Como pegar dinheiro emprestado em DeFi: guia completo

Como pegar dinheiro emprestado em DeFi: guia completo

O universo das finanças descentralizadas (DeFi) tem revolucionado a forma como brasileiros acessam crédito. Diferente dos bancos tradicionais, as plataformas DeFi permitem que você tome dinheiro emprestado usando cripto‑ativos como garantia, tudo de forma automatizada, transparente e, muitas vezes, com taxas mais competitivas. Neste artigo, vamos explorar em detalhes como funciona o empréstimo em DeFi, quais são as principais plataformas disponíveis no Brasil, os riscos envolvidos e um passo‑a‑passo para você iniciar sua jornada.

Principais Pontos

  • DeFi permite empréstimos sem intermediários tradicionais.
  • Garantias são feitas com cripto‑ativos como ETH, BNB, USDC, etc.
  • Taxas de juros variam de acordo com a oferta e demanda de liquidez.
  • Riscos incluem volatilidade, falhas de contrato inteligente e questões regulatórias.
  • Plataformas populares no Brasil: Aave, Compound, MakerDAO, Liquity, e protocolos locais como DeFi Brasil.

O que é DeFi?

DeFi, abreviação de Decentralized Finance, refere‑se a um conjunto de protocolos financeiros construídos sobre blockchains públicas, sobretudo a Ethereum. Esses protocolos são executados por smart contracts, ou contratos inteligentes, que automatizam operações como empréstimos, trocas, seguros e rendimentos. O grande diferencial do DeFi é a ausência de intermediários centralizados – bancos, corretoras ou governos – o que reduz custos operacionais e abre acesso a usuários em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Para quem está começando, recomendamos a leitura do nosso artigo DeFi para iniciantes, que explica os conceitos básicos, como wallets, gas fees e segurança.

Como funciona o empréstimo em DeFi?

Em termos simples, o processo de empréstimo em DeFi segue três etapas principais:

  1. Depósito de garantia (collateral): Você envia cripto‑ativos para um pool de liquidez. Essa garantia protege o credor caso o valor da dívida não seja pago.
  2. Empréstimo: O protocolo libera um valor em stablecoins (USDC, DAI, USDT) ou outra criptomoeda, que pode ser usado como capital de giro, investimento ou pagamento de despesas.
  3. Reembolso: Você devolve o principal mais juros. Quando a dívida é quitada, sua garantia é devolvida.

Todo esse fluxo acontece de forma automática, sem necessidade de aprovação manual. O smart contract verifica, em tempo real, se a relação entre o valor da garantia e o valor emprestado (chamada loan‑to‑value, LTV) está dentro dos limites estabelecidos. Caso o preço da garantia caia abaixo de um determinado ponto, o contrato pode liquidar automaticamente a posição para proteger o credor.

Taxas de juros e LTV

As taxas de juros em DeFi são determinadas pelos mercados de oferta e demanda. Em plataformas como Aave ou Compound, os credores depositam fundos em pools de liquidez e recebem juros por disponibilizá‑los. Quando há alta demanda por empréstimos, as taxas sobem; quando há excesso de liquidez, as taxas caem.

O LTV típico varia entre 50 % e 80 %, dependendo do ativo usado como garantia. Por exemplo, ao usar USDC como colateral, você pode pegar até 80 % do valor depositado em DAI; já com ETH, o LTV costuma ser mais conservador, em torno de 60 % devido à maior volatilidade.

Principais plataformas de empréstimo DeFi no Brasil

Embora a maioria das soluções DeFi seja global, várias delas têm comunidades e integrações específicas para o mercado brasileiro. A seguir, apresentamos as mais relevantes:

Aave

Aave (pronuncia‑se “ah‑vê”) é um dos protocolos mais antigos e confiáveis. Oferece empréstimos em dezenas de ativos, incluindo stablecoins atreladas ao real (BRL‑stablecoins como MIR‑BRL, ainda em fase de testes). A taxa de juros variável é calculada em tempo real, e o usuário pode optar por juros fixos por períodos de 30 dias.

Compound

Compound funciona de maneira semelhante ao Aave, mas com um modelo de governança diferente. O COMP token, usado para votação, pode ser ganho como recompensa por prover liquidez. No Brasil, muitos usuários utilizam o Compound para transformar seus USDT ou USDC em renda passiva e, posteriormente, como fonte de empréstimo.

MakerDAO

MakerDAO permite a criação da stablecoin DAI, que pode ser utilizada como garantia para obter empréstimos em ETH ou outros ativos. O sistema de “Vaults” (anteriormente “CDPs”) é robusto, porém requer conhecimento avançado sobre parâmetros de colateralização e taxas de estabilidade.

Liquity

Liquity se destaca por oferecer empréstimos de até 75 % LTV em LUSD, uma stablecoin lastreada por ETH, sem taxas de juros (apenas uma taxa única de abertura). A liquidação é feita por um mecanismo de “trove” que incentiva a comunidade a manter a saúde do sistema.

Plataformas locais

No ecossistema brasileiro, projetos como DeFi Brasil e CryptoLoans BR têm adaptado protocolos internacionais para aceitar moedas fiduciárias como BRL via stablecoins emitidas por bancos parceiros. Essas soluções ainda são emergentes, mas oferecem a vantagem de integração com contas bancárias tradicionais.

