O que muda para os usuários e desenvolvedores após o The Merge
Em setembro de 2022, a Ethereum realizou um dos eventos mais esperados da história das criptomoedas: o The Merge. Essa transição da prova de trabalho (PoW) para a prova de participação (PoS) não apenas reduziu o consumo energético da rede em mais de 99%, como também trouxe uma série de mudanças técnicas, econômicas e operacionais que afetam diretamente tanto os usuários finais quanto os desenvolvedores de dApps. Neste artigo, vamos dissecar cada uma dessas mudanças, explicando os impactos práticos, as oportunidades e os desafios que surgem neste novo paradigma.
1. Visão geral do The Merge
O The Merge consiste na fusão da cadeia de execução (responsável por processar transações e contratos inteligentes) com a cadeia de consenso (responsável por validar blocos). Antes do Merge, o consenso era garantido por mineradores que utilizavam hardware intensivo em energia para resolver cálculos complexos (PoW). Após o Merge, esse papel foi assumido por validadores que bloqueiam ETH como garantia (PoS). A mudança foi anunciada como Ethereum.org e detalhada em diversas publicações da comunidade.
2. Impactos diretos para os usuários
2.1 Redução drástica do consumo de energia
Uma das promessas centrais do The Merge era a sustentabilidade. Estima‑se que a rede tenha passado de cerca de 120 TWh/ano para menos de 2 TWh/ano, tornando‑a mais compatível com políticas ambientais globais e facilitando a adoção institucional.
2.2 Alterações nas taxas de transação (gas)
Embora o The Merge não tenha alterado diretamente a mecânica de cálculo do gas, ele influenciou o EIP‑1559, que já estava em vigor. A queima de taxa base continua, mas a menor emissão de novos ETH (devido ao fim da mineração) pode tornar as taxas mais estáveis a longo prazo, já que a oferta de ETH se torna mais escassa.
Além disso, a mudança para PoS abre caminho para futuras atualizações de escalabilidade (sharding), que prometem reduzir ainda mais o custo por transação.
2.3 Segurança e risco de reorgs
Com PoS, a probabilidade de reorganizações profundas (deep reorgs) diminui significativamente. Validadores têm menos incentivo a atacar a rede, pois precisam arriscar seu próprio stake. Isso traz maior confiança para usuários que realizam transações de alto valor.

2.4 Staking: novas oportunidades de renda passiva
Qualquer detentor de ETH pode participar do consenso ao delegar seus tokens a um pool de staking ou operar um validador próprio (mínimo de 32 ETH). O retorno anual varia entre 4 % e 7 % dependendo da taxa de participação da rede. Para quem prefere não operar um nó completo, serviços como Lido, Rocket Pool e a própria restaking oferecem soluções simplificadas.
3. Impactos para desenvolvedores
3.1 Mudança na camada de consenso
Do ponto de vista de desenvolvimento de smart contracts, o The Merge não alterou a EVM (Ethereum Virtual Machine). Contudo, a mudança de consenso traz novas APIs e métricas para monitoramento de performance de validadores, que podem ser integradas a ferramentas de observabilidade.
3.2 Custos de deploy e execução
Com a emissão de novos ETH reduzida, a expectativa de longo prazo é que o preço do token aumente, o que pode tornar as taxas de gas relativamente mais caras em termos de dólares. Desenvolvedores precisam otimizar ainda mais seus contratos, adotando práticas como gas‑efficient coding, uso de immutable variables e compressão de dados.
3.3 Integração com soluções de camada 2
O The Merge prepara o terreno para o sharding, que será a próxima grande atualização da Ethereum. Enquanto isso, as soluções de camada 2 (Optimism, Arbitrum, zkSync) já oferecem transações quase gratuitas. Desenvolvedores devem considerar a implantação de seus dApps em múltiplas camadas para melhorar a experiência do usuário.
3.4 Segurança reforçada e novos vetores de ataque
Com a prova de participação, surgem novos vetores de ataque, como o long‑range attack e o nothing‑at‑stake. Ferramentas como EigenLayer permitem que desenvolvedores reforcem a segurança de contratos críticos ao “re‑stakar” seu código em camadas adicionais de validação.

3.5 Ferramentas de desenvolvimento atualizadas
Frameworks como Hardhat, Foundry e Truffle já incorporaram suporte ao estado pós‑Merge, permitindo que desenvolvedores simulem a rede PoS localmente. Além disso, provedores de nós (Infura, Alchemy) disponibilizam endpoints específicos para a nova cadeia de consenso.
4. Perguntas frequentes dos usuários pós‑Merge
Para facilitar a compreensão, compilamos as dúvidas mais comuns que surgem após o The Merge.
5. Como se preparar para o futuro da Ethereum
Embora o The Merge seja um marco, ele faz parte de um roadmap maior que inclui sharding, EIP‑4844 (proto‑Danksharding) e a eventual Ethereum 2.0. Aqui vão algumas recomendações práticas:
- Eduque‑se sobre staking: Entenda as diferenças entre staking direto, pools e restaking.
- Otimize seus contratos: Revise o código para reduzir o consumo de gas e aproveite as novas ferramentas de análise.
- Explore camadas 2: Avalie se sua dApp pode se beneficiar de rollups ou sidechains.
- Monitore a segurança: Use auditorias regulares e considere soluções como EigenLayer para hardening adicional.
- Mantenha-se atualizado: Siga fontes confiáveis como CoinDesk e o blog oficial da Ethereum.
6. Conclusão
O The Merge representa muito mais que uma simples mudança de algoritmo. Ele redefine a economia, a segurança e a sustentabilidade da maior plataforma de contratos inteligentes do mundo. Usuários ganham acesso a um ecossistema mais verde e oportunidades de renda passiva via staking, enquanto desenvolvedores se veem diante de novos desafios de otimização, segurança e integração com soluções de camada 2. Ao compreender essas transformações e adotar as melhores práticas, ambos os públicos podem tirar o máximo proveito da nova era da Ethereum.
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