, o undercollateralized lending traz novos tipos de risco:
- Risco de crédito: Sem colateral suficiente, a inadimplência pode gerar perdas para os provedores de liquidez.
- Modelos de scoring ainda imaturos: Algoritmos de crédito on‑chain ainda estão em fase de teste e podem ser manipulados.
- Dependência de seguros: Se o seguro descentralizado falhar ou ficar sub‑fundado, o protocolo pode ficar vulnerável.
- Regulação: Autoridades podem exigir compliance mais rigoroso para empréstimos que não exigem colateral, impactando a descentralização.
Portanto, investidores que fornecem liquidez a esses pools devem analisar cuidadosamente a estrutura de risco, a qualidade das garantias e a solidez dos contratos inteligentes.
6. Como participar como tomador ou provedor
Para tomadores:

- Conecte sua carteira a um protocolo que ofereça linhas de crédito sub‑colateralizadas.
- Complete o processo de avaliação de risco – forneça histórico de transações ou informações de identidade, se necessário.
- Revise as taxas de juros e os termos de pagamento antes de aceitar o empréstimo.
Para provedores de liquidez:
- Deposite ativos em pools de crédito que aceitam risco de inadimplência.
- Considere diversificar entre diferentes tranches de risco para equilibrar retorno e segurança.
- Acompanhe métricas de saúde do protocolo (ex.: taxa de inadimplência, cobertura de seguro).
7. Perspectivas para 2025 e além
Com a tokenização de ativos reais (RWA) ganhando força – como descrito no Guia Completo de Real World Assets (RWA) – espera‑se que o undercollateralized lending se torne ainda mais relevante. Ao combinar ativos do mundo real (imóveis, commodities) com avaliações de crédito on‑chain, os protocolos poderão oferecer linhas de crédito robustas a empresas e consumidores que antes dependiam de bancos tradicionais.
Além disso, a integração de identidade descentralizada (DID) e credenciais verificáveis pode melhorar a precisão dos scores de crédito, reduzindo o risco de inadimplência e atraindo maior volume de capital institucional.
Conclusão
O undercollateralized lending representa um passo significativo na evolução das DeFi, democratizando o acesso ao crédito ao reduzir a necessidade de grandes garantias. Contudo, como qualquer inovação financeira, traz desafios de risco, regulação e tecnologia que precisam ser gerenciados com cuidado. Para quem deseja participar – seja como tomador ou como provedor – a chave está em entender profundamente os mecanismos de avaliação de risco, escolher protocolos auditados e manter uma postura prudente de diversificação.
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