Introdução
Nos últimos anos, o ecossistema DeFi (Finanças Descentralizadas) consolidou-se como uma das áreas mais inovadoras da blockchain. Entre as diversas aplicações, os plataformas de empréstimo ganharam destaque por permitir que usuários depositem cripto‑ativos e ganhem juros, ou tomem empréstimos sem a necessidade de bancos tradicionais. Neste artigo, vamos analisar em detalhes duas das maiores e mais seguras plataformas de empréstimo DeFi: Aave e Compound. O objetivo é oferecer um panorama técnico, prático e seguro para cripto‑entusiastas brasileiros, sejam iniciantes ou intermediários.
- Entenda o funcionamento básico de empréstimos DeFi.
- Conheça as diferenças entre Aave e Compound.
- Aprenda a calcular rendimentos e custos em Reais (R$).
- Descubra os principais riscos e como mitigá‑los.
- Veja estratégias de uso para quem está começando.
O que são plataformas de empréstimo DeFi?
Plataformas de empréstimo DeFi são protocolos inteligentes que conectam credores e tomadores de forma automatizada, usando contratos inteligentes executados em blockchains públicas como Ethereum, Polygon ou Avalanche. Elas dispensam intermediários, o que reduz custos e aumenta a rapidez das transações.
Os usuários podem:
- Fornecer liquidez (supply) depositando ativos e recebendo juros.
- Tomar empréstimos (borrow) usando ativos como garantia (collateral).
Os juros são determinados por algoritmos de oferta e demanda, e os contratos garantem que o colateral seja liquidado automaticamente caso o valor da garantia caia abaixo de um limite de segurança (a chamada liquidation threshold).
Aave: principais características
Arquitetura e Tokens
Aave foi lançada em 2020 e rapidamente se tornou referência por introduzir recursos inovadores como flash loans (empréstimos sem garantia que devem ser pagos na mesma transação) e taxas estáveis vs. variáveis. O protocolo opera com dois tokens principais:
- AAVE: token de governança, usado para votar propostas e participar da segurança do protocolo.
- aTokens: tokens representativos dos depósitos (por exemplo, aUSDC, aETH). Eles acumulam juros automaticamente, permitindo que o usuário veja seu saldo crescer sem necessidade de “claim”.
Como funciona o fornecimento de liquidez
Ao depositar USDC, por exemplo, o usuário recebe aUSDC. Cada aUSDC representa 1 USDC + juros acumulados. O cálculo dos juros é feito em tempo real, com base na taxa de utilização do pool. Em 20/11/2025, a taxa média anual de USDC na Aave v2 (Ethereum) está em torno de 4,3% ao ano, ou seja, aproximadamente R$0,43 de juros por R$100 depositados.
Empréstimos e colateral
Para tomar um empréstimo, o usuário bloqueia um colateral (ex.: ETH) e pode escolher entre taxa estável ou variável. A Loan‑to‑Value (LTV) máximo varia por ativo; por exemplo, ETH tem LTV de 80 % e liquidation threshold de 85 %. Se o preço do ETH cair abaixo do limite, o contrato executa a liquidação automática, vendendo parte do colateral para cobrir a dívida.
Flash Loans
Os flash loans são a proposta mais ousada da Aave. Eles permitem que desenvolvedores tomem arbitragem, liquidem posições ou executem estratégias complexas sem precisar de capital prévio, desde que o empréstimo seja devolvido na mesma transação. Essa funcionalidade gerou um ecossistema de ferramentas como guia DeFi e como funciona cripto, que detalham casos de uso práticos.
Compound: principais características
Arquitetura e Tokens
Compound, lançado em 2018, é um dos pioneiros do modelo de money market DeFi. Ele utiliza um modelo de cTokens (ex.: cUSDC, cETH) que representam a participação do usuário no pool e acumulam juros ao longo do tempo. Diferente da Aave, o Compound não possui taxa estável; todas as taxas são variáveis e calculadas por algoritmos de juros baseados na taxa de utilização.
Governança
O token de governança do Compound é o COMP. Detentores de COMP podem propor e votar mudanças no protocolo, incluindo ajustes de taxas e parâmetros de risco.
Como funciona o fornecimento de liquidez
Ao depositar USDC, o usuário recebe cUSDC. Cada cUSDC tem um índice que cresce com o tempo, refletindo os juros acumulados. Em novembro de 2025, a taxa anual média de USDC no Compound (Ethereum) está em torno de 3,9 % ao ano, ou seja, cerca de R$0,39 por R$100.
Empréstimos e colateral
Para tomar um empréstimo, o usuário fornece colateral (ex.: DAI) e pode solicitar até um LTV máximo definido por cada ativo. Por exemplo, DAI tem LTV de 75 % e liquidation threshold de 80 %. Caso o preço do colateral caia, o contrato liquida automaticamente a posição.
