Modelo Stock-to-Flow (S2F) para o Bitcoin: uma análise detalhada
O Bitcoin tem sido objeto de inúmeras análises quantitativas desde seu surgimento em 2009. Entre os modelos mais discutidos está o Stock-to-Flow (S2F), que tenta relacionar a escassez de um ativo com o seu preço de mercado. Neste artigo, vamos dissecar o modelo, entender sua aplicação ao Bitcoin, avaliar suas limitações e explorar como ele pode influenciar decisões de investimento.
1. O que é o modelo Stock-to-Flow?
O termo “Stock-to-Flow” (estoque‑fluxo) foi originalmente criado para avaliar commodities físicas, como ouro e prata. O stock representa a quantidade total existente de um ativo, enquanto o flow corresponde à produção anual nova desse mesmo ativo. O índice S2F é calculado pela razão:
S2F = Stock ÷ Flow
Quanto maior o S2F, mais escasso é o ativo, o que, segundo a teoria, deveria refletir-se em um preço mais elevado.
2. Como o S2F é calculado para o Bitcoin?
No caso do Bitcoin, o stock equivale ao número total de BTC já minerados (oferta circulante). O flow corresponde à quantidade de novos BTC criados em um período de 12 meses, ou seja, a recompensa total de mineração nesse intervalo.
Exemplo simplificado (dados aproximados de 2024):
- Stock: 19,4 milhões de BTC
- Flow anual: 328.500 BTC (recompensa de 6,25 BTC por bloco × 52.560 blocos/ano)
Logo, S2F ≈ 19.400.000 ÷ 328.500 ≈ 59,1.
3. Histórico do S2F no Bitcoin
O modelo ganhou notoriedade em 2019, quando o analista PlanB publicou um gráfico relacionando o S2F histórico do Bitcoin com seu preço. A curva sugeria que, após cada halving (redução da recompensa de mineração em 50%), o S2F aumentaria de forma significativa, impulsionando o preço.

Até 2024, o preço do Bitcoin seguiu, em grande parte, a trajetória prevista pelo modelo, embora haja períodos de divergência, especialmente durante ciclos de alta volatilidade.
4. Interpretação dos valores S2F
Um S2F de 1 indica que, em um ano, a produção iguala o estoque existente – típico de ativos altamente inflacionários (ex.: moedas fiduciárias). Valores acima de 10 são característicos de commodities escassas (ouro ≈ 62). O Bitcoin, com S2F > 50, está, portanto, na mesma faixa de escassez do ouro, o que justifica o apelido de “ouro digital”.
5. Críticas e limitações do modelo
Embora o S2F seja elegante, ele não está isento de críticas:
- Desconsidera demanda: O modelo foca apenas na oferta, ignorando fatores de demanda como adoção institucional, regulação e sentiment.
- Assume relação linear: A correlação entre S2F e preço pode mudar ao longo do tempo, especialmente quando o mercado amadurece.
- Eventos externos: Forks, mudanças de protocolo ou intervenções governamentais podem romper a relação prevista.
Essas limitações são discutidas em artigos como O que é um token deflacionário? Guia completo e aprofundado para 2025 e Índice de Dominância do Bitcoin (BTC.D): O Guia Definitivo para Traders e Investidores, que analisam a escassez de forma mais ampla.
6. Comparação com outros modelos de valoração
Além do S2F, analistas utilizam:
- Modelo NVT (Network Value‑to‑Transactions): relaciona capitalização de mercado com volume de transações. Veja O que é a capitalização de mercado de uma criptomoeda e por que ela importa? para entender essa métrica.
- Lei de Metcalfe: valor proporcional ao quadrado do número de usuários ativos.
Enquanto o S2F foca na escassez, o NVT incorpora atividade econômica, oferecendo uma visão complementar.

7. Implicações práticas para investidores
Como usar o S2F na prática?
- Identificar ciclos de halving: Cada halving eleva o S2F, indicando potencial de alta nos próximos anos.
- Combinar com análise de demanda: Use indicadores de sentimento (ex.: Ferramentas de análise de sentimento) para validar o cenário.
- Gerenciar risco: O modelo não prevê correções de curto prazo. Mantenha posições equilibradas e defina stop‑loss.
8. Perspectivas futuras do S2F no Bitcoin
Com o próximo halving previsto para 2024‑2025, o S2F deverá ultrapassar 100, colocando o Bitcoin em patamar ainda mais escasso que o ouro. Contudo, fatores como regulação global e integração institucional podem modificar a dinâmica de preço.
Em síntese, o modelo Stock-to-Flow continua sendo uma ferramenta valiosa, mas deve ser usado em conjunto com outras métricas e com uma compreensão profunda do cenário macro.
Conclusão
O Modelo Stock-to-Flow (S2F) oferece uma lente única para entender a escassez do Bitcoin e seu potencial de valorização a longo prazo. Apesar das críticas, sua capacidade de capturar a relação entre oferta acumulada e nova emissão fornece insights úteis para investidores que buscam estratégias baseadas em fundamentos de escassez.
Ao combinar o S2F com análises de demanda, sentiment e outros indicadores, é possível construir uma tese de investimento mais robusta e resiliente.
Para aprofundar ainda mais, recomendamos a leitura de fontes externas de autoridade, como o artigo da CoinDesk sobre o modelo Stock‑to‑Flow e a página da Wikipedia, que traz uma visão acadêmica e histórica do conceito.