Soulbound Token (SBT): tudo o que você precisa saber em 2025

Soulbound Token (SBT): tudo o que você precisa saber em 2025

Os Soulbound Tokens (SBTs) chegaram para mudar a forma como pensamos identidade, reputação e credenciais digitais no universo blockchain. Diferente dos NFTs tradicionais, que podem ser comprados, vendidos ou trocados livremente, os SBTs são intransferíveis e ficam “presos” ao endereço que os recebeu, como uma marca permanente de confiança. Neste artigo, vamos mergulhar nos aspectos técnicos, nos casos de uso no Brasil, nos desafios regulatórios e nas oportunidades que esses tokens oferecem para usuários iniciantes e intermediários.

Principais Pontos

  • Definição e características únicas dos SBTs.
  • Arquitetura técnica baseada em ERC‑6551 e EIP‑5192.
  • Aplicações práticas: identidade digital, diplomas, reputação em DeFi e NFTs.
  • Riscos de privacidade e questões regulatórias no Brasil.
  • Como criar, gerenciar e validar um SBT na prática.

O que são Soulbound Tokens?

O conceito de Soulbound Token foi introduzido pela primeira vez em um paper de Vitalik Buterin e outros pesquisadores em 2022. A ideia central é que certos ativos digitais devem ser não negociáveis, representando informações que, por natureza, não podem ser transferidas – como um diploma universitário, um certificado de vacinação ou uma reputação acumulada em um protocolo DeFi.

Na prática, um SBT funciona como um NFT padrão (ERC‑721) porém com duas extensões principais:

  1. EIP‑5192: introduz o status “locked” que impede transferências.
  2. ERC‑6551: permite que o token contenha sub‑contas e execute lógica de contrato, facilitando a atualização de atributos sem a necessidade de criar um novo token.

Essas extensões garantem que o token permaneça atrelado ao endereço original, criando um “soul” digital que evolui ao longo do tempo.

História e origem dos SBTs

Embora a ideia de credenciais imutáveis exista desde os primeiros dias da blockchain, foi a publicação “Soulbound Tokens” no Ethereum Magicians Forum que consolidou o conceito. O paper propôs que, assim como os itens “soulbound” nos jogos de RPG – que não podem ser trocados entre personagens – os tokens poderiam representar laços permanentes entre identidade e ativos.

No Brasil, o interesse pelos SBTs aumentou a partir de 2023, quando projetos de universidades federais começaram a experimentar diplomas digitais baseados em blockchain. Em 2024, a Banco Central do Brasil iniciou discussões sobre o uso de SBTs para certificados de compliance e KYC, sinalizando uma possível integração institucional.

Como funcionam tecnicamente os SBTs

Estrutura de contrato

Um contrato SBT típico herda da interface ERC‑721 e implementa os métodos de bloqueio definidos na EIP‑5192:

function lock(uint256 tokenId) external onlyOwner {
    _locked[tokenId] = true;
    emit Locked(tokenId);
}

function transferFrom(address from, address to, uint256 tokenId) public override {
    require(!_locked[tokenId], "SBT: token is soulbound");
    super.transferFrom(from, to, tokenId);
}

O método lock pode ser chamado uma única vez, geralmente no momento da emissão. Após o bloqueio, qualquer tentativa de transferFrom falha, garantindo a intransferibilidade.

Metadados e atualizações

Com ERC‑6551, um SBT pode possuir uma sub‑conta que executa funções de atualização de metadados sem precisar “queimar” e “mintar” um novo token. Isso é essencial para casos como “acreditar habilidades” ou “adicionar certificações” ao longo da vida do usuário.

Exemplo de atualização:

function addCertification(uint256 tokenId, string calldata certHash) external {
    require(ownerOf(tokenId) == msg.sender, "Only owner can update");
    certifications[tokenId].push(certHash);
    emit CertificationAdded(tokenId, certHash);
}

Essas atualizações são registradas na blockchain, proporcionando transparência auditável.

Casos de uso no Brasil

Identidade digital soberana

Plataformas como IDEN3 já testam SBTs para criar identidades auto‑soberanas (SSI). Usuários podem receber um SBT que comprova sua idade, cidadania ou status de residente, sem precisar revelar documentos físicos. Essa abordagem reduz custos de onboarding em fintechs e marketplaces.

Diplomas e certificações acadêmicas

Universidades como a USP e a UFSC lançaram projetos piloto onde diplomas são emitidos como SBTs. O grau fica vinculado ao endereço do estudante, permitindo que empregadores verifiquem a autenticidade em segundos, sem depender de burocracia.

Reputação em protocolos DeFi

Projetos de empréstimo P2P utilizam SBTs para registrar histórico de pagamentos e pontuação de risco. Um usuário com um SBT de “Boa Reputação” pode acessar taxas de juros menores, criando um incentivo econômico para manter boa conduta.

Tokenização de direitos de propriedade intelectual

Artistas e desenvolvedores podem receber SBTs que comprovam autoria de obras, facilitando reivindicações de royalties em plataformas como Mirror.

Desafios e riscos associados

Privacidade e rastreamento

Como os SBTs são públicos na blockchain, informações sensíveis podem ser expostas se não forem adequadamente criptografadas. Estratégias como zero‑knowledge proofs (ZKP) estão sendo pesquisadas para ocultar detalhes sem perder a verificabilidade.

Regulação brasileira

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ainda não definiu claramente se SBTs que representam “direitos” podem ser classificados como valores mobiliários. Até que haja clareza, projetos que emitem SBTs ligados a ativos financeiros devem realizar avaliações de risco jurídico.

Perda de chave privada

Se o usuário perder a chave do endereço que detém um SBT, ele perde acesso ao token permanente. Serviços de custodiante e soluções de recuperação social (Social Recovery) são recomendados para mitigar esse risco.

Regulação e compliance no Brasil

O Banco Central tem sinalizado apoio ao uso de blockchain para identidade, mas ainda exige que as instituições cumpram normas de KYC e LGPD. Um SBT que contém dados pessoais deve ser projetado para atender aos princípios de minimização e anonimização exigidos pela lei.

Além disso, a Lei nº 14.286/2022, que trata da certificação digital, pode ser interpretada como base legal para reconhecer SBTs como documentos oficiais, desde que haja validação por autoridade certificadora reconhecida.

Comparação SBT vs NFT

Característica Soulbound Token (SBT) Non‑Fungible Token (NFT)
Transferibilidade Intransferível (locked) Transferível livremente
Uso típico Credenciais, identidade, reputação Arte, colecionáveis, jogos
Atualização de metadados Possível via ERC‑6551 Geralmente imutável
Regulação Mais sensível (documentos oficiais) Menos regulado, porém pode ser considerado ativo financeiro

Como criar um SBT passo a passo

  1. Escolha a rede: Ethereum L2 (Polygon, Arbitrum) ou redes brasileiras como Celo para reduzir custos.
  2. Desenvolva o contrato: Use OpenZeppelin como base e implemente as interfaces ERC‑721, EIP‑5192 e ERC‑6551.
  3. Teste em testnet: Deploy no Goerli ou Mumbai antes de migrar para mainnet.
  4. Mint e lock: Chame a função mint para criar o token e, em seguida, lock para torná‑lo soulbound.
  5. Integre UI/UX: Crie uma interface onde o usuário conecte sua carteira (MetaMask, Trust Wallet) e visualize seus SBTs.
  6. Auditoria de segurança: Contrate auditorias externas (CertiK, PeckShield) para garantir que o lock não possa ser burlado.

Ferramentas e plataformas recomendadas

  • OpenZeppelin Contracts: Biblioteca padrão para ERC‑721 e extensões.
  • Hardhat ou Foundry: Ambientes de desenvolvimento e teste.
  • Etherscan ou Polygonscan: Verificação de contrato e visualização de SBTs.
  • IPFS ou Arweave: Armazenamento descentralizado de metadados.
  • WalletConnect: Compatibilidade com múltiplas carteiras móveis.

Impacto futuro dos SBTs no ecossistema cripto brasileiro

À medida que a adoção de identidade digital auto‑soberana cresce, os SBTs podem se tornar a espinha dorsal de serviços financeiros, governamentais e educacionais. Imagine um cenário onde:

  • Um cidadão usa um SBT para comprovar residência ao abrir conta em fintechs, eliminando a necessidade de documentos físicos.
  • Empresas de recrutamento verificam rapidamente certificados de cursos via SBT, reduzindo fraudes em currículos.
  • Plataformas DeFi concedem juros preferenciais a usuários com SBT de “Boa Reputação”, fomentando um ecossistema mais confiável.

Esses avanços podem reduzir custos operacionais em até R$ 2,5 milhões por ano para grandes instituições, além de aumentar a inclusão financeira em regiões remotas.

Conclusão

Os Soulbound Tokens representam uma evolução crucial da tecnologia blockchain ao introduzir ativos digitais permanentes, focados em identidade, reputação e credenciais. Embora ainda enfrentem desafios de privacidade, regulação e usabilidade, o cenário brasileiro mostra forte potencial de adoção, especialmente em áreas como educação, fintechs e serviços públicos. Se você está começando no mundo cripto, entender os SBTs hoje pode ser o diferencial para aproveitar oportunidades emergentes nos próximos anos.