Imposto de Doação em Criptomoedas: Guia Completo 2025
Com o crescimento explosivo das criptomoedas no Brasil, a tributação sobre doações de ativos digitais tornou‑se um tema central para investidores, profissionais de contabilidade e entusiastas. Se você recebeu ou pretende doar Bitcoin, Ethereum ou qualquer outro token, é essencial entender como a Receita Federal trata essas operações e quais são as obrigações fiscais.
Principais Pontos
- Doação de cripto é considerada transmissão de bens e está sujeita ao Imposto de Doação (ITCMD).
- O valor de referência para cálculo é o valor de mercado da moeda na data da doação.
- Alíquotas variam de Estado para Estado, podendo chegar a 8%.
- É obrigatório declarar a doação na declaração de Imposto de Renda e, em alguns casos, apresentar a Guia de Recolhimento do ITCMD.
- Descumprimento pode gerar multas de até 20% do tributo devido e juros de mora.
O que é o Imposto de Doação (ITCMD)?
O ITCMD – Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação – é um tributo estadual que incide sobre a transferência gratuita de patrimônio entre pessoas vivas. Embora a maioria das discussões sobre criptomoedas foque no Imposto de Renda (IR), a doação de cripto também se enquadra nas regras do ITCMD, conforme a normativa da Receita Federal e as leis estaduais.
Base Legal no Brasil
Em 2016, a Lei nº 13.259 introduziu a obrigação de informar operações com cripto‑ativos ao fisco. Posteriormente, a Instrução Normativa RFB nº 1.888/2019 detalhou a forma de declaração e estabeleceu que a avaliação de cripto‑ativos deve ser feita pelo preço de mercado no dia da transação. Cada Estado possui sua própria Lei Complementar que define alíquotas e isenções para o ITCMD.
Como a Receita Federal Avalia a Doação de Criptomoedas?
A Receita utiliza fontes reconhecidas de preço, como a CoinMarketCap ou a CoinGecko, para determinar o valor de mercado na data da doação. O contribuinte deve registrar esse valor em reais (R$) e aplicá‑lo como base de cálculo do imposto.
Passo a passo para cálculo
- Identifique a data exata da doação.
- Consulte o preço médio da criptomoeda em reais no dia da transferência.
- Multiplique o preço pela quantidade de tokens doados.
- Apure a alíquota do ITCMD do seu Estado (geralmente entre 2% e 8%).
- Calcule o imposto devido e efetue o pagamento através da guia de recolhimento estadual.
Exemplo Prático
Imagine que João doa 0,5 BTC para sua irmã Maria em 15/03/2025. No mesmo dia, o preço médio do Bitcoin foi de R$ 260.000,00. O cálculo seria:
- Valor da doação: 0,5 × R$ 260.000,00 = R$ 130.000,00
- Alíquota do ITCMD no Estado de São Paulo: 4%
- Imposto devido: R$ 130.000,00 × 4% = R$ 5.200,00
João deverá gerar a guia de recolhimento do ITCMD-SP, pagar R$ 5.200,00 e informar a operação na sua declaração de Imposto de Renda, utilizando o campo “Doações”.
Declaração no Imposto de Renda
A doação de cripto deve ser declarada em duas áreas distintas:
- Rendimentos Isentos e Não Tributáveis: informe o valor da doação recebido (para o donatário) ou realizado (para o doador) como “Doação de bens e direitos”.
- Imposto Pago/Retido: registre o pagamento do ITCMD na ficha “Imposto Pago”.
É recomendável anexar a nota de corretagem ou a transação da carteira digital que comprove a transferência, bem como o comprovante de pagamento da guia estadual.
Modelo de preenchimento da ficha “Doações”
Na ficha Doações, escolha o código “99 – Outros bens e direitos”. Preencha os campos:
- Descrição: “Doação de 0,5 BTC (Bitcoin) – valor de mercado R$ 260.000,00”.
- Data da Doação: 15/03/2025.
- Valor: R$ 130.000,00.
- Nome do Beneficiário: Maria da Silva.
Obrigações Acessórias e Prazos
Além do pagamento do ITCMD, os contribuintes devem observar os seguintes prazos:
- Pagamento do ITCMD: geralmente até o último dia do mês subsequente à doação, conforme calendário estadual.
- Declaração de Imposto de Renda: até 30 de abril do ano seguinte à doação.
- Comunicação ao Banco Central: não se aplica diretamente ao ITCMD, mas a Receita pode solicitar informações adicionais sobre a origem dos recursos.
Multas e Juros
O não recolhimento ou a declaração incorreta podem acarretar:
- Multa de 20% sobre o imposto devido, limitada a R$ 20.000,00.
- Juros de mora calculados com base na taxa Selic acumulada mensalmente.
- Possibilidade de fiscalização mais profunda, que pode envolver a análise de todas as carteiras digitais do contribuinte.
Dicas Práticas para Evitar Problemas Fiscais
- Registre todas as transações: mantenha logs detalhados de data, hora, quantidade e preço em reais.
- Use plataformas que fornecem relatórios: exchanges brasileiras como Mercado Bitcoin, Foxbit e Binance Brasil oferecem relatórios CSV que facilitam a apuração.
- Contrate um contador especializado em cripto‑ativos para validar o cálculo do ITCMD e garantir o preenchimento correto da declaração.
- Planeje a doação com antecedência para aproveitar possíveis isenções ou alíquotas menores em determinados estados.
- Guarde comprovantes de pagamento da guia estadual por, no mínimo, 5 anos, pois a Receita pode solicitar a documentação.
Impacto da Legislação Futuras
A evolução normativa no Brasil tem sido acelerada. Projetos de lei em tramitação podem unificar alíquotas de ITCMD em todo o território nacional ou criar regimes especiais para cripto‑ativos de pequeno valor. Fique atento às publicações da Receita Federal e das Assembleias Legislativas estaduais.
FAQ – Perguntas Frequentes
A doação de criptomoedas está isenta de ITCMD?
Em geral, não. O ITCMD incide sobre o valor de mercado da criptomoeda na data da doação, salvo se o Estado conceder isenção específica para valores abaixo de determinado limite.
Como provar o valor de mercado da cripto no dia da doação?
Use a cotação média de duas fontes reconhecidas (por exemplo, CoinMarketCap e CoinGecko) e anexe prints ou arquivos CSV como comprovante.
Preciso pagar ITCMD se a doação for de menos de R$ 2.000?
Alguns Estados estabelecem isenção para doações até R$ 2.000 ou R$ 5.000. Verifique a legislação do seu Estado; caso haja isenção, ainda assim a operação deve ser declarada.
Conclusão
O imposto de doação em criptomoedas é uma realidade que exige atenção detalhada dos contribuintes brasileiros. O cálculo correto, o pagamento dentro do prazo e a declaração transparente são pilares para evitar multas e garantir a conformidade fiscal. Ao seguir as orientações apresentadas neste guia, você reduz riscos, otimiza a gestão patrimonial e se mantém alinhado às exigências da Receita Federal e das legislações estaduais. Mantenha registros organizados, consulte um profissional especializado e acompanhe as mudanças legislativas para estar sempre um passo à frente.