O padrão para múltiplos tipos de tokens (fungíveis e não fungíveis) num único contrato: tudo que você precisa saber

Introdução

Nos últimos anos, a evolução dos padrões de tokens trouxe uma grande flexibilidade para desenvolvedores e projetos blockchain. O ERC‑1155 emergiu como a solução ideal para gerenciar, em um único contrato inteligente, tanto tokens fungíveis (FTs) quanto não‑fungíveis (NFTs). Neste artigo, vamos explorar a arquitetura desse padrão, suas vantagens, casos de uso e boas práticas de implementação.

Por que usar um contrato único?

Tradicionalmente, projetos criavam contratos separados para cada tipo de token: ERC‑20 para moedas fungíveis e ERC‑721 para NFTs. Essa abordagem gera:

  • Maior custo de implantação (cada contrato tem seu próprio bytecode).
  • Complexidade na gestão de permissões e royalties.
  • Experiência de usuário fragmentada, exigindo múltiplas interações.

O ERC‑1155 resolve esses problemas ao permitir que múltiplos IDs representem diferentes ativos dentro do mesmo contrato, reduzindo drasticamente o consumo de gás e simplificando a lógica de negócios.

Como funciona o ERC‑1155?

O padrão introduz duas funções principais:

  • balanceOf(address account, uint256 id) – consulta o saldo de um token específico.
  • safeBatchTransferFrom(address from, address to, uint256[] ids, uint256[] amounts, bytes data) – permite transferir vários tipos de token em uma única chamada.

Além disso, o ERC‑1155 suporta metadados por ID, facilitando a integração com marketplaces e wallets.

Casos de uso reais

Vários projetos já adotaram o padrão para criar ecossistemas híbridos. Alguns exemplos incluem:

  • Jogos que combinam moedas internas (FT) com itens exclusivos (NFT).
  • Plataformas de arte que vendem coleções limitadas e cópias impressas em massa.
  • Protocolos DeFi que emitem tokens de liquidez (fungíveis) e certificados de participação (não fungíveis).

Implementação segura

Para garantir a segurança do seu contrato ERC‑1155, siga estas boas práticas:

  1. Utilize bibliotecas auditadas, como as fornecidas pela OpenZeppelin Contracts.
  2. Implemente controle de acesso granulado (ex.: onlyOwner ou AccessControl).
  3. Teste extensivamente as funções de batch, pois erros podem afetar múltiplos tokens simultaneamente.
  4. Adote o padrão de ERC‑1155 na Ethereum.org para garantir compatibilidade com wallets e marketplaces.

Integração com governança e NFTs

Se o seu projeto também lida com Tokens de governança, o ERC‑1155 permite que você crie um token de voto (fungível) ao lado de NFTs de identidade (Soulbound Tokens) em um único contrato, simplificando a arquitetura de DAOs.

Para criadores de conteúdo, como músicos, a combinação de tokens de acesso (fungíveis) e NFTs de obra única pode ser feita de forma elegante usando o mesmo contrato, como demonstra o artigo NFTs para músicos.

Desafios e considerações futuras

Embora o ERC‑1155 ofereça muitos benefícios, alguns desafios ainda precisam ser monitorados:

  • Compatibilidade com wallets que ainda não suportam batch transfers.
  • Gerenciamento de royalties em escala, especialmente quando múltiplos NFTs são vendidos em lote.
  • O risco de bugs em lógica de batch que podem afetar grandes volumes de ativos.

À medida que a arquitetura da blockchain evolui, espera‑se que padrões como o ERC‑1155 se tornem ainda mais integrados com soluções de camada 2 e módulos de identidade descentralizada.

Conclusão

O padrão ERC‑1155 representa um marco na padronização de tokens múltiplos, oferecendo economia de gás, simplicidade de gerenciamento e flexibilidade para criar experiências híbridas que combinam fungíveis e não fungíveis. Ao adotar bibliotecas seguras, seguir boas práticas de desenvolvimento e integrar-se a ecossistemas de governança, desenvolvedores podem desbloquear novas oportunidades de valor para usuários e criadores.