Hacks em bridges de cripto: como se proteger em 2025

Hacks em bridges de cripto: como se proteger em 2025

As bridges (pontes) de criptomoedas são componentes críticos da infraestrutura DeFi, permitindo a transferência de ativos entre blockchains diferentes. Contudo, sua complexidade e a necessidade de confiar em código externo as tornam alvos privilegiados de ataques. Neste artigo profundo, vamos analisar os principais vetores de ataque, casos reais ocorridos entre 2022 e 2024, e oferecer um guia prático de mitigação para usuários brasileiros, sejam iniciantes ou intermediários.

Principais Pontos

  • Entenda a arquitetura típica de uma bridge e onde estão os pontos de falha.
  • Conheça os tipos de vulnerabilidades mais exploradas por hackers.
  • Estude casos reais de hacks que impactaram milhões de dólares.
  • Aprenda boas práticas e ferramentas de auditoria para proteger seus ativos.

O que são bridges de criptomoedas?

Uma bridge funciona como um relay entre duas redes blockchain distintas. Quando um usuário deseja mover um token da rede A para a rede B, a bridge bloqueia o token na cadeia de origem (geralmente via contrato inteligente) e emite um token sintético ou wrapped na cadeia de destino. Esse processo pode ser centralizado – controlado por uma entidade única – ou descentralizado, usando contratos inteligentes e oráculos distribuídos.

Para quem ainda não conhece, vale a leitura do Guia completo de bridges, que detalha como funciona cada etapa do processo.

Arquitetura típica de uma bridge

Embora existam variações, a maioria das bridges compartilha os seguintes componentes:

  1. Contrato de lock/unlock na cadeia de origem: retém o token original.
  2. Contrato de mint/burn na cadeia de destino: cria ou destrói o token sintético.
  3. Oráculo ou relayer: entidade responsável por observar eventos na cadeia de origem e disparar as chamadas correspondentes na cadeia de destino.
  4. Governança: mecanismo de atualização de código e parâmetros (por exemplo, taxas).

Quando algum desses componentes contém falhas, a ponte inteira pode ser comprometida.

Tipos de vulnerabilidades em bridges

1. Reentrância em contratos de lock/unlock

A reentrância permite que um atacante chame novamente o mesmo contrato antes que o estado seja atualizado, potencializando a retirada de fundos. Embora a maioria das bridges modernas use o padrão checks‑effects‑interactions, erros ainda surgem em implementações customizadas.

2. Falhas de validação de oráculos

Oráculos que não verificam a assinatura ou a confiança das fontes podem ser enganados, fazendo com que a bridge acredite que um bloqueio ocorreu quando, na realidade, o token ainda está livre. Ataques de oracle manipulation têm sido responsáveis por perdas significativas.

3. Problemas de upgradeability

Contratos upgradáveis (via proxy pattern) são convenientes, mas introduzem vetores de ataque se a conta de administração for comprometida. Em 2023, o hack da Nomad Bridge explorou exatamente essa falha.

4. Falhas de consenso em redes side‑chains

Algumas bridges dependem de side‑chains com consenso menos robusto que o da cadeia principal. Se um atacante controla 51% da side‑chain, pode falsificar eventos de bloqueio e gerar tokens sintéticos indevidos.

5. Vulnerabilidades de cross‑chain messaging

Protocolos de mensagem entre cadeias (como LayerZero ou Axelar) podem sofrer ataques de replay ou de falsificação de assinatura, permitindo a execução de transações não autorizadas.

Casos reais de hacks (2022‑2024)

Para entender a gravidade do problema, analisemos alguns incidentes de destaque:

1. Wormhole (Feb 2022)

Um atacante explorou uma vulnerabilidade de assinatura no contrato de verificação da bridge Wormhole, roubando cerca de US$ 320 mil (aproximadamente R$ 1,7 mi). O ataque foi possível porque o contrato permitia a inserção de endereços arbitrários sem validação adequada.

2. Nomad (Aug 2022)

Um bug na lógica de upgrade do contrato de ponte permitiu que o atacante emitisse tokens sintéticos ilimitados, resultando em perdas estimadas em US$ 190 mil (≈ R$ 1 mi).

3. Ronin (Mar 2023)

A ponte Ronin, utilizada pelo Axie Infinity, sofreu um ataque de 51% na side‑chain, possibilitando a transferência fraudulenta de US$ 620 milhões (≈ R$ 3,3 bi). O caso destacou a importância de auditorias de consenso.