Diferenças chave entre Aave e Compound
- Taxas: Aave oferece taxa estável e flash loans; Compound tem apenas taxa variável.
- Tokens de representação: Aave usa aTokens que aumentam o saldo; Compound usa cTokens com índice de juros.
- Governança: Aave tem token AAVE; Compound tem COMP, com diferentes pesos de voto.
- Suporte a múltiplas cadeias: Aave já está em Polygon, Avalanche, Arbitrum, etc.; Compound ainda está focado principalmente em Ethereum, embora tenha expandido para outras L2.
Comparativo de custos e rendimentos
Para o investidor brasileiro, é essencial converter as taxas em Reais, considerando a cotação do dólar (R$5,30 em 20/11/2025). A tabela abaixo resume os custos típicos:
| Plataforma | Ativo | Taxa de juros (anual) | Taxa de serviço | Rendimento estimado (R$ por R$100) |
|---|---|---|---|---|
| Aave | USDC | 4,3 % | 0,3 % (taxa de reserva) | R$0,43 |
| Compound | USDC | 3,9 % | 0,2 % (taxa de reserva) | R$0,39 |
| Aave (Flash Loan) | Qualquer ativo | 0 % (se devolvido na mesma tx) | 0,09 % (taxa de 0,09 % do valor) | R$0,00 (custo de R$0,09 por R$100) |
Riscos associados a empréstimos DeFi
Risco de contrato inteligente
Embora os códigos sejam auditados, vulnerabilidades podem existir. Recomenda‑se usar plataformas com auditorias reconhecidas (Por exemplo, a Aave possui auditorias da ConsenSys Diligence e Trail of Bits).
Risco de liquidação
Se o colateral perder valor rapidamente, a posição pode ser liquidada, resultando em perda parcial ou total do ativo depositado. Estratégias de mitigação incluem:
- Manter margem de segurança (ex.: usar LTV de 50 % mesmo que o limite seja 80 %).
- Monitorar preços via oráculos confiáveis (Chainlink, Band).
Risco de taxa de rede
Em períodos de congestionamento, as taxas de gas podem subir para R$200 ou mais, tornando pequenas operações inviáveis. Utilizar L2s como Polygon ou Arbitrum reduz drasticamente esses custos.
Risco regulatório
No Brasil, a CVM ainda está avaliando como classificar serviços DeFi. Enquanto não houver clareza regulatória, os usuários devem estar cientes da possibilidade de futuras obrigações fiscais.
Estratégias para iniciantes
Passo a passo para começar a fornecer liquidez
- Crie uma carteira compatível (Metamask, Trust Wallet).
- Adquira USDC ou outro stablecoin em exchange confiável.
- Conecte a carteira ao site da Aave ou Compound.
- Selecione o pool desejado e confirme a transação.
- Acompanhe seus aTokens ou cTokens no dashboard da plataforma.
Como usar flash loans com segurança
Flash loans são indicados apenas para usuários com conhecimento avançado de programação Solidity ou que utilizem ferramentas já auditadas (ex.: scripts de arbitragem). O erro mais comum é não devolver o empréstimo na mesma transação, o que resulta em falha completa da operação.
Diversificação entre Aave e Compound
Para reduzir risco de contrato, muitos usuários alocam metade do capital em Aave e metade em Compound, aproveitando diferenças de taxa e segurança. Essa prática também permite comparar rendimentos em tempo real.
Principais Pontos
- Aave e Compound são os maiores protocolos de empréstimo DeFi, com bilhões de dólares em TVL.
- Aave oferece taxa estável, flash loans e múltiplas L2s; Compound foca em taxa variável e simplicidade.
- Rendimentos em USDC rondam 4 % ao ano (Aave) e 3,9 % (Compound), equivalentes a cerca de R$0,40 por R$100 investidos.
- Riscos incluem falhas de contrato, liquidação automática e altas taxas de gas.
- Estratégias recomendadas: usar margem de segurança, diversificar entre protocolos e monitorar oráculos.
Conclusão
As plataformas de empréstimo DeFi, como Aave e Compound, democratizam o acesso a crédito e renda passiva, eliminando intermediários e reduzindo custos. Para o usuário brasileiro, entender as nuances de cada protocolo – taxa de juros, colateral, mecanismos de liquidação e riscos – é crucial para tomar decisões informadas. Ao combinar conhecimento técnico, acompanhamento constante de métricas de mercado e boas práticas de segurança, é possível aproveitar ao máximo o potencial dessas soluções e integrar DeFi ao portfólio de investimentos de forma sustentável.