Padrões de tokens NFT (ERC-721, ERC-1155): Guia Completo para Desenvolvedores e Investidores em 2025

Padrões de tokens NFT (ERC-721, ERC-1155): Guia Completo para Desenvolvedores e Investidores em 2025

Os tokens não-fungíveis (NFTs) revolucionaram a forma como criamos, negociamos e valorizamos ativos digitais. Por trás dessa revolução estão dois padrões fundamentais da Ethereum: ERC-721 e ERC-1155. Neste artigo, vamos explorar detalhadamente as especificações técnicas, casos de uso, vantagens e desvantagens de cada padrão, além de apresentar boas práticas de implementação e integração com outras camadas do ecossistema Web3.

1. Contextualizando os NFTs no ecossistema Ethereum

Antes de mergulhar nos padrões, vale entender por que a Ethereum se tornou a espinha dorsal dos NFTs. A capacidade de criar contratos inteligentes permite que desenvolvedores definam regras de propriedade, transferência e royalties de forma programática e imutável. Essa flexibilidade deu origem a uma variedade enorme de aplicações: arte digital, colecionáveis, jogos Play‑to‑Earn, identidade digital e até tokenização de ativos do mundo real.

Para quem ainda não conhece, recomendamos a leitura do artigo O que são NFTs? Guia Completo e Atualizado 2025, que oferece uma base sólida sobre o conceito de token não‑fungível.

2. ERC‑721: O pioneiro dos NFTs

2.1. Definição e principais características

O ERC‑721 foi proposto em 2018 por William Entriken e outros desenvolvedores da comunidade Ethereum. Ele define um conjunto de funções básicas que permitem a criação de tokens únicos, cada um com um identificador (ID) exclusivo.

  • Unicidade: cada token tem um ID que não se repete.
  • Propriedade individual: o proprietário de um token pode ser consultado via ownerOf(tokenId).
  • Transferência segura: a função safeTransferFrom garante que o destinatário seja capaz de receber NFTs, evitando perda de ativos.
  • Metadados externos: o padrão inclui o método tokenURI(tokenId), que aponta para um recurso JSON contendo metadados (nome, descrição, URL da imagem, atributos, etc.).

2.2. Vantagens do ERC‑721

  1. Simplicidade de implementação: para projetos que exigem apenas um tipo de ativo único, o ERC‑721 é direto e fácil de auditar.
  2. Amplo suporte de wallets e marketplaces: a maioria das plataformas (OpenSea, Rarible, etc.) reconhece nativamente o ERC‑721.
  3. Compatibilidade com padrões de royalties: extensões como EIP‑2981 podem ser adicionadas sem grandes alterações.

2.3. Limitações do ERC‑721

  • Custos de gas elevados: cada token é armazenado separadamente, o que aumenta o consumo de gas em operações de mint e transferência.
  • Escalabilidade limitada para coleções massivas: projetos com milhões de NFTs (ex.: jogos com itens abundantes) podem sofrer com a sobrecarga de chamadas individuais.

3. ERC‑1155: O padrão multi‑token que unifica fungíveis e não‑fungíveis

3.1. Origem e objetivo

Proposto por Enjin em 2019, o ERC‑1155 nasceu da necessidade de reduzir custos de gas e simplificar a lógica de contratos que lidam com diferentes tipos de ativos simultaneamente. Ele permite que um único contrato gerencie múltiplos IDs, que podem representar tokens fungíveis (como moedas), semi‑fungíveis (como itens de jogo que mudam de estado) ou NFTs.

3.2. Principais inovações

  • Batch operations: funções safeBatchTransferFrom e mintBatch possibilitam transferir ou criar vários tokens em uma única transação, economizando gas.
  • Balance por ID: o método balanceOf(address, id) devolve a quantidade de um determinado ID que um endereço possui, permitindo que um mesmo ID seja fungível ou não‑fungível.
  • Metadados flexíveis: o padrão recomenda a utilização de um URI base que concatena o ID, facilitando a indexação de milhares de itens.

3.3. Quando escolher ERC‑1155?

O ERC‑1155 é ideal para:

Padrões de tokens NFT (ERC-721, ERC-1155) - 1155 ideal
Fonte: Tengis Narankhuu via Unsplash
  1. Games e Metaversos: itens como armas, skins, recursos e colecionáveis podem ser representados por diferentes IDs dentro do mesmo contrato.
  2. Plataformas de tokenização de ativos reais: um contrato pode gerenciar tanto frações de um imóvel (fungíveis) quanto certificados de propriedade únicos (não‑fungíveis).
  3. Projetos que buscam otimização de custos: a economia de gas pode chegar a até 90% em operações batch comparado ao ERC‑721.