4. PolyNetwork (Oct 2023)

Um atacante explorou falhas de validação de mensagens cross‑chain, roubando US$ 610 milhões (≈ R$ 3,2 bi). Apesar da devolução parcial dos fundos, o incidente reforçou a necessidade de mecanismos de verificação robustos.

5. LayerZero (Jun 2024)

Um exploit de replay em mensagens entre cadeias permitiu a criação de tokens falsos, gerando perdas de cerca de US$ 45 mil (≈ R$ 240 mi). O ataque foi mitigado rapidamente, mas trouxe à tona questões sobre a segurança dos protocolos de mensageria.

Métodos de ataque mais comuns

Exploração de contratos inteligentes

Os hackers analisam o bytecode em busca de funções vulneráveis, como delegatecall não restrito ou falta de checagem de limites. Ferramentas como Slither e MythX ajudam a identificar essas falhas.

Comprometimento de chaves de oráculos

Ao obter acesso a chaves privadas de oráculos, o atacante pode falsificar mensagens de bloqueio. Ataques de phishing e engenharia social são as vias mais comuns.

Manipulação de consenso

Em side‑chains com baixa descentralização, ataques de 51% podem ser realizados com relativamente poucos recursos. A compra de uma grande quantidade de tokens de validação pode ser suficiente.

Replay attacks em protocolos de messaging

Se a bridge não inclui um nonce ou timestamp único, mensagens podem ser retransmitidas por um atacante, provocando a execução duplicada de transações.

Ferramentas de auditoria e mitigação

Para reduzir riscos, desenvolvedores e usuários podem utilizar as seguintes ferramentas e práticas:

  • Static analysis: Slither, Mythril, Oyente.
  • Formal verification: Certora, VerX, K-framework.
  • Bug bounty platforms: Immunefi, HackerOne (muitos projetos de bridge têm programas ativos).
  • Testnet stress testing: Simular milhares de transações simultâneas para detectar gargalos.
  • Monitoramento de oráculos: Uso de múltiplos provedores e agregação de assinaturas.

Boas práticas para usuários brasileiros

Mesmo que a maior parte da segurança recaia sobre os desenvolvedores, os usuários podem adotar medidas preventivas:

  1. Preferir bridges auditadas: Verifique se o contrato passou por auditorias independentes e se há relatórios públicos (ex.: Auditorias de segurança).
  2. Limitar valores por transação: Não transfira todo o saldo de uma só vez. Divida em lotes menores.
  3. Usar carteiras com múltiplas assinaturas: Reduz o risco de comprometimento de uma única chave.
  4. Monitorar alertas de segurança: Siga canais como CryptoSec Brasil e grupos de Telegram especializados.
  5. Verificar a taxa de gas: Em momentos de alta congestão, ataques de front‑running podem ser mais lucrativos para hackers.

Impacto regulatório no Brasil

Em 2024, a CMN (Comissão de Valores Mobiliários) começou a exigir relatórios de risco para projetos que operam bridges envolvendo ativos considerados valores mobiliários. Além disso, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) reforçou diretrizes sobre a coleta de informações de usuários durante processos de verificação KYC em bridges.

Para empresas, isso significa a necessidade de:

  • Implementar políticas de governança robustas.
  • Manter registros de auditoria por, no mínimo, 5 anos.
  • Realizar avaliações de risco trimestrais.

Os usuários devem ficar atentos a anúncios da Banco Central sobre a classificação de tokens sintéticos e sua tributação.

Conclusão

As bridges de criptomoedas são essenciais para a interoperabilidade das redes, mas sua complexidade as coloca na mira de hackers sofisticados. Desde vulnerabilidades de reentrância até ataques de consenso em side‑chains, os vetores de risco são variados e em constante evolução. A combinação de auditorias técnicas rigorosas, boas práticas de governança e conscientização dos usuários é a melhor estratégia para mitigar perdas.

Para quem atua no ecossistema brasileiro, manter-se atualizado sobre as normas da CMN e da ANPD, bem como participar de comunidades de segurança, pode fazer a diferença entre proteger seu portfólio ou ser vítima de um próximo hack.

Fique atento, audite suas bridges e, acima de tudo, adote a postura de “defesa em profundidade”. O futuro das finanças descentralizadas depende da confiança que conseguimos construir hoje.