O que são os Subgraphs?
Nos últimos anos, a explosão de aplicativos descentralizados (dApps) trouxe à tona a necessidade de acessar dados blockchain de forma rápida e eficiente. Enquanto as blockchains são excelentes para garantir segurança e imutabilidade, elas não foram projetadas para consultas complexas ou para servir grandes volumes de dados a aplicações em tempo real. É aqui que entram os subgraphs, a espinha dorsal da camada de indexação do protocolo The Graph. Neste artigo, vamos mergulhar fundo no conceito, na arquitetura, nos casos de uso e nas melhores práticas para desenvolvedores que desejam aproveitar todo o potencial dos subgraphs.
1. Por que precisamos de subgraphs?
Imagine que você deseja construir um dApp que exibe o histórico de transações de um token ERC‑20 específico, filtra por endereço e calcula o volume total negociado nas últimas 24 horas. Se você tentar fazer isso diretamente na blockchain, precisará percorrer milhares de blocos, analisar cada transação e montar a lógica de filtragem no seu próprio backend. Esse processo é custoso, lento e consome muita largura de banda.
Os subgraphs resolvem esse problema ao criar camadas de indexação que transformam os dados brutos da blockchain em um formato pronto para consulta usando GraphQL. Assim, os desenvolvedores podem obter respostas em milissegundos, sem precisar operar nós completos ou manter bancos de dados complexos.
2. Como funciona o The Graph?
O The Graph funciona como um motor de busca para blockchains. Ele consiste em três componentes principais:
- Subgraph Manifest (arquivo YAML): descreve quais contratos serão monitorados, quais eventos devem ser capturados e como os dados serão transformados.
- Mappings (arquivo AssemblyScript): funções que recebem eventos da blockchain e os convertem em entidades que serão armazenadas no Graph Node.
- Graph Node: infraestrutura que indexa, armazena e responde a consultas GraphQL.
Quando um desenvolvedor publica um subgraph, ele o registra no The Graph Explorer, onde outros aplicativos podem consultá‑lo via endpoint GraphQL.
3. Estrutura de um Subgraph
Um subgraph típico contém os seguintes arquivos:

subgraph.yaml: define os data sources (contratos), os event handlers e as entities que serão criadas.schema.graphql: especifica o modelo de dados (tipos GraphQL) que será exposto ao consumidor.src/mapping.ts: contém a lógica de transformação usando AssemblyScript (uma variante de TypeScript).
Exemplo simplificado de subgraph.yaml:
specVersion: 0.0.2
name: token-transactions
source:
address: "0x1234..."
abi: ERC20
startBlock: 12000000
mapping:
kind: ethereum/events
apiVersion: 0.0.4
language: wasm/assemblyscript
entities:
- Transfer
abis:
- name: ERC20
file: ./abis/ERC20.json
eventHandlers:
- event: Transfer(indexed address,indexed address,uint256)
handler: handleTransfer
Este manifest indica que o subgraph vai escutar o evento Transfer de um contrato ERC‑20 e chamar a função handleTransfer para criar ou atualizar a entidade Transfer no banco de dados do Graph Node.
4. Benefícios dos Subgraphs
- Performance: consultas GraphQL retornam dados em milissegundos, independentemente do tamanho da blockchain.
- Escalabilidade: o próprio protocolo distribui a carga entre vários nós indexadores, permitindo que milhares de dApps consultem simultaneamente.
- Descentralização: qualquer pessoa pode operar um indexador, contribuindo para a resiliência da camada de dados.
- Facilidade de desenvolvimento: desenvolvedores podem focar na lógica de negócios, sem se preocupar com a complexidade de leitura de blocos.
5. Casos de Uso Reais
Os subgraphs já são parte integrante de muitas aplicações populares:
- Exploradores de NFTs: plataformas como OpenSea utilizam subgraphs para listar coleções, filtrar por criador e exibir histórico de vendas.
- DeFi Dashboards: dashboards como DeFi.lol consultam subgraphs para exibir liquidez, volume e métricas de protocolos como Uniswap e Aave.
- Governança on‑chain: aplicações de votação usam subgraphs para agregar propostas, votos e resultados em tempo real.
Esses exemplos demonstram como a camada de indexação elimina gargalos de performance e permite experiências de usuário fluídas.
6. Como criar o seu primeiro Subgraph
Segue um passo‑a‑passo básico para quem deseja começar:
- Instalar o CLI do The Graph:
npm install -g @graphprotocol/graph-cli. - Inicializar o projeto:
graph init --from-contract <ENDEREÇO> <NOME_DO_SUBGRAPH>. O CLI gera a estrutura de arquivos padrão. - Definir o schema em
schema.graphqlcom os tipos que seu dApp precisará. - Implementar os mappings em AssemblyScript, transformando eventos em entidades.
- Testar localmente usando
graph testegraph codegen. - Publicar no The Graph Hosted Service ou no The Graph Decentralized Network (GRT).
Para quem ainda está se familiarizando com o ecossistema Web3, recomendamos a leitura do artigo O que é Web3? Guia Completo, Tecnologias e Perspectivas para 2025, que oferece uma visão abrangente das camadas que compõem a internet descentralizada.

7. Boas práticas e armadilhas comuns
- Limitar o escopo: evite indexar todos os eventos de um contrato grande. Selecione apenas aqueles realmente necessários.
- Gerenciar o tamanho das entidades: campos desnecessários aumentam o custo de armazenamento e a latência das consultas.
- Versionamento do schema: ao mudar o modelo de dados, crie uma nova versão do subgraph em vez de sobrescrever o antigo.
- Monitorar o índice de bloqueio: se o seu subgraph ficar muito atrás da head da blockchain, pode indicar problemas de performance nos mappings.
Outra prática essencial é integrar o seu subgraph com APIs de identidade descentralizada, como Identidade Descentralizada (DID), garantindo que consultas sensíveis respeitem permissões de usuário.
8. Subgraphs e a camada de oráculos
Embora o The Graph seja focado em indexação, ele pode ser complementado por oráculos como Chainlink (LINK) para trazer dados off‑chain ao seu dApp. Por exemplo, um subgraph pode armazenar preços históricos de um token, enquanto o Chainlink fornece o preço atual de mercado. Essa combinação cria pipelines de dados robustos e confiáveis.
9. Futuro dos Subgraphs
Com a migração gradual do The Graph Hosted Service para a rede descentralizada baseada no token GRT, espera‑se que a comunidade contribua com mais indexadores, aumentando a resiliência e a descentralização da camada de dados. Além disso, novas funcionalidades como dynamic data sources permitirão que um subgraph crie novos data sources em tempo de execução, ampliando ainda mais a flexibilidade.
10. Conclusão
Os subgraphs são a solução definitiva para o problema de consulta de dados em blockchains. Eles permitem que desenvolvedores criem dApps rápidos, escaláveis e fáceis de manter, ao mesmo tempo em que preservam a segurança e a descentralização inerentes às redes como Ethereum. Se você ainda não explorou o The Graph, agora é o momento ideal: comece com a documentação oficial, siga as boas práticas descritas aqui e aproveite a riqueza de dados que os subgraphs podem oferecer.
Para aprofundar ainda mais seu conhecimento sobre o ecossistema blockchain, confira também o artigo Como funciona o Ethereum: Guia completo para entender a blockchain, contratos inteligentes e seu ecossistema, que complementa a visão técnica apresentada nesta página.