Introdução: Por que a aleatoriedade é o alicerce da segurança das carteiras
Em cripto‑economia, a segurança de uma carteira começa no momento em que a chave privada é gerada. Se a fonte de aleatoriedade (randomness) for previsível, todo o seu patrimônio pode ser comprometido em questão de minutos. Por isso, entender como garantir uma boa fonte de aleatoriedade ao criar sua carteira é essencial tanto para usuários iniciantes quanto para desenvolvedores avançados.
1. Conceitos básicos de aleatoriedade criptográfica
Ao contrário dos números aleatórios “visuais” que usamos em jogos, a aleatoriedade criptográfica precisa ser não determinística e imprevisível. Os principais requisitos são:
- Entropia suficiente: quantidade de informação imprevisível.
- Uniformidade: todos os valores possíveis devem ter a mesma probabilidade.
- Resistência a ataques de reprodução: um atacante não deve conseguir reproduzir a sequência a partir de observações passadas.
Esses requisitos são atendidos por geradores de números aleatórios (RNGs) classificados como True Random Number Generators (TRNG) ou Crypographically Secure Pseudo‑Random Number Generators (CSPRNG).
2. Fontes de aleatoriedade nativas dos sistemas operacionais
Os sistemas modernos já oferecem APIs robustas:
- Linux:
/dev/urandom
e/dev/random
. - Windows:
CryptGenRandom
e a APIBCryptGenRandom
. - macOS:
SecRandomCopyBytes
.
Essas APIs coletam entropia de fontes como interrupções de hardware, variação de temperatura e movimentos do mouse. Contudo, ao usar bibliotecas JavaScript no navegador, a entropia pode ser limitada.

3. Desafios da aleatoriedade no ambiente Web
Ao gerar chaves em wallets client‑side (por exemplo, Metamask ou carteiras de hardware ligadas ao navegador), o JavaScript depende do window.crypto.getRandomValues()
. Embora seja considerado seguro, problemas surgem quando:
- O usuário utiliza um navegador desatualizado ou vulnerável.
- O código é carregado de um CDN comprometido.
- Extensões de navegador interceptam ou manipulam a chamada.
Para mitigar esses riscos, recomenda‑se combinar a fonte nativa com oráculos de aleatoriedade descentralizados, como o Chainlink VRF (Verifiable Random Function). Essa solução cria um número aleatório verificável on‑chain, impossível de ser manipulado por nenhum agente central.
4. Oráculos de aleatoriedade: a ponte entre blockchain e entropia real
Os oráculos resolvem o problema do oráculo – a dificuldade de trazer dados externos confiáveis para a blockchain. No contexto de aleatoriedade, eles fornecem:
- Geradores verificáveis (ex.: Chainlink VRF).
- Transparência: o hash da seed é publicado antes da geração, garantindo que o provedor não possa alterar o resultado.
- Descentralização: múltiplos nós participam da coleta de entropia.
Para saber mais sobre como a Chainlink lida com esse desafio, confira nosso artigo Como a Chainlink resolve o problema do oráculo. Ele detalha a arquitetura, custos e casos de uso práticos.
5. Estratégias práticas para garantir aleatoriedade ao criar sua carteira
- Use bibliotecas auditadas: Bibliotecas como
ethers.js
,web3.js
ebitcoinjs-lib
já incorporam chamadas ao CSPRNG do navegador ou do sistema. - Combine múltiplas fontes: Mescle entropia do sistema operacional, eventos de usuário (movimento do mouse, pressionamento de teclas) e, se possível, um oráculo externo.
- Verifique a integridade do código: Sempre carregue scripts de fontes confiáveis (HTTPS, SRI – Subresource Integrity) e evite extensões desconhecidas.
- Considere hardware wallets: Dispositivos como Ledger ou Trezor geram chaves dentro de um ambiente isolado, usando fontes de entropia de hardware certificadas.
- Teste a entropia: Ferramentas como Random.org ou bibliotecas de análise de entropia podem validar a qualidade da seed gerada.
6. Quando usar um oráculo de aleatoriedade descentralizado?
Embora as fontes nativas sejam suficientes para a maioria dos usuários, há casos onde um oráculo é imprescindível:

- Contratos inteligentes que dependem de sorteios justos (lotérias, airdrops).
- Jogos on‑chain que requerem aleatoriedade verificável.
- Protocolos DeFi que utilizam randomness para distribuição de recompensas.
Nesses cenários, a transparência oferecida por um Verifiable Random Function elimina disputas e protege contra manipulação por mineradores ou validadores.
7. Boas práticas de armazenamento da seed
Mesmo com a geração correta, a segurança falha se a seed for armazenada de forma inadequada. Recomenda‑se:
- Armazenar a seed offline (papel, hardware wallet).
- Utilizar gerenciadores de senhas com criptografia forte.
- Não compartilhar a seed em nenhum canal digital.
8. Checklist rápido para validar sua fonte de aleatoriedade
Item | Como Verificar |
---|---|
API nativa disponível | Teste window.crypto.getRandomValues() no console. |
Biblioteca auditada | Confira a assinatura no GitHub oficial. |
Oráculo integrado (opcional) | Verifique a chamada ao contrato VRF da Chainlink. |
Entropia combinada | Use eventos de mouse/teclado como fonte adicional. |
Seed armazenada com segurança | Não salvar em arquivos de texto simples. |
Conclusão
Garantir uma boa fonte de aleatoriedade ao criar sua carteira não é opcional – é a primeira linha de defesa contra ataques que podem comprometer todo o seu portfólio. Ao combinar APIs nativas, bibliotecas auditadas e, quando necessário, oráculos descentralizados como o Chainlink VRF, você eleva a segurança a um patamar profissional.
Para aprofundar ainda mais, leia também Oráculo Centralizado vs Descentralizado: O Guia Definitivo, que traz comparações detalhadas entre diferentes abordagens de oráculos.