O que é um token não fungível semi‑fungível (SFT) – Guia Completo para 2025

O que é um token não fungível semi‑fungível (SFT)

Nos últimos anos, o universo dos ativos digitais tem evoluído em ritmo acelerado. Enquanto os tokens não fungíveis (NFTs) ganharam destaque ao permitir a tokenização de obras de arte, colecionáveis e até direitos autorais, surgiu uma nova categoria que combina características de fungibilidade e não‑fungibilidade: o semi‑fungible token, conhecido pela sigla SFT. Neste artigo, vamos explorar em profundidade o que são os SFTs, como funcionam, quais são suas aplicações práticas e por que eles podem representar a próxima grande revolução no mercado de cripto‑ativos.

1. Conceitos básicos: fungível vs. não fungível

Antes de mergulharmos nos SFTs, é essencial entender a diferença entre tokens fungíveis e não fungíveis:

  • Fungível: cada unidade é intercambiável com outra da mesma classe (ex.: Bitcoin, Ether, USDT). Um BTC sempre tem o mesmo valor que outro BTC.
  • Não fungível: cada token possui atributos únicos que o tornam insubstituível (ex.: um NFT de arte digital).

Os SFTs combinam essas duas propriedades, oferecendo flexibilidade inédita para desenvolvedores e criadores.

2. Definição formal de SFT

Um token semi‑fungível (SFT) é um ativo digital que, em determinados estágios de sua vida útil, comporta‑se como fungível, mas que, ao mudar de estado, passa a ser único e não fungível. Essa transição normalmente ocorre por meio de minting (cunhagem) parcial, uso, queima ou eventos de gamificação.

Em termos técnicos, os SFTs são implementados em padrões de contrato inteligente como o ERC‑1155 (Ethereum) ou equivalentes em outras blockchains (ex.: TEZOS FA2, Solana SPL Token). O padrão ERC‑1155 permite que um único contrato gerencie múltiplos tipos de tokens, sejam eles fungíveis, não fungíveis ou semi‑fungíveis, reduzindo custos de gás e simplificando a lógica de transferência.

3. Como funciona a transição de fungível para não fungível

A lógica de mudança de estado pode variar conforme o caso de uso, mas os passos mais comuns são:

O que é um token não fungível semi-fungível (SFT) - logic changing
Fonte: Brett Jordan via Unsplash
  1. Emissão inicial: o desenvolvedor cria um lote de tokens com um identificador (ID) comum. Cada unidade é fungível dentro desse lote.
  2. Evento desencadeador: o usuário realiza uma ação (ex.: abre um “loot box”, completa uma missão em um jogo, ou compra um ingresso para um evento).
  3. Mintagem de sub‑token: o contrato inteligente gera um novo ID exclusivo, transferindo a propriedade da unidade fungível para um token não fungível que representa o item específico.
  4. Queima ou bloqueio: a unidade fungível original pode ser queimada ou bloqueada, garantindo que o número total de tokens permaneça constante.

Esse mecanismo permite que plataformas ofereçam produtos digitais em massa (fungíveis) e, ao mesmo tempo, entreguem itens únicos (não fungíveis) sem precisar de múltiplos contratos.

4. Principais casos de uso dos SFTs

A seguir, destacamos as aplicações mais promissoras:

  • Games Play‑to‑Earn (P2E): itens de loot boxes são emitidos como tokens fungíveis. Quando o jogador abre a caixa, recebe um item exclusivo (ex.: arma rara) como NFT.
  • Ingressos para eventos: um lote de ingressos pode ser vendido como tokens fungíveis. Quando o ingresso é validado na entrada, ele se transforma em um NFT que comprova a presença e pode ser usado para recompensas pós‑evento.
  • Colecionáveis híbridos: séries limitadas de cards digitais podem começar como tokens fungíveis (para facilitar a negociação) e, ao serem “customizados” pelo usuário, tornam‑se NFTs únicos.
  • Finanças descentralizadas (DeFi): protocolos de liquidez podem emitir SFTs que representam cotas de pool; quando o usuário retira a liquidez, o token pode se transformar em um NFT que registra a data e condições de retirada.

Esses exemplos mostram como os SFTs podem reduzir custos operacionais e melhorar a experiência do usuário, combinando a escalabilidade dos tokens fungíveis com a singularidade dos NFTs.

