ERC-20 Tokens: O que são, como funcionam e por que importam
Desde que o Ethereum foi lançado em 2015, o padrão ERC-20 tornou‑se a espinha dorsal dos tokens digitais que circulam nas exchanges, nos protocolos DeFi e nos projetos de NFTs. Para quem está iniciando no universo cripto ou já possui alguma experiência, compreender a fundo o que são os ERC-20 tokens é essencial para tomar decisões informadas, evitar golpes e participar de forma segura das oportunidades emergentes.
Principais Pontos
- ERC-20 é um padrão técnico definido por Ethereum Request for Comments (ERC).
- Define um conjunto mínimo de funções que um contrato inteligente deve implementar para ser considerado um token compatível.
- Facilita a interoperabilidade entre wallets, exchanges e aplicativos descentralizados (dApps).
- É a base de milhares de projetos, desde stablecoins como USDT até tokens de governança como UNI.
O que é o padrão ERC-20?
ERC-20, abreviação de Ethereum Request for Comments 20, foi proposto pela primeira vez por Fabian Vogelsteller e Vitalik Buterin em novembro de 2015. O objetivo era criar um padrão simples e universal para que desenvolvedores pudessem emitir tokens sem precisar reinventar a lógica de transferência, aprovação e consulta de saldo a cada novo projeto.
Um contrato inteligente que segue o padrão ERC-20 implementa, no mínimo, seis funções públicas e dois eventos:
totalSupply()– retorna o número total de tokens em circulação.balanceOf(address account)– retorna o saldo de tokens de um endereço.transfer(address recipient, uint256 amount)– transfere tokens do remetente para outro endereço.allowance(address owner, address spender)– quantidade que o spender está autorizado a gastar.approve(address spender, uint256 amount)– autoriza um spender a gastar atéamounttokens.transferFrom(address sender, address recipient, uint256 amount)– permite que o spender mova tokens em nome do sender.- Evento
Transfer(address indexed from, address indexed to, uint256 value). - Evento
Approval(address indexed owner, address indexed spender, uint256 value).
Essas funções criam uma interface padronizada que wallets como Metamask, Trust Wallet e hardware wallets reconhecem automaticamente, reduzindo a necessidade de integração personalizada.
Como funciona na prática?
Quando um desenvolvedor decide criar um token ERC-20, ele escreve um contrato inteligente em Solidity (a linguagem de programação mais usada no Ethereum). O contrato é então implantado na blockchain, recebendo um endereço único (por exemplo, 0x1234...abcd). A partir desse endereço, qualquer carteira ou dApp pode interagir com o token usando as funções padrão.
Vamos analisar um fluxo típico de transferência:
- O usuário A possui 1.000 tokens XYZ (um ERC-20).
- A aplicação dApp chama
transfer(address recipient, uint256 amount)no contrato XYZ, especificando o endereço de B e a quantidade desejada. - O contrato verifica se A tem saldo suficiente e, em caso afirmativo, atualiza os saldos internos e dispara o evento
Transfer. - Qualquer carteira que escuta o evento
Transferatualiza automaticamente o