3.4. Desafios e considerações

  • Complexidade de auditoria: a flexibilidade traz consigo uma superfície de ataque maior; é essencial usar bibliotecas bem testadas como as da OpenZeppelin.
  • Integração de marketplaces: embora a maioria já suporte ERC‑1155, alguns ainda exigem adaptações para exibir corretamente NFTs individuais.

4. Comparativo técnico entre ERC‑721 e ERC‑1155

Característica ERC‑721 ERC‑1155
Tipo de token Unicamente NFT Fungível, semi‑fungível e NFT
Operação padrão Transfer única Batch transfer (múltiplos IDs)
Gas por mint Alto (um contrato por token) Baixo (vários tokens por contrato)
Complexidade de código Baixa a moderada Moderada a alta
Suporte de wallets Universal Amplamente suportado, mas ainda em adoção

5. Boas práticas de desenvolvimento

5.1. Use bibliotecas auditadas

Never reinvent the wheel. OpenZeppelin oferece implementações seguras e atualizadas de ERC‑721 (ERC721.sol) e ERC‑1155 (ERC1155.sol). Elas já incluem proteções contra re‑entrancy, overflow e outros vetores de ataque.

5.2. Metadados off‑chain e IPFS

Armazene imagens, vídeos e JSON de metadados em IPFS ou Arweave para garantir imutabilidade e resistência à censura. Use tokenURI (ERC‑721) ou uri(id) (ERC‑1155) apontando para um CID (Content Identifier) permanente.

5.3. Implementação de royalties

Adote o EIP‑2981 para que marketplaces possam recolher automaticamente uma porcentagem nas revendas. Essa funcionalidade é compatível tanto com ERC‑721 quanto com ERC‑1155.

5.4. Testes automatizados e auditoria externa

Execute testes unitários com Hardhat ou Foundry, cobrindo cenários de mint, burn, transferência batch e falhas de permissão. Depois, contrate auditorias de segurança de empresas reconhecidas (Trail of Bits, ConsenSys Diligence, etc.).

6. Casos de uso reais no Brasil e no mundo

  • Arte digital: plataformas como SuperRare e Foundation utilizam ERC‑721 para garantir exclusividade.
  • Jogos Play‑to‑Earn: Axie Infinity migrou parte de seus ativos para ERC‑1155, reduzindo custos de gas nas batalhas.
  • Tokenização de imóveis: projetos de Real World Assets (RWA) combinam ERC‑1155 para frações fungíveis e ERC‑721 para certificados de propriedade únicos.

Para aprofundar o tema de tokenização de ativos, confira o artigo Tokenização de Ativos: O Futuro dos Investimentos no Brasil.

Padrões de tokens NFT (ERC-721, ERC-1155) - asset tokenization
Fonte: rc.xyz NFT gallery via Unsplash

7. Futuro dos padrões NFT

Os padrões atuais continuam evoluindo. Propostas como EIP‑4906 (eventos de atualização de metadados) e EIP‑2535 (Diamond Standard) prometem melhorar a modularidade e a governança de contratos NFT.

Além disso, a chegada de Layer‑2 solutions (Optimism, Arbitrum, zkSync) traz novas oportunidades de mint barato e alta escalabilidade, especialmente para coleções massivas baseadas em ERC‑1155.

8. Conclusão

Escolher entre ERC‑721 e ERC‑1155 não é uma questão de “melhor ou pior”, mas de adequação ao caso de uso. Se o objetivo é criar uma coleção exclusiva de arte digital com poucos milhares de itens, o ERC‑721 oferece simplicidade e ampla aceitação. Se, por outro lado, você está desenvolvendo um jogo, um marketplace de itens ou uma plataforma de tokenização de ativos que exigirá milhares ou milhões de tokens diferentes, o ERC‑1155 traz economia de gas, flexibilidade e escalabilidade.

Independentemente da escolha, siga as boas práticas de segurança, utilize bibliotecas auditadas e mantenha os metadados em armazenamento descentralizado. Assim, você garante que seus NFTs sejam duradouros, interoperáveis e prontos para o futuro da Web3.

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