Riscos associados aos empréstimos DeFi

Embora as oportunidades sejam atrativas, é fundamental entender os principais riscos antes de comprometer seus ativos:

  • Volatilidade de mercado: Uma queda brusca no preço da garantia pode levar à liquidação automática, resultando em perda parcial ou total do colateral.
  • Falhas de contrato inteligente: Bugs no código podem ser explorados por hackers, como aconteceu com o ataque ao PolyNetwork em 2021.
  • Risco de liquidez: Alguns pools podem não ter liquidez suficiente para atender a grandes saques, gerando atrasos ou slippage.
  • Regulação: No Brasil, a CVM e o Banco Central ainda estão definindo diretrizes para cripto‑ativos. Mudanças regulatórias podem impactar a operação de plataformas estrangeiras.
  • Taxas de gas: Em períodos de congestionamento da rede Ethereum, as taxas (gas fees) podem subir para R$ 50 ou mais, tornando pequenos empréstimos economicamente inviáveis.

Para mitigar esses riscos, recomendamos diversificar colaterais, usar protocolos auditados por empresas reconhecidas (OpenZeppelin, ConsenSys Diligence) e monitorar constantemente a relação LTV.

Passo a passo: como pegar seu primeiro empréstimo em DeFi

  1. Crie uma wallet compatível: Metamask, Trust Wallet ou a carteira nativa da Binance Smart Chain (BSC). Certifique‑se de guardar a seed phrase em local seguro.
  2. Adquira o ativo que será usado como colateral: Comprar ETH, USDC ou outros tokens em exchanges como Binance, Mercado Bitcoin ou exchanges descentralizadas (DEX) como Uniswap.
  3. Transfira o ativo para a sua wallet: Use a rede Ethereum (ERC‑20) ou BSC (BEP‑20) conforme a plataforma escolhida.
  4. Conecte a wallet ao protocolo DeFi: Acesse o site oficial da plataforma (ex.: aave.com) e clique em “Connect Wallet”.
  5. Deposite a garantia: Selecione o token, insira o valor e confirme a transação. Pague a taxa de gas (aproximadamente 0,005 ETH, que pode equivaler a R$ 150 em alta volatilidade).
  6. Escolha o empréstimo: Defina o token que deseja receber (USDC, DAI, etc.) e o prazo. O sistema mostrará a taxa de juros anual (APR) e o LTV máximo.
  7. Confirme o empréstimo: Assine a transação. O valor será creditado imediatamente na sua wallet.
  8. Gerencie a posição: Monitore o preço da garantia via ferramentas como CoinGecko ou Dune Analytics. Caso o LTV se aproxime do limite de liquidação, considere adicionar mais colateral ou pagar parte da dívida.
  9. Reembolso e retirada: Quando quiser encerrar, pague o principal + juros. Após a confirmação, retire sua garantia de volta para a wallet.

Todo o processo pode ser concluído em menos de 15 minutos, dependendo da velocidade da rede.

Comparativo: empréstimo DeFi vs. empréstimo bancário tradicional

Critério DeFi Banco Tradicional
Tempo de aprovação Instantâneo (minutos) 1‑30 dias
Garantia Cripto‑ativos (LTV 50‑80 %) Imóvel, veículo, renda comprovada
Taxa de juros Variável, de 2 % a 15 % a.a. De 12 % a 30 % a.a.
Taxas adicionais Gas fee (R$ 0‑200) Tarifa de abertura, manutenção, IOF
Privacidade Endereço de wallet, sem KYC (em alguns protocolos) Necessita documentos, análise de crédito
Risco de liquidação Alto (volatilidade) Baixo (garantia física)

Como se pode observar, o DeFi oferece rapidez e menores custos, porém exige conhecimento técnico e tolerância ao risco de volatilidade.

Perguntas Frequentes (FAQ)

É seguro deixar meus cripto‑ativos como garantia?
Sim, desde que você escolha protocolos auditados e mantenha a relação LTV abaixo do limite de liquidação. Sempre diversifique.
Preciso fazer KYC para usar plataformas DeFi?
A maioria dos protocolos não exige KYC, mas algumas plataformas brasileiras que conectam a contas bancárias podem solicitar identificação para cumprir regulações locais.
Qual a diferença entre juros fixos e variáveis?
Juros fixos são definidos no momento da contratação e não mudam durante o prazo. Juros variáveis acompanham a demanda de liquidez do pool e podem subir ou descer.

Conclusão

Os empréstimos DeFi representam uma alternativa inovadora e acessível para quem busca crédito rápido, sem burocracia bancária. Ao entender os mecanismos de colateralização, as taxas de juros e os riscos associados, você pode aproveitar as vantagens de taxas mais baixas e maior flexibilidade. Contudo, lembre‑se de que o mercado cripto ainda está em fase de amadurecimento e a volatilidade pode impactar significativamente sua posição.

Se você está pronto para experimentar, siga o passo a passo detalhado acima, escolha uma plataforma confiável e monitore constantemente sua garantia. Assim, você maximiza os benefícios do DeFi enquanto minimiza os riscos. Boa jornada e bons empréstimos!