Scroll ZK Rollup: A Revolução do Escalamento Zero‑Knowledge no Ethereum
Nos últimos anos, a escalabilidade tem sido o principal desafio para blockchains públicas. O Scroll ZK Rollup surge como uma solução de camada 2 (Layer 2) que combina a eficiência dos rollups com a privacidade e a prova de validade zero‑knowledge (ZK). Neste artigo, vamos analisar em profundidade a arquitetura do Scroll, comparar com outras soluções ZK, entender suas implicações para desenvolvedores e investidores, e explorar como ele se encaixa no ecossistema Ethereum.
1. O que é um ZK Rollup?
Um ZK Rollup agrupa milhares de transações off‑chain e gera uma prove (prova) criptográfica que comprova a validade dessas transações. Essa prova é enviada à cadeia principal (Ethereum), onde é verificada por um contrato inteligente. As principais vantagens são:
- Alta taxa de transferência: dezenas de milhares de tx/s.
- Baixas taxas de gas: a prova ocupa apenas alguns kilobytes.
- Segurança de camada 1: a prova garante que nenhum estado inválido pode ser aceito.
- Privacidade opcional: usando técnicas ZK‑SNARK ou ZK‑STARK, partes das transações podem permanecer ocultas.
Para uma visão geral técnica, consulte a documentação oficial do Ethereum sobre ZK Rollups.
2. Por que o Scroll?
O Scroll foi concebido para ser um rollup “EVM‑compatible”, ou seja, mantém total compatibilidade com a Ethereum Virtual Machine. Isso significa que contratos Solidity existentes podem ser migrados para o Scroll sem alterações significativas, reduzindo barreiras de adoção.
Além da compatibilidade, o Scroll traz três inovações chave:
- Provas de validade otimizadas: utiliza uma variante de ZK‑SNARK chamada PLONK, que oferece geração de provas mais rápida e custos menores.
- Arquitetura modular: separa o sequencer (responsável por agrupar transações) do prover (gerador de provas), permitindo que provedores externos ofereçam serviços de prova competitivos.
- Modelo de governança descentralizada: o token
SCRL
confere direitos de voto sobre atualizações de protocolo, taxas e incentivos de segurança.
2.1 Compatibilidade EVM
Ao manter a mesma ABI e opcode da Ethereum, o Scroll elimina a necessidade de recompilar contratos. Ferramentas como Hardhat, Truffle e Remix funcionam “out‑of‑the‑box”. Essa abordagem contrasta com outras ZK‑rollups que exigem adaptações (ex.: zkSync Era, que ainda está migrando para Solidity completa).
2.2 Provas PLONK e o papel do ZKSync
O protocolo PLONK (Permutations over Lagrange‑Encoded Polynomials) permite criar provas de tamanho constante independentemente do número de transações. O Scroll aproveita bibliotecas open‑source como bellman
e halo2
para gerar provas em menos de 2 segundos, um marco importante para aplicações DeFi que exigem finalização quase instantânea.
3. Arquitetura Técnica do Scroll
A arquitetura pode ser dividida em quatro camadas principais:
- Sequencer: recebe txs dos usuários, as ordena e cria um bloco off‑chain.
- Data Availability (DA) Layer: armazena os dados das transações em um mecanismo de disponibilidade (ex.: Celestia ou EigenDA). A disponibilidade garante que qualquer validador possa reconstruir o estado.
- Prover: gera a prova ZK da validade do bloco.
- Verifier Contract (on‑chain): verifica a prova e atualiza o estado raiz na Ethereum.
Essa separação permite que diferentes participantes (sequencers, provedores de prova, serviços de DA) concorram, aumentando a resiliência da rede.

3.1 Segurança e EigenLayer
Um ponto crítico para rollups é a segurança da camada de disponibilidade de dados. O Scroll pode integrar EigenLayer, que permite restaking de ETH para garantir a disponibilidade dos dados. Essa abordagem cria um “economia de segurança” onde os provedores de dados são incentivados a agir honestamente, pois seus tokens ficam em risco.
3.2 Incentivos Econômicos
Os usuários pagam duas taxas:
- Taxa de L1: paga ao sequencer para publicar a prova e os dados na Ethereum.
- Taxa de L2 (Scroll): paga ao sequencer por inclusão no bloco.
Parte dessas taxas é queimada ou redistribuída ao detentor do token SCRL
, criando um modelo deflacionário que pode aumentar o valor do token ao longo do tempo.
4. Comparativo: Scroll vs. Outras Soluções ZK
Característica | Scroll | zkSync Era | Polygon zkEVM |
---|---|---|---|
Compatibilidade EVM | Completa (EVM‑compatible) | Parcial (em transição) | Completa |
Prova utilizada | PLONK | PLONK / Halo2 | PLONK |
Velocidade de geração de prova | ~2 s por bloco de 2 k tx | ~3 s | ~4 s |
Data Availability | Celestia / EigenDA | On‑chain (Ethereum) | Polygon Data Availability Layer |
Tokenomics | SCRL (governança + queima) | ETH (restaking) | MATIC (staking) |
O comparativo demonstra que o Scroll se destaca pela combinação de compatibilidade total com a EVM e provas rápidas, o que o torna particularmente atraente para projetos DeFi que já operam no Ethereum.
5. Casos de Uso Práticos
Vejamos três cenários onde o Scroll pode gerar valor significativo:
- DeFi de alta frequência: DEXs como Uniswap V3 podem migrar para o Scroll, reduzindo custos de swap em >95 % enquanto mantêm a mesma lógica de pool.
- Jogos NFT e Metaverso: Transações de mint e trade de NFTs exigem rapidez; o Scroll permite “mint‑and‑sell” quase instantâneo sem sacrificar a segurança.
- Privacidade de dados sensíveis: Aplicações de identidade digital podem esconder atributos pessoais usando provas ZK, beneficiando-se da camada de privacidade integrada ao Scroll.
Esses casos reforçam a importância de escolher um rollup que ofereça tanto escalabilidade quanto compatibilidade de contrato.
6. Guia de Implantação para Desenvolvedores
Para quem deseja migrar um contrato Solidity para o Scroll, siga os passos abaixo:
- Instalar o SDK do Scroll:
npm i @scroll-dev/sdk
. - Configurar a rede: No arquivo
hardhat.config.js
, adicione a redescroll
apontando para o RPC da testnet (https://scroll-testnet.io/rpc
). - Compilar e Deploy: Use
npx hardhat run scripts/deploy.js --network scroll
. O contrato será publicado na camada 2, e o SDK cuidará da publicação da prova. - Verificar o estado: O contrato de verificação on‑chain pode ser consultado via Etherscan da Scroll (link disponível na documentação).
Para aprofundar, veja o tutorial completo no site oficial do Scroll.

7. Riscos e Desafios
Embora promissor, o Scroll enfrenta desafios comuns a rollups ZK:
- Complexidade de prova: Gerar provas requer hardware especializado; provedores de prova podem se tornar pontos de centralização se não houver concorrência suficiente.
- Disponibilidade de dados: Caso o DA layer falhe, os usuários podem perder a capacidade de reconstruir o estado, gerando riscos de “data unavailability”.
- Regulação de privacidade: O uso de ZK pode atrair atenção regulatória em jurisdições que exigem transparência total das transações.
Uma estratégia prudente inclui diversificar provedores de prova e monitorar a saúde do DA layer.
8. Futuro do Scroll e do Ecossistema ZK Rollup
Nos próximos 12‑24 meses, esperamos que o Scroll lance a versão mainnet completa, introduza optimistic fraud proofs como camada de fallback e expanda seu programa de incentivos para desenvolvedores DeFi. A integração com EigenLayer pode transformar o modelo de segurança, permitindo que provedores de dados “restake” ETH, gerando uma camada extra de garantia econômica.
Além disso, a crescente adoção de Zero‑Knowledge Proofs em protocolos de identidade (ex.: Worldcoin) e finanças privadas (ex.: Tornado Cash) aumentará a demanda por rollups que já suportam ZK nativamente – posicionando o Scroll como uma escolha natural.
Conclusão
O Scroll ZK Rollup combina três pilares essenciais para o futuro do Ethereum: escalabilidade massiva, compatibilidade total com a EVM e privacidade baseada em provas de validade. Sua arquitetura modular, aliada a incentivos econômicos deflacionários e a possibilidade de integração com EigenLayer, oferece um caminho sólido para aplicações DeFi, NFTs e soluções de identidade que exigem alta velocidade e segurança.
Para quem já está familiarizado com o ecossistema Ethereum, o Scroll representa a evolução natural do desenvolvimento de contratos, reduzindo custos e mantendo a confiança herdada da camada base. Manter-se atento às atualizações de governança, ao desenvolvimento de provedores de prova e ao estado da camada de disponibilidade de dados será crucial para aproveitar ao máximo essa tecnologia emergente.
Se você quiser aprofundar ainda mais a segurança de camada 2, confira o artigo EigenLayer: O Que É, Como Funciona e Por Que Está Revolucionando a Segurança das Blockchains. Para entender como o restaking pode melhorar a disponibilidade de dados, leia Restaking explicado: tudo o que você precisa saber para maximizar seus rendimentos em PoS e DeFi.