Desde a criação do Bitcoin em 2009, sua tecnologia tem evoluído de forma surpreendente, mas a base que permite que cada transação seja válida permanece a mesma: o script. Se você já se perguntou “O que são os “scripts” do Bitcoin” e como eles funcionam, este artigo vai explicar tudo em detalhes, de forma clara e aprofundada.
1. Conceito básico: o que é o script do Bitcoin?
O script do Bitcoin é uma linguagem de programação de pilha (stack‑based) projetada especificamente para validar transações. Diferente de linguagens como JavaScript ou Python, o script não serve para criar aplicações complexas; seu objetivo principal é definir as condições sob as quais um output (saída) pode ser gasto.
Em termos simples, ao criar uma transação, você define duas partes principais:
- scriptPubKey – o script que fica armazenado na saída (UTXO) e descreve quem pode gastá‑la.
- scriptSig – o script que o gastador fornece ao tentar consumir aquela saída, provando que ele satisfaz as condições do scriptPubKey.
Quando a rede recebe a transação, ela combina ambos os scripts e executa a sequência resultante. Se o script final retornar true, a transação é aceita; caso contrário, ela é rejeitada.
2. Operadores e tipos de dados
O script do Bitcoin possui um conjunto limitado de opcodes (códigos de operação). Alguns dos mais relevantes são:
OP_DUP– duplica o valor do topo da pilha.OP_HASH160– aplica SHA‑256 e depois RIPEMD‑160 ao item do topo.OP_EQUALVERIFY– compara os dois itens do topo e falha se não forem iguais.OP_CHECKSIG– verifica uma assinatura digital usando a chave pública fornecida.
Esses operadores permitem criar scripts simples, como o padrão Pay‑to‑PubKeyHash (P2PKH), e também scripts mais avançados, como Pay‑to‑Script‑Hash (P2SH) ou Taproot (introduzido com o upgrade Taproot em 2021).
3. Scripts mais comuns no ecossistema Bitcoin
3.1. Pay‑to‑PubKeyHash (P2PKH)
É o script tradicional que ainda domina a maioria das transações. O scriptPubKey tem a forma:
OP_DUP OP_HASH160 <hash da chave pública> OP_EQUALVERIFY OP_CHECKSIG
Para gastá‑lo, o scriptSig deve conter a assinatura e a chave pública correspondente.

3.2. Pay‑to‑Script‑Hash (P2SH)
Introduzido em 2012, o P2SH permite que condições mais complexas sejam encapsuladas em um hash. O scriptPubKey contém apenas o hash de um script arbitrário:
OP_HASH160 <hash do script> OP_EQUAL
Quando o output é gasto, o scriptSig fornece o script completo (por exemplo, um multisig) seguido das assinaturas necessárias. Essa abordagem simplifica a experiência do usuário e abre caminho para contratos mais sofisticados.
3.3. Pay‑to‑Taproot (P2TR)
O upgrade Taproot, ativado em novembro de 2021, trouxe a possibilidade de combinar assinaturas simples (chave única) com scripts complexos de forma privada. O scriptPubKey em P2TR é compacto:
OP_1 <X‑only public key ou Merkle root>
Se a transação usar apenas a chave única, nenhum detalhe do script é revelado na blockchain, melhorando a privacidade e reduzindo o tamanho da transação.
4. Por que os scripts são importantes para a segurança?
Os scripts definem exatamente quem tem o direito de movimentar fundos. Quando implementados corretamente, eles impedem ataques como “double‑spend” ou gastos não autorizados. Além disso, a limitação proposital do conjunto de opcodes (por exemplo, a ausência de loops) evita que scripts se tornem vulneráveis a ataques de negação de serviço (DoS) que poderiam sobrecarregar nós da rede.
Para entender melhor a relação entre scripts e o consenso da rede, vale a pena revisar o funcionamento do Proof‑of‑Work (PoW), pois a validação de blocos depende diretamente da correta execução dos scripts de transação.
5. Scripts avançados e casos de uso reais
Embora a maioria das transações cotidianas use P2PKH ou P2SH, desenvolvedores estão explorando recursos avançados:
- Multisig (M‑de‑N) – requer múltiplas assinaturas para gastar um output, ideal para carteiras corporativas ou de custódia.
- Time‑locked scripts – permitem que fundos sejam desbloqueados somente após uma data ou bloco específico (usando
OP_CHECKLOCKTIMEVERIFYouOP_CHECKSEQUENCEVERIFY). - Escrow e contratos condicionais – combinam multisig e time‑locks para criar acordos de confiança sem intermediários.
Esses recursos são a base de aplicações DeFi em Bitcoin, como Blockstream Green e projetos como Lightning Network, que utilizam scripts HTLC (Hashed Time‑Lock Contract) para garantir pagamentos off‑chain seguros.

6. Como criar e analisar scripts?
Para desenvolvedores, a biblioteca bitcoin‑core oferece funções em C++ para montar e interpretar scripts. Ferramentas online como Blockchain.com Explorer permitem visualizar o scriptPubKey de qualquer transação.
Exemplo rápido em bitcoin-cli:
bitcoin-cli decoderawtransaction <hex da transação>
O comando devolve os scripts em formato legível, facilitando auditorias e debugging.
7. Futuro dos scripts no Bitcoin
Com a adoção crescente do Taproot, espera‑se que a maioria das transações migre para P2TR, reduzindo custos e aumentando a privacidade. No entanto, o conjunto de opcodes permanecerá deliberadamente estável para garantir a segurança da rede. Qualquer mudança futura exigirá consenso amplo e será acompanhada de rigorosos processos de revisão.
Para quem deseja aprofundar ainda mais, recomendamos ler o artigo Litecoin vs Bitcoin: Comparação Completa, Diferenças Técnicas e Oportunidades de Investimento em 2025, que aborda diferenças de script entre as duas cadeias.
8. Conclusão
Os “scripts” do Bitcoin são a espinha dorsal que garante que somente quem tem autorização possa movimentar fundos, ao mesmo tempo em que permitem a criação de contratos inteligentes simples porém poderosos. Entender como eles funcionam – desde o clássico P2PKH até o moderno Taproot – é essencial para quem deseja operar, desenvolver ou simplesmente compreender a segurança e a flexibilidade da maior criptomoeda do mundo.
Se você ainda tem dúvidas ou quer explorar mais sobre a tecnologia Bitcoin, continue acompanhando nossos guias avançados e mantenha-se atualizado com as últimas inovações.