Modelo Stock‑to‑Flow do Bitcoin: Guia Completo 2025
O Stock‑to‑Flow (S2F) tornou‑se um dos termos mais debatidos no universo das criptomoedas. Desde que o analista PlanB publicou seu primeiro artigo em 2019, o modelo tem sido usado tanto como ferramenta de previsão de preço quanto como objeto de crítica entre economistas e entusiastas. Neste artigo, vamos explorar a origem, a matemática, os resultados históricos e as controvérsias que cercam o S2F, tudo com foco no leitor brasileiro que está começando ou já possui algum conhecimento sobre Bitcoin.
Principais Pontos
- Entenda a definição de stock e flow no contexto do Bitcoin.
- Veja como o modelo S2F foi desenvolvido e quais são suas premissas.
- Analise a precisão das previsões feitas entre 2020 e 2024.
- Conheça as principais críticas e limitações do modelo.
- Aprenda como usar o S2F como complemento em sua estratégia de investimento.
O que é Stock‑to‑Flow?
O termo “stock‑to‑flow” vem da economia tradicional, onde stock representa o estoque total de um bem (por exemplo, ouro já extraído) e flow representa a produção anual desse bem (a quantidade extraída a cada ano). O ratio entre esses dois valores indica a escassez relativa: quanto maior o ratio, mais escasso é o ativo.
No caso do Bitcoin, o stock corresponde ao número total de bitcoins já minerados (circulação), enquanto o flow corresponde à quantidade de novos bitcoins criados a cada bloco (a recompensa de mineração). Como a recompensa halve‑s a cada 210.000 blocos (aproximadamente a cada quatro anos), o flow diminui ao longo do tempo, aumentando o stock‑to‑flow e, teoricamente, o valor do ativo.
Fórmula básica
Matematicamente, o S2F é calculado como:
Stock‑to‑Flow = Stock / Flow
Onde:
- Stock: número total de BTC em circulação (ex.: 19,3 milhões em 2025).
- Flow: novos BTC criados em um período de 12 meses (ex.: 0,9 milhão após o terceiro halving).
Ao dividir esses valores, obtém‑se um número que pode ser comparado com ativos como ouro (S2F ≈ 62) ou prata (S2F ≈ 22). O Bitcoin, com S2F acima de 90 em 2025, apresenta um grau de escassez ainda maior.
Como funciona o modelo S2F para prever preço?
PlanB propôs que o preço do Bitcoin segue uma relação de potência com o S2F:
Preço = a × (S2F)^b
Onde a e b são constantes ajustadas historicamente usando regressão linear em dados de preço e S2F. O modelo original (S2F‑Original) utilizou dados de 2010‑2019 e encontrou:
- a ≈ 3,5 × 10^3
- b ≈ 2,0
Com esses parâmetros, a curva projetada mostrava que, ao dobrar o S2F, o preço poderia quadruplicar. Essa relação simples gerou grande expectativa, pois o próximo halving (em 2024) aumentaria o S2F de cerca de 56 para 93, sugerindo um salto de preço significativo.
Versões do modelo
Desde a publicação original, surgiram duas variantes principais:
- S2F‑Original: usa a relação de potência direta.
- S2F‑Model 2 (ou S2F‑Revised): incorpora a taxa de crescimento da demanda (Stock‑to‑Flow‑Demand, ou S2F‑D) e ajusta a curva com um parâmetro de volatilidade.
Ambas as versões são amplamente citadas em análises brasileiras, como nos artigos Guia do Bitcoin para iniciantes e Análise do mercado cripto em 2025.
Histórico de previsões do S2F
Para avaliar a confiabilidade do modelo, vejamos alguns marcos importantes:
| Ano | S2F | Preço previsto (USD) | Preço real (USD) | Desvio |
|---|---|---|---|---|
| 2020 | 45 | ~8.000 | ~9.300 | +16% |
| 2021 | 50 | ~12.000 | ~47.000 | -74% |
| 2023 | 70 | ~30.000 | ~28.000 | +7% |
| 2024 (após halving) | 93 | ~90.000 | ~70.000 | +28% |
Embora algumas previsões tenham sido muito próximas (2020, 2023), a projeção para 2021 mostrou que o modelo não captura eventos macro‑econômicos como a corrida de compra institucional. Ainda assim, a tendência geral de alta acompanhou o aumento do S2F.
Críticas e limitações do modelo
O S2F não é unanimidade entre economistas. As principais objeções são:
- Assunção de demanda constante: o modelo supõe que a demanda por Bitcoin cresce proporcionalmente ao seu estoque, o que pode não ser verdade em períodos de regulação ou crise.
- Desconsidera fatores externos: eventos como bans governamentais, falhas de protocolos ou avanços tecnológicos (ex.: Lightning Network) não são incorporados.
- Dependência de regressão histórica: usar dados passados para prever o futuro pode gerar overfitting, sobretudo num mercado tão volátil.
- Volatilidade intrínseca: o modelo gera uma curva “smooth”, enquanto o preço do Bitcoin pode variar 30% em poucos dias.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) publicaram em 2023 um estudo que mostrou que, ao incluir o hashrate e a taxa de adoção de carteiras, a capacidade preditiva melhora em cerca de 12%.
Comparação com outros modelos
Outros métodos, como o Metcalfe’s Law (que relaciona preço ao número de endereços ativos) e o Modelo de Oferta‑Demanda (ODL), oferecem perspectivas diferentes. Muitos analistas brasileiros combinam S2F com Metcalfe para criar uma “linha de base” mais robusta.
Aplicações práticas para investidores brasileiros
Mesmo com suas limitações, o S2F pode ser útil como ferramenta complementar. Veja como integrá‑lo em sua estratégia:
- Defina o horizonte de investimento: o modelo é mais adequado para horizontes de médio a longo prazo (3‑5 anos).
- Use como referência de preço-alvo: compare o preço projetado com o preço atual para identificar possíveis “overbought” ou “oversold”.
- Combine com análise técnica: indicadores como RSI, MACD e médias móveis ajudam a validar pontos de entrada.
- Gestão de risco: nunca aloque mais de 10‑15% do portfólio em Bitcoin se você está usando apenas S2F como base.
- Acompanhe eventos regulatórios: notícias da CVM, do Banco Central e de tribunais podem gerar desvios temporários da curva.
Exemplo prático: em setembro de 2025, o S2F projetou um preço de US$ 78.000. Convertendo para reais (câmbio médio de R$5,30), o alvo seria R$ 413.400. Se o preço de mercado está em R$ 350.000, alguns analistas veem oportunidade de compra, desde que o risco regulatório seja mitigado.
Conclusão
O modelo Stock‑to‑Flow oferece uma visão clara sobre a escassez do Bitcoin e tem se mostrado, em parte, capaz de antecipar movimentos de preço a longo prazo. Contudo, ele não deve ser usado isoladamente. A combinação com análises de demanda, métricas de rede e fatores macroeconômicos aumenta a precisão das projeções.
Para o investidor brasileiro, entender o S2F é mais do que memorizar números; é compreender como a política monetária da própria rede Bitcoin influencia o valor de mercado. Use o modelo como um dos pilares de sua estratégia, mantendo sempre uma postura cautelosa e bem informada.