5. Vantagens técnicas dos SFTs

Além dos casos de uso, os SFTs trazem benefícios concretos para desenvolvedores e usuários:

  1. Economia de gás: usando ERC‑1155, várias transferências são agrupadas em uma única transação, diminuindo as taxas.
  2. Flexibilidade de metadata: o mesmo contrato pode armazenar diferentes tipos de metadados (JSON) para tokens fungíveis e não fungíveis.
  3. Facilidade de auditoria: a lógica de transição fica centralizada, facilitando a verificação de segurança por auditorias externas.
  4. Melhor experiência de usuário: usuários não precisam lidar com múltiplos contratos ou wallets diferentes; tudo acontece dentro da mesma aplicação.

6. Como criar seu próprio SFT – Passo a passo técnico

Para quem deseja experimentar, segue um guia resumido usando Solidity e o padrão ERC‑1155:

// SPDX‑License-Identifier: MIT
pragma solidity ^0.8.0;

import "@openzeppelin/contracts/token/ERC1155/ERC1155.sol";
import "@openzeppelin/contracts/access/Ownable.sol";

contract MySFT is ERC1155, Ownable {
    uint256 public constant BATCH_ID = 1; // ID fungível
    uint256 public nextUniqueId = 2;      // IDs NFT começarão em 2

    constructor(string memory uri) ERC1155(uri) {}

    // Emissão inicial de 10.000 tokens fungíveis
    function mintBatch(address to, uint256 amount) external onlyOwner {
        _mint(to, BATCH_ID, amount, "");
    }

    // Transformar 1 token fungível em NFT exclusivo
    function redeem(address to) external {
        require(balanceOf(msg.sender, BATCH_ID) >= 1, "Sem saldo fungível");
        _burn(msg.sender, BATCH_ID, 1);
        _mint(to, nextUniqueId, 1, "");
        nextUniqueId++;
    }
}

O contrato acima demonstra a lógica central: a função redeem queima um token fungível e cria um NFT exclusivo. Em produção, recomenda‑se adicionar verificações de assinatura, limites de tempo e integração com oráculos.

O que é um token não fungível semi-fungível (SFT) - contract demonstrates
Fonte: Brett Jordan via Unsplash

7. Comparação SFT vs. NFT vs. Token Fungível

Característica Token Fungível NFT (ERC‑721) SFT (ERC‑1155)
Unicidade Não Sim Condicional (pode mudar)
Custo de Gas Baixo Alto (uma transação por token) Baixo a moderado (batch)
Escalabilidade Alta Moderada Alta
Casos de Uso Moedas, stablecoins Arte, colecionáveis Games, ingressos, DeFi híbrido

8. Riscos e desafios

Embora os SFTs ofereçam inúmeras vantagens, ainda há desafios a serem superados:

  • Complexidade de implementação: a lógica de mudança de estado pode introduzir vulnerabilidades se não for auditada corretamente.
  • Regulação: alguns reguladores ainda não têm clareza sobre como classificar tokens que mudam de natureza ao longo do tempo.
  • Experiência do usuário: é preciso educar o público para que compreenda a diferença entre possuir um token fungível e um NFT derivado.

9. Perspectivas para 2025 e além

Com a crescente adoção de NFTs e a expansão de ecossistemas de jogos Web3, espera‑se que os SFTs ganhem ainda mais relevância. Plataformas como OpenSea já começaram a listar coleções híbridas, e grandes projetos de metaverso estão avaliando SFTs para gerenciar terrenos que podem ser “construídos” (fungível) e, ao mesmo tempo, servir como provas de propriedade únicas (não fungível).

Além disso, a integração de SFTs com tokenização de ativos reais pode abrir portas para investimentos fracionados que evoluem para certificados de propriedade exclusiva, facilitando a liquidez de ativos como imóveis, obras de arte e direitos autorais.

10. Conclusão

O token semi‑fungível (SFT) representa uma ponte entre a eficiência dos tokens fungíveis e a exclusividade dos NFTs. Seu potencial está sendo explorado em jogos, eventos, DeFi e tokenização de ativos, oferecendo soluções mais econômicas e flexíveis para desenvolvedores e usuários. À medida que o ecossistema Web3 amadurece, entender como os SFTs funcionam e como utilizá‑los será essencial para quem deseja estar na vanguarda das inovações digitais.

Se você quer aprofundar ainda mais seu conhecimento, confira também nossos artigos relacionados: O que são NFTs? Guia Completo e Atualizado 2025 e Tokenização de Ativos: O Futuro dos Investimentos no Brasil.