Como garantir uma boa fonte de aleatoriedade para a criação de sua carteira
Ao gerar uma nova carteira de criptomoedas, a qualidade da aleatoriedade utilizada para criar a seed (frase de recuperação) é o fator determinante da segurança dos seus ativos. Uma seed fraca pode ser explorada por atacantes, levando ao roubo de fundos. Neste guia aprofundado, explicaremos o que é aleatoriedade criptográfica, quais são as melhores práticas para garantir fontes seguras e como validar a robustez do seu processo de geração.
O que torna a aleatoriedade “criptograficamente segura”?
Ao contrário de um gerador de números aleatórios (RNG) tradicional, usado em jogos ou simulações, um RNG criptográfico (CSPRNG) deve obedecer a critérios rigorosos:
- Imprevisibilidade: Não deve ser possível prever o próximo número mesmo conhecendo parte da sequência.
- Uniformidade: Cada valor dentro do espaço de saída tem a mesma probabilidade.
- Resistência a ataques de estado: Mesmo que parte do estado interno seja comprometido, o atacante não consegue reconstruir a sequência anterior ou futura.
Essas propriedades são essenciais porque a seed de uma carteira normalmente contém 128 ou 256 bits de entropia – o que equivale a ~39 ou ~78 caracteres aleatórios. Qualquer viés pode reduzir drasticamente a segurança.
Fontes confiáveis de entropia
Existem três categorias principais de fontes de entropia que podem ser combinadas para gerar uma seed robusta:
- Hardware: Dispositivos como geradores de números aleatórios baseados em hardware (por exemplo, chips TRNG em placas Ledger ou Trezor) oferecem entropia física proveniente de fenômenos quânticos ou térmicos.
- Sistemas operacionais: Sistemas modernos (Linux, macOS, Windows) expõem APIs como
/dev/urandom
ouCryptGenRandom
, que já mesclam múltiplas fontes de ruído (movimento do mouse, latência de rede, etc.). - Coleta de ruído externo: Em ambientes onde o hardware pode ser suspeito, é possível combinar fontes de ruído de usuários (movimentos do mouse, pressionamento de teclas, tempo entre cliques) e de rede (latência de pacotes) para aumentar a entropia.
Passo a passo para gerar uma seed segura
Segue um procedimento recomendado para desenvolvedores e usuários avançados:
- Utilize sempre uma API de CSPRNG nativa do sistema operacional. Em JavaScript, por exemplo,
crypto.getRandomValues()
fornece bytes criptograficamente seguros. - Se estiver usando um hardware wallet, confie apenas em dispositivos certificados (Ledger, Trezor, SafePal). Eles já implementam um CSPRNG interno que não pode ser acessado externamente.
- Combine entropia de múltiplas fontes. Uma prática comum é concatenar o output de
/dev/urandom
com um hash SHA‑256 dos movimentos do mouse coletados em tempo real. - Hash o resultado final com SHA‑256 ou SHA‑512 para uniformizar a distribuição.
- Converta os bits em palavras usando o padrão BIP‑39, que mapeia 11 bits por palavra em um dicionário de 2048 termos.
Validação da qualidade da seed
Depois de gerar a seed, verifique:
- Se o número de bits de entropia corresponde ao esperado (128 ou 256 bits).
- Se a frase resultante possui 12 ou 24 palavras, conforme o padrão BIP‑39.
- Se o checksum está correto – o último byte da hash SHA‑256 da entropia deve coincidir com os bits de verificação incluídos na frase.
Ferramentas como Ian Coleman’s BIP‑39 Tool permitem validar offline, sem enviar dados a servidores externos.
Integração com wallets existentes
Para quem já utiliza uma carteira, a melhor prática é migrar para uma seed gerada de forma segura ao invés de reutilizar frases antigas. Veja nosso artigo sobre O que é uma chave privada? para entender a relação entre seed, chave privada e endereço.
Se preferir um tutorial prático de geração segura usando um wallet popular, confira o OKX Wallet tutorial, que demonstra passo a passo a criação de uma seed com verificação de entropia.
Referências externas de autoridade
Para aprofundar ainda mais, consulte:
Seguindo essas recomendações, você garante que sua carteira seja protegida por uma fonte de aleatoriedade robusta, diminuindo drasticamente o risco de comprometimento.