Como os NFTs usam o IPFS para armazenar os seus metadados
Nos últimos anos, os tokens não‑fungíveis (NFTs) deixaram de ser apenas obras de arte digitais para se tornarem a espinha dorsal de coleções, jogos play‑to‑earn, identidades digitais e até mesmo ativos do mundo real. Por trás de cada NFT existe um conjunto de metadados – informações que descrevem o token, apontam para o recurso digital (imagem, áudio, vídeo) e definem propriedades adicionais (atributos, royalties, criador, etc.). A forma como esses metadados são armazenados impacta diretamente a permanência, segurança e descentralização do próprio NFT.
1. O que são metadados de um NFT?
Um NFT, na prática, é um tokenID registrado em um contrato inteligente. O contrato contém um ponteiro (geralmente um URI) que aponta para um documento JSON contendo:
- Nome do token
- Descrição
- Link para o recurso (imagem, vídeo, áudio)
- Atributos (raridade, cor, nível, etc.)
- Informações de royalties (EIP‑2981)
Esses dados são críticos: se o arquivo JSON for alterado ou desaparecer, o NFT perde seu significado.
2. Por que o IPFS é a escolha preferida?
Historicamente, muitos projetos armazenavam metadados em servidores centralizados ou em serviços de nuvem (AWS, Google Cloud). Essa abordagem tem duas grandes desvantagens:
- Risco de ponto único de falha: se o servidor cair, o NFT fica “quebrado”.
- Problemas de censura: provedores podem remover conteúdo por questões legais ou de política.
O InterPlanetary File System (IPFS) resolve esses problemas ao distribuir o conteúdo entre nós de forma peer‑to‑peer, garantindo que o arquivo permaneça acessível enquanto houver pelo menos um nó que o “pin” (fixe).
3. Como o IPFS funciona – conceitos essenciais
Ao enviar um arquivo para o IPFS, ele é dividido em blocos de 256 KB, cada bloco recebe um Content Identifier (CID) criptográfico (SHA‑256). O CID representa o conteúdo de forma única: se o arquivo mudar, o CID também muda. Isso traz três benefícios:

- Imutabilidade: o CID nunca aponta para outro conteúdo.
- Verificação de integridade: qualquer nó pode validar o hash.
- Descentralização: múltiplos nós podem servir o mesmo CID.
Para NFTs, isso significa que o tokenURI pode apontar diretamente para um CID, por exemplo ipfs://bafybeigdyrzt.../metadata.json. Enquanto o CID existir na rede, o metadado será resolvido.
4. Fluxo típico de criação de um NFT com IPFS
- Upload do recurso digital (imagem, áudio) para IPFS → obtém CID da mídia.
- Construção do JSON de metadados incluindo o CID da mídia, atributos e outros campos.
- Upload do JSON para IPFS → obtém CID do metadado.
- Mint do NFT no contrato inteligente, definindo
tokenURIcomoipfs://CID‑METADADO.
Esse fluxo garante que, mesmo que o contrato seja migrado ou o marketplace mude, o token continuará apontando para o mesmo conteúdo imutável.
5. Pinning services e a garantia de persistência
Embora o IPFS seja descentralizado, se nenhum nó mantiver o arquivo, ele pode desaparecer da rede. Por isso, projetos usam pinning services (Pinata, Filecoin, NFT.Storage) ou operam seus próprios nós. O Ethereum não armazena arquivos, mas combina‑se perfeitamente com IPFS: o contrato mantém apenas o CID, enquanto o IPFS cuida da entrega.
6. Segurança e vulnerabilidades comuns
- Metadata spoofing: se o desenvolvedor mudar o CID após o mint, o token pode apontar para conteúdo malicioso. A solução é usar immutable CIDs e, se necessário, registrar o hash no contrato.
- Links rotos por falta de pinning: garantir que o CID esteja pinado em múltiplos provedores reduz o risco.
- Conteúdo sensível: arquivos privados não devem ser armazenados em IPFS público; use IPFS privado ou criptografe antes de enviar.
7. Boas práticas recomendadas
Para garantir que seu NFT seja robusto a longo prazo, siga estas recomendações:
- Use um serviço de pinning redundante (ex.: Pinata + NFT.Storage + Filecoin).
- Armazene o CID no contrato de forma imutável; evite funções que permitam atualizar o
tokenURIsem necessidade. - Inclua o hash do conteúdo dentro do JSON como campo
imageHashpara verificação extra. - Teste a resolução do CID em diferentes gateways (ipfs.io, dweb.link) antes de lançar.
- Documente a arquitetura para que futuros desenvolvedores entendam a dependência do IPFS.
8. Integração com marketplaces e padrões da indústria
Plataformas como OpenSea, Rarible e Magic Eden já reconhecem URIs no formato ipfs://. Elas convertem automaticamente para um gateway HTTP (ex.: https://ipfs.io/ipfs/...) para exibir a arte. Além disso, padrões como ERC‑721 e ERC‑1155 recomendam que o tokenURI retorne um JSON compatível com OpenSea Metadata Standards, o que inclui o campo image com um CID IPFS.

9. Estudos de caso relevantes
Alguns projetos brasileiros que adotaram IPFS de forma exemplar incluem:
- O que são NFTs? Guia Completo e Atualizado 2025 – explica a importância da imutabilidade dos metadados.
- O que é Web3? Guia Completo, Tecnologias e Perspectivas para 2025 – contextualiza o papel do IPFS dentro da infraestrutura Web3.
10. Desafios atuais e o futuro do armazenamento de metadados
Embora o IPFS seja maduro, ainda há pontos a melhorar:
- Custo de pinning em escala: projetos massivos podem precisar de milhares de dólares para garantir a persistência.
- Velocidade de entrega: gateways públicos às vezes apresentam latência; soluções como IPFS Cluster e Edge Gateways ajudam.
- Governança de conteúdo: a comunidade ainda debate como lidar com conteúdo ilegal ou ofensivo em IPFS.
Com a chegada do Filecoin (armazenamento incentivado) e do Arweave (armazenamento permanente), a tendência é combinar IPFS para distribuição rápida e esses protocolos para garantia de longo prazo.
Conclusão
O uso do IPFS para armazenar metadados de NFTs fornece a imunidade contra censura, verificação de integridade e descentralização necessárias para que os tokens mantenham valor ao longo dos anos. Implementar as boas práticas apresentadas – pinning redundante, imutabilidade de CIDs e conformidade com padrões ERC – garante que seu projeto esteja pronto para o futuro da Web3.
Se você está planejando lançar uma coleção, reserve tempo para testar o fluxo completo de upload, pinning e mint. Lembre‑se: um NFT só é tão forte quanto o armazenamento de seus metadados.