Como os detentores de tokens de segurança podem receber uma parte dos lucros
Nos últimos anos, os tokens de segurança (Security Tokens) surgiram como uma ponte entre o mercado financeiro tradicional e o universo das criptomoedas. Diferente dos tokens de utilidade, que dão acesso a serviços ou produtos, os tokens de segurança representam direitos reais sobre ativos financeiros – como ações, dividendos, juros ou participação nos lucros de um projeto. Neste artigo, vamos explorar em detalhes como os investidores podem receber rendimentos provenientes desses tokens, quais são os modelos mais comuns de distribuição e quais cuidados regulatórios e de risco devem ser observados.
1. O que são tokens de segurança?
Um token de segurança é um ativo digital emitido em blockchain que representa uma participação em um ativo real ou direito econômico. Ele combina a fungibilidade e a transparência das criptomoedas com a proteção legal dos títulos tradicionais. Em termos simples, ao comprar um token de segurança, o investidor adquire um direito semelhante ao de um acionista tradicional – como receber dividendos, juros ou parte dos lucros.
Para entender melhor, veja o guia completo da SEC sobre o assunto: SEC (U.S. Securities and Exchange Commission). Também recomendamos a leitura da definição da Investopedia: Investopedia – Security Token.
2. Como funciona a distribuição de lucros?
A principal vantagem dos tokens de segurança é a possibilidade de receber rendimentos de forma automática e quase em tempo real, graças à tecnologia de contratos inteligentes. Quando a empresa emissora gera lucro, o contrato inteligente pode ser programado para:
- Calcular a quota de cada detentor com base na quantidade de tokens que possui.
- Transferir a quantidade correspondente de stablecoins, criptomoedas ou mesmo fiat (via ponte) diretamente para a carteira do investidor.
- Registrar a operação na blockchain, garantindo transparência e auditabilidade.
Esse processo elimina intermediários, reduz custos operacionais e acelera o tempo de pagamento, algo que ainda não é comum em mercados tradicionais.
3. Modelos de compartilhamento de receita
Existem diferentes formas de estruturar a remuneração dos detentores de tokens de segurança. A escolha depende do tipo de ativo subjacente, da estratégia da empresa e da regulação aplicável.
3.1. Dividendos tradicionais
Semelhante ao que ocorre em ações, os dividendos são distribuídos periodicamente (mensal, trimestral ou anual) com base nos lucros da empresa. No contexto de tokens, o contrato inteligente executa o pagamento automaticamente. Exemplo: uma startup que tokeniza sua participação acionária pode optar por distribuir 30% do lucro líquido como dividendos aos token‑holders.

3.2. Participação nos lucros (Profit‑Sharing)
Alguns projetos preferem um modelo de profit‑sharing, em que parte dos ganhos operacionais – e não apenas do lucro líquido – é repassada aos detentores. Isso pode incluir receitas de royalties, taxas de uso de plataforma ou comissões de transação. O modelo é popular em projetos de Tokenização de Ativos: O Futuro dos Investimentos no Brasil, onde o token representa a participação nos fluxos de caixa de um imóvel ou de uma commodity tokenizada.
3.3. Staking de receita (Revenue‑Staking)
Em blockchains que utilizam Proof‑of‑Stake (PoS), o staking permite que os detentores bloqueiem seus tokens para validar transações e, em troca, recebam recompensas. Quando o token representa um ativo de segurança, parte dessas recompensas pode ser configurada como parte dos lucros da empresa emissora. Para entender como funciona o staking, consulte O que é Staking de Cripto? Guia Completo, Benefícios e Como Começar em 2025 e O que é Proof‑of‑Stake (PoS) e como funciona.
4. Aspectos regulatórios
Os tokens de segurança são tratados como valores mobiliários nas principais jurisdições. No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exige que emissores cumpram as mesmas obrigações de disclosure, registro e compliance das ofertas públicas tradicionais. Isso implica:
- Elaboração de prospecto ou memorando de oferta.
- Registro ou isenção de registro junto à CVM, dependendo do valor total captado.
- Obrigações de reporte periódico (balanços, demonstrações de resultados, etc.).
Além da CVM, a Autoridade Tributária (AT) exige que os rendimentos recebidos sejam declarados para fins de imposto de renda. Recomenda‑se a consulta a um especialista tributário para evitar surpresas.
5. Estratégias para investidores
Se você está considerando investir em tokens de segurança, siga estas boas práticas:
- Analise o prospecto: verifique a estrutura de distribuição de lucros, a periodicidade e as taxas.
- Confira a reputação do emissor: projetos com auditorias de segurança independentes e histórico de compliance tendem a ser menos arriscados.
- Entenda a mecânica do contrato inteligente: leia o código‑fonte (ou contrate um auditor) para garantir que não há backdoors ou falhas que impeçam o pagamento.
- Diversifique: assim como em ações, não concentre todo o capital em um único token de segurança.
- Monitore a regulação: mudanças nas leis podem afetar a elegibilidade dos tokens ou a forma de tributação.
6. Riscos e mitigação
Embora os tokens de segurança ofereçam benefícios claros, eles não são isentos de riscos:

- Risco de contrato inteligente: bugs podem impedir pagamentos ou causar perda de fundos. A solução é escolher projetos auditados.
- Risco regulatório: mudanças nas normas podem tornar a emissão ilegal ou exigir a recompra dos tokens.
- Liquidez: nem todos os tokens têm mercado secundário ativo. Avalie a existência de exchanges ou plataformas de negociação.
- Risco de crédito da empresa emissora: se a empresa falir, os detentores podem perder o direito aos lucros – assim como acionistas tradicionais.
Para mitigar esses riscos, recomenda‑se manter uma reserva de capital, usar wallets hardware (ex.: Ledger Nano X Review) e acompanhar notícias do setor, como as Regulação de criptomoedas na Europa.
7. Casos de uso no Brasil
Vários projetos brasileiros já adotaram o modelo de distribuição de lucros via tokens de segurança:
- Fundos imobiliários tokenizados: investidores recebem aluguéis mensais em stablecoins.
- Plataformas de energia renovável: créditos de energia são convertidos em tokens que pagam dividendos baseados na venda de energia.
- Startups de agronegócio: tokenizam a produção de soja ou café e repassam receitas de exportação aos token‑holders.
Esses exemplos demonstram como a tokenização pode democratizar o acesso a ativos antes restritos a investidores institucionais.
8. Conclusão
Os security tokens representam uma evolução significativa na forma como os investidores podem participar dos lucros de empresas e projetos. Ao combinar a transparência da blockchain com direitos econômicos reconhecidos legalmente, eles oferecem uma nova camada de eficiência e acessibilidade. Contudo, o sucesso desse modelo depende de uma estrutura contratual clara, de auditorias de segurança rigorosas e de uma observância constante das normas regulatórias.
Se você busca diversificar sua carteira, receber rendimentos passivos e aproveitar a inovação financeira, vale a pena estudar os projetos de tokenização de ativos, entender os mecanismos de staking e avaliar a solidez dos emissores. Lembre‑se sempre de conduzir due‑diligence aprofundada e de considerar o apoio de profissionais especializados.