O que é o “Ethers.js” e “Web3.js”? Guia Completo para Desenvolvedores de Blockchain

O que é o “Ethers.js” e “Web3.js”? Guia Completo para Desenvolvedores de Blockchain

Nos últimos anos, o ecossistema Web3 tem crescido de forma exponencial, trazendo novas oportunidades para desenvolvedores, investidores e entusiastas de criptomoedas. Dois dos frameworks mais populares para interação com a blockchain Ethereum são o Ethers.js e o Web3.js. Embora ambos permitam a criação de aplicações descentralizadas (dApps), eles diferem em termos de arquitetura, usabilidade, tamanho da biblioteca e suporte da comunidade. Neste artigo, vamos analisar detalhadamente o que cada um oferece, quando usar um ou outro, e como integrá‑los ao seu projeto.

1. Visão geral das bibliotecas

1.1 Ethers.js

Ethers.js foi criado por Richard Moore em 2015 com o objetivo de ser leve, modular e fácil de usar. A biblioteca foca em oferecer uma API limpa para:

  • Conectar a nós Ethereum (via JSON‑RPC, Infura, Alchemy, etc.).
  • Gerenciar carteiras (wallets) e assinar transações.
  • Interagir com contratos inteligentes usando ABIs (Application Binary Interface).
  • Ler e escrever dados na blockchain de forma segura.

O tamanho da bundle é aproximadamente 200 KB (minificado), o que a torna ideal para aplicações que precisam de performance e tempo de carregamento rápido.

1.2 Web3.js

Web3.js, mantido pela comunidade Ethereum Foundation, surgiu em 2015 como a primeira biblioteca JavaScript oficial para interação com a rede Ethereum. Ela oferece um conjunto abrangente de funcionalidades, incluindo:

  • Conexão a nós via HttpProvider, WebsocketProvider e IPCProvider.
  • Gerenciamento de contas, assinatura de mensagens e transações.
  • Eventos de contratos e filtragem de logs.
  • Integração nativa com MetaMask e outras carteiras de navegador.

O bundle completo pode ultrapassar 500 KB, o que pode impactar a velocidade de carregamento em dispositivos móveis.

2. Comparativo técnico

Critério Ethers.js Web3.js
Tamanho da bundle ~200 KB (minificado) ~500 KB (minificado)
Modularidade Altamente modular – você importa apenas o que usa Menos modular – a maioria das funcionalidades vem por padrão
Tipagem TypeScript Suporte nativo e completo Suporte parcial; requer definições externas
Manutenção Atualizações frequentes, comunidade ativa no GitHub Manutenção mais lenta, apesar de ser oficial
Documentação Clara, exemplos práticos, site oficial ethers.io Extensa, porém às vezes desatualizada
Integração com wallets Compatível com MetaMask, WalletConnect, Ledger, etc. Integração nativa com MetaMask, menos flexível para outras wallets

3. Quando escolher Ethers.js?

Ethers.js brilha em cenários onde a performance e a experiência de desenvolvimento são cruciais:

  • Aplicações front‑end leves: DApps que rodam em navegadores móveis, onde cada kilobyte conta.
  • Projetos TypeScript: Tipagem segura reduzindo bugs em tempo de compilação.
  • Integração com serviços externos como Infura, Alchemy ou Cloudflare Ethereum Gateway.
  • Desenvolvimento de scripts de backend (Node.js) que precisam de rapidez e baixo consumo de memória.

Exemplo rápido de como conectar a um contrato ERC‑20 usando Ethers.js:

O que é o
Fonte: Markus Spiske via Unsplash

import { ethers } from "ethers";

const provider = new ethers.providers.InfuraProvider("homestead", "YOUR_INFURA_KEY");
const erc20Abi = ["function balanceOf(address) view returns (uint256)", "function transfer(address,uint256) returns (bool)"];
const tokenAddress = "0x6B175474E89094C44Da98b954EedeAC495271d0F"; // DAI
const contract = new ethers.Contract(tokenAddress, erc20Abi, provider);

async function getBalance(wallet) {
  const balance = await contract.balanceOf(wallet);
  console.log(`Balance: ${ethers.utils.formatUnits(balance, 18)} DAI`);
}

getBalance("0xYourAddressHere");

4. Quando optar por Web3.js?

Web3.js ainda é a escolha padrão em vários projetos legados e em situações onde a compatibilidade total com o ecossistema Ethereum é necessária:

  • Projetos que já utilizam web3 há anos e não desejam migrar.
  • Plataformas que dependem de recursos avançados como web3.eth.subscribe para eventos em tempo real.
  • Ambientes que exigem suporte a IPCProvider em nodes locais.

