Mercado de Ordinals: Guia Completo para Criptomoedas no Brasil (2025)

Nos últimos anos, o universo das criptomoedas tem testemunhado a emergência de novos paradigmas de valor digital. Entre eles, os Ordinals ganharam destaque como uma inovação que combina a segurança da blockchain do Bitcoin com a criatividade dos NFTs. Este artigo aprofunda os aspectos técnicos, econômicos e regulatórios dos Ordinals, oferecendo um panorama completo para usuários brasileiros, desde iniciantes até investidores intermediários.

Introdução

Os Ordinals são essencialmente “inscrições” (inscriptions) que adicionam metadados a satoshis individuais – as menores unidades do Bitcoin – transformando‑os em ativos únicos, semelhantes aos tokens não‑fungíveis (NFTs) das blockchains de contrato inteligente. Diferente dos NFTs tradicionais, que vivem em redes como Ethereum ou Solana, os Ordinals permanecem na camada base do Bitcoin, aproveitando sua imutabilidade e nível de segurança incomparável.

Principais Pontos

Ordinals são metadados gravados diretamente em satoshis, sem necessidade de contratos inteligentes.
Utilizam o protocolo Ordinals Protocol e o padrão Inscription Standard.
Costumam ser comercializados em marketplaces específicos, como ordinals.com e plataformas brasileiras emergentes.
Impactam o preço do Bitcoin ao aumentar a demanda por blocos com espaço livre.
Apresentam desafios regulatórios, principalmente quanto à classificação como ativo financeiro ou obra de arte.

O Que São Ordinals?

O termo Ordinal deriva da ideia de numerar cada satoshi, atribuindo‑le uma posição única dentro da sequência total de 2,1 quintilhões de satoshis emitidos. Essa numerização permite que desenvolvedores criem inscrições (inscriptions) que armazenam dados arbitrários – imagens, áudio, código ou texto – diretamente no próprio satoshi.

Para entender melhor, imagine que cada satoshi funciona como um “pixel” num quadro digital. Ao escrever um dado no satoshi, você está pintando esse pixel. Quando vários satoshis são inscritos, forma‑se uma obra completa, que pode ser visualizada em viewers compatíveis com o protocolo.

História e Evolução dos Ordinals

O conceito foi introduzido em janeiro de 2023 por desenvolvedores que exploraram a opção de OP_RETURN estendida e a adoção de Taproot. Em março de 2023, o Ordinals Protocol foi lançado como código aberto, permitindo que qualquer pessoa gravasse dados em satoshis usando transações padrão do Bitcoin.

Desde então, o mercado evoluiu rapidamente:

2023: Primeiras coleções de arte digital, como “Ordinal Punks”.
2024: Surgimento de marketplaces brasileiros (por exemplo, brordinals.com) e integração com wallets como Blockchain.com.
2025: Adoção institucional limitada, com fundos de venture capital analisando a viabilidade de “ordinals‑backed assets”.

Como Funcionam na Prática?

Para criar um Ordinal, o usuário envia uma transação Bitcoin que contém um script contendo o dado a ser inscrito. O processo pode ser resumido em três etapas:

Seleção do satoshi: O wallet identifica um satoshi não utilizado ou “vazio”.
Inscrição (Inscription): O dado (por exemplo, um arquivo PNG de 500 KB) é inserido no script da transação usando o formato OP_RETURN ou a estrutura Taproot script path.
Propagação: A transação é transmitida à rede Bitcoin, onde os mineradores a incluem em um bloco. Uma vez confirmada, o satoshi passa a carregar o dado permanentemente.

Importante notar que a inscrição consome espaço no bloco (medido em bytes). Em momentos de alta demanda, o custo de inscrição pode subir, atingindo valores de R$ 150 a R$ 300 por MB, dependendo da taxa de fee do Bitcoin.

Ordinals vs. NFTs Tradicionais

Embora ambos representem ativos digitais únicos, existem diferenças fundamentais:

Característica	Ordinals (Bitcoin)	NFTs (Ethereum, Solana, etc.)
Camada de registro	Camada base do Bitcoin (sem contratos)	Camada de contrato inteligente (ERC‑721, SPL)
Segurança	Segurança da rede Bitcoin (hashrate > 200 EH/s)	Depende da segurança da rede de contrato (ex.: Ethereum ~ 50 TH/s)
Custo de mintagem	Taxa de transação + custo de espaço em bloco	Taxa de gás (variável, pode ser alta em congestionamento)
Interoperabilidade	Limitada a visualizadores de Ordinals	Amplamente suportada por wallets e marketplaces
Escalabilidade	Restringida ao tamanho de bloco de 1 MB (ou 4 MB com SegWit)	Depende de soluções Layer‑2 (e.g., Polygon)

Casos de Uso e Aplicações Práticas

Os Ordinals já demonstram potencial em diversas áreas:

Arte digital: Coleções como “Ordinal Punks” e “Bitcoin Cats” vendidas por até R$ 120.000 cada.
Identidade digital: Inscrições de documentos de identidade (hashes) para verificação off‑chain.
Mensagens permanentes: “Bitcoin Stamps” que registram mensagens históricas na blockchain.
Finanças descentralizadas (DeFi): Propostas de tokenização de ativos reais usando Ordinals como “certificados” de propriedade.
Jogos: Itens colecionáveis em jogos on‑chain que utilizam a imutabilidade do Bitcoin.

Riscos e Considerações Regulatórias no Brasil

O ambiente regulatório brasileiro ainda está se adaptando às inovações trazidas pelos Ordinals. Entre os principais pontos de atenção:

Classificação como ativo financeiro: A CVM pode considerar Ordinals como “valor mobiliário” caso sejam ofertados como investimento.
Direitos autorais: Inscrições de obras protegidas requerem licença do autor, sob pena de violação de Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/98).
Tributação: Ganhos de capital na venda de Ordinals são tributáveis como ganho de capital em criptoativos (alíquota de 15% a 22,5%).
Lavagem de dinheiro (AML): Exchanges que listam Ordinals devem implementar KYC/AML robustos.

Recomendamos a consulta a um advogado especializado antes de comprar ou vender grandes volumes de Ordinals.

Como Comprar e Vender Ordinals no Brasil

Embora o processo seja mais técnico que em marketplaces de NFTs, há opções amigáveis para usuários brasileiros:

1. Seleção de Wallet Compatível

Wallets como Blockchain.com, Sparrow Wallet e Unchained suportam a visualização e a transferência de Ordinals.

2. Utilização de Marketplaces

Plataformas como brordinals.com e ordinals.com permitem a compra via order book ou leilões. O fluxo típico inclui:

Conectar a wallet.
Selecionar o Ordinal desejado.
Autorizar a transação e pagar a taxa de rede.
Receber o satoshi inscrito na sua carteira.

3. Custos e Taxas

Além da taxa de rede, alguns marketplaces cobram uma comissão de 2,5% a 5% sobre o valor da venda. Em termos de reais, isso pode significar custos adicionais de R$ 500 a R$ 2.500, dependendo do preço do ativo.

Ferramentas e Recursos Brasileiros

Para quem deseja acompanhar o mercado de Ordinals, recomendamos as seguintes ferramentas:

Exploradores de Ordinals: ordinals.com e brordinals.com/explorer.
Alertas de preço: Bots no Telegram como @OrdinalsBrasil que enviam notificações de novas vendas.
Comunidades: Grupos no Discord (Ordinal Brazil Hub) e no Reddit (r/OrdinalBrasil).
Educação: Cursos online da Coursera e webinars da Blockchain Academy.

Impacto no Ecossistema Bitcoin

O aumento da demanda por espaço de bloco para inscrições tem gerado debates sobre a escalabilidade do Bitcoin. Argumentos a favor apontam que a taxa adicional de transação pode incentivar mineradores a manter blocos mais cheios, melhorando a taxa de utilização. Por outro lado, críticos temem que o excesso de Ordinals possa elevar as taxas de transação para usuários que apenas desejam enviar BTC, reduzindo a usabilidade da rede.

Estudos de 2024 indicam que as inscrições de Ordinals representam aproximadamente 1,2% do volume total de transações por bloco, mas esse número tem crescido a uma taxa média de 15% ao mês nos últimos seis meses.

Perspectivas Futuras (2026 e Além)

O futuro dos Ordinals parece promissor, com várias tendências emergindo:

Integração com Layer‑2: Soluções como Lightning Network podem permitir inscrições mais baratas, aliviando a pressão sobre o bloco principal.
Standardização de Metadados: Propostas de JSON-LD para descrever obras de arte, facilitando a indexação por buscadores.
Regulação Clarificada: Espera‑se que a Receita Federal e a CVM publiquem orientações específicas sobre tributação e classificação de Ordinals até 2026.
Uso Corporativo: Empresas podem adotar Ordinals como certificados de autenticidade de documentos, como contratos de fornecimento.

Para investidores, acompanhar esses desenvolvimentos será crucial para identificar oportunidades de valorização e evitar riscos regulatórios.

Conclusão

Os Ordinals representam uma nova fronteira na interseção entre a robustez do Bitcoin e a criatividade dos NFTs. Embora ainda enfrentem desafios técnicos, de escalabilidade e regulatórios, o ecossistema brasileiro já demonstra forte adoção, com wallets, marketplaces e comunidades dedicadas. Para quem deseja participar desse mercado, a chave está em entender o funcionamento técnico, avaliar os custos de inscrição e manter-se atualizado sobre as diretrizes da CVM e da Receita Federal. Assim, será possível aproveitar o potencial de valorização dos Ordinals de forma segura e informada.