Impacto do The Merge no fornecimento de ETH: O que muda?
Em 15 de setembro de 2022, a rede Ethereum realizou um dos eventos mais esperados da história das criptomoedas: o The Merge, a transição do consenso Proof‑of‑Work (PoW) para o Proof‑of‑Stake (PoS). Mais de três anos de desenvolvimento, testes e debates culminaram em uma mudança estrutural que afeta diretamente a dinâmica de emissão e, consequentemente, o fornecimento total de ETH. Para usuários brasileiros, sejam iniciantes ou com algum conhecimento avançado, entender essas mudanças é essencial para avaliar riscos, oportunidades e estratégias de investimento.
Principais Pontos
- O Merge elimina a mineração PoW, reduzindo drasticamente a emissão de novos ETH.
- Com a implementação do EIP‑1559, parte das taxas de transação é queimada, criando um mecanismo deflacionário.
- A taxa de emissão anual agora gira em torno de 0,4 % do estoque total, comparada aos ~4 % pré‑Merge.
- Impactos macroeconômicos: menor inflação, potencial valorização e mudanças na dinâmica de staking.
O que é The Merge?
The Merge, ou simplesmente “Merge”, refere‑se à fusão da Beacon Chain – a cadeia PoS lançada em dezembro de 2020 – com a camada de execução original (Ethereum Mainnet). Antes da fusão, a Beacon Chain operava paralelamente, sem processar transações, enquanto a Mainnet mantinha o algoritmo PoW. O Merge sincronizou ambas, permitindo que a validação de blocos fosse feita por validadores que depositam 32 ETH como stake, em vez de mineradores que gastam energia computacional.
Por que a mudança foi necessária?
O principal motivador foi a eficiência energética. Estudos apontam que a rede PoW consumia cerca de 110 TWh por ano – comparable ao consumo de um país como a Argentina. Além disso, a comunidade Ethereum buscava melhorar a escalabilidade e preparar o terreno para futuras atualizações como o sharding. O PoS oferece finalidade quase instantânea, menor latência e custos operacionais reduzidos.
Como funciona a emissão de ETH após o Merge
Antes do Merge, a emissão de ETH era determinada por um algoritmo que premiava os mineradores com novos tokens a cada bloco, além das recompensas de taxa de transação. Essa emissão era aproximadamente 13 000 ETH por dia, ou cerca de 4,5 % da oferta total anual.
Com o PoS, a emissão depende de três componentes:
- Recompensa de bloco: paga aos validadores que propõem blocos.
- Recompensa de attestation: paga pelos votos que confirmam blocos.
- Recompensa de inclusão de sync committee: incentiva a participação em comitês de sincronização.
O total de ETH emitido por dia caiu para aproximadamente 1 200 ETH, o que representa menos de 0,5 % da oferta anual pré‑Merge. Essa taxa varia de acordo com a taxa de participação (“participation rate”) dos validadores, que costuma ficar entre 90 % e 95 %.
Exemplo de cálculo de emissão pós‑Merge
Supondo 10 milhões de ETH em stake (cerca de 30 % do total circulante) e uma taxa de participação de 94 %:
- Recompensa de bloco: ~0,6 ETH por bloco.
- Recompensa de attestation: ~0,4 ETH por bloco.
- Total diário: ~1 200 ETH.
Em contraste, antes do Merge, a emissão diária era de cerca de 13 000 ETH. Essa diferença de 11 800 ETH por dia corresponde a ~4,3 milhões de ETH a menos por ano, reduzindo a inflação de aproximadamente 4 % para menos de 0,5 %.
Efeito do EIP‑1559 e a queima de taxas
O EIP‑1559, implementado em agosto de 2021, introduziu um mecanismo de base fee que é queimada ao invés de ser paga aos mineradores. Após o Merge, a queima continua e, combinada com a menor emissão, pode gerar um efeito deflacionário.
Dados do Ethereum Burn Tracker mostram que, em média, 30 % a 40 % da oferta total de ETH tem sido queimada anualmente desde o lançamento do EIP‑1559. Em 2024, a queima anual chegou a 4,5 % da oferta total, superando a emissão de novos ETH (0,4 %).