Um exemplo de leitura de saldo usando Web3.js:


const Web3 = require('web3');
const web3 = new Web3('https://mainnet.infura.io/v3/YOUR_INFURA_KEY');
const tokenAbi = [{"constant":true,"inputs":[{"name":"_owner","type":"address"}],"name":"balanceOf","outputs":[{"name":"balance","type":"uint256"}],"type":"function"}];
const tokenAddress = '0x6B175474E89094C44Da98b954EedeAC495271d0F'; // DAI
const contract = new web3.eth.Contract(tokenAbi, tokenAddress);

async function getBalance(address) {
  const balance = await contract.methods.balanceOf(address).call();
  console.log('Balance:', web3.utils.fromWei(balance, 'ether'), 'DAI');
}

getBalance('0xYourAddressHere');

5. Integração com carteiras digitais

Tanto Ethers.js quanto Web3.js oferecem suporte a MetaMask, mas a forma de integração difere:

  • Ethers.js utiliza new ethers.providers.Web3Provider(window.ethereum), permitindo acesso a signer para assinar transações.
  • Web3.js usa window.ethereum.enable() (ou ethereum.request({method: 'eth_requestAccounts'})) e depois cria uma instância web3.eth.

Ambas as abordagens são compatíveis com WalletConnect, o que amplia a base de usuários que podem interagir com seu dApp.

6. Segurança e boas práticas

Independentemente da biblioteca escolhida, a segurança deve ser prioridade:

  1. Valide sempre os inputs do usuário antes de gerar transações.
  2. Use contratos verificados no Etherscan para garantir que a ABI corresponde ao código publicado.
  3. Armazene chaves privadas fora do front‑end; utilize KMS ou hardware wallets.
  4. Implemente limites de gas e monitore o nonce para evitar ataques de replay.

7. Ecossistema e recursos de aprendizado

Para aprofundar seu conhecimento, recomendamos a leitura dos seguintes artigos do nosso site, que complementam este guia:

O que é o
Fonte: Markus Spiske via Unsplash

Além disso, consulte a documentação oficial de cada biblioteca para obter exemplos atualizados:

8. Futuro das bibliotecas JavaScript para Ethereum

Com a evolução das Ethereum Layer‑2 (Optimism, Arbitrum, zkSync) e o surgimento de novas blockchains compatíveis com EVM (Polygon, BSC, Avalanche), as bibliotecas precisam se adaptar rapidamente. Tanto Ethers.js quanto Web3.js já oferecem suporte a providers de Layer‑2, mas espera‑se que:

  • Ethers.js continue a liderar em termos de modularidade e TypeScript, tornando‑se a escolha preferida para projetos modernos.
  • Web3.js mantenha sua base de usuários legada e talvez se concentre em recursos avançados de event streaming e batch requests.

Independentemente da escolha, dominar ambas as bibliotecas aumenta sua versatilidade como desenvolvedor Web3.

Conclusão

Em resumo, Ethers.js e Web3.js são ferramentas poderosas para interação com a blockchain Ethereum. Ethers.js destaca‑se pela leveza, tipagem forte e API intuitiva, sendo ideal para aplicações modernas e mobile‑first. Web3.js, por sua vez, oferece uma gama mais ampla de funcionalidades e compatibilidade total com projetos já existentes.

Escolha a biblioteca que melhor se alinha aos requisitos do seu projeto, mas não hesite em experimentar ambas – o conhecimento de ambas pode ser um diferencial competitivo no mercado de desenvolvedores Web3.