Impacto no preço do ETH
Do ponto de vista econômico, quando a queima de taxas supera a emissão nova, o fornecimento líquido de ETH diminui. Essa escassez relativa tende a exercer pressão positiva sobre o preço, assumindo demanda constante ou crescente. Para investidores brasileiros, isso pode significar maior proteção contra a desvalorização causada por inflação alta.
Projeções de oferta a médio e longo prazo
Modelos de oferta‑demanda, como o apresentado pela Messari, projetam que, até 2030, o estoque total de ETH poderá apresentar um déficit acumulado de cerca de 10 % a 15 % em relação ao nível que teria sido atingido sem o Merge. Essa projeção considera:
- Taxa de queima média de 4 % ao ano.
- Emissão anual estabilizada em 0,4 %.
- Cenário de crescimento da demanda por transações e por staking.
É importante notar que fatores externos – como mudanças regulatórias no Brasil, adoção institucional ou eventos macroeconômicos – podem alterar essas estimativas.
Impactos para investidores e usuários brasileiros
O Merge traz implicações práticas que vão além da teoria econômica:
- Staking como fonte de renda: ao depositar 32 ETH (ou frações via serviços como Lido), usuários podem receber recompensas anuais de 4 % a 6 % ao ano, tributáveis conforme a legislação brasileira (IRPF – Ganho de Capital).
- Redução de custos de transação: embora o gas continue volátil, a eliminação da mineração diminui a concorrência por recursos computacionais, potencialmente estabilizando os preços.
- Maior segurança da rede: o PoS dificulta ataques de 51 %, pois requer a posse de grande quantidade de ETH, o que protege o ecossistema.
- Risco de lock‑up: fundos em staking ficam bloqueados por períodos de 7 a 14 dias ao solicitar retirada, o que pode afetar a liquidez.
Estratégias recomendadas
Para quem está começando, a recomendação é:
- Adquirir ETH em exchanges confiáveis (ex.: Mercado Bitcoin, Binance Brasil) e armazenar em carteiras que suportam staking.
- Considerar serviços de staking pools que permitem participar com valores menores que 32 ETH, pagando taxas de 5 % a 10 % sobre a recompensa.
- Monitorar o burn rate mensal via Etherscan para entender a dinâmica de oferta.
- Manter registro detalhado para fins de declaração de imposto de renda.
Perguntas Frequentes (FAQ)
Embora este artigo já tenha abordado os principais aspectos, algumas dúvidas são recorrentes entre os usuários brasileiros:
- O The Merge elimina completamente a mineração?
- Sim, a mineração PoW deixa de existir na rede principal. Contudo, os hashrate antigos ainda podem ser reutilizados em outras cadeias.
- Quanto tempo leva para retirar ETH do staking?
- O período de “withdrawal queue” pode variar, mas normalmente fica entre 7 e 14 dias, dependendo da demanda da rede.
- O que acontece se a queima de taxas for menor que a emissão?
- O fornecimento neto de ETH aumentaria, embora ainda em ritmo muito menor que antes do Merge.
Conclusão
O The Merge representou um marco histórico que transformou a economia do Ethereum. Ao reduzir drasticamente a emissão de novos ETH e combinar esse efeito com a queima de taxas introduzida pelo EIP‑1559, a rede passou a apresentar características deflacionárias que podem impulsionar o preço do token a longo prazo. Para o público brasileiro, as oportunidades surgem tanto no staking – que oferece renda passiva – quanto na perspectiva de valorização do ativo devido à escassez crescente.
Entretanto, é crucial acompanhar métricas como a taxa de participação, o volume de queima e as mudanças regulatórias que podem impactar a tributação e a adoção institucional. Manter-se bem informado, diversificar investimentos e registrar corretamente as operações são práticas essenciais para aproveitar os benefícios trazidos pelo Merge sem incorrer em riscos desnecessários.
Em síntese, o Merge não apenas tornou o Ethereum mais sustentável, como também redefiniu sua dinâmica de oferta, criando um ambiente mais favorável para investidores que buscam ativos digitais com fundamentos sólidos e potencial de valorização a médio e longo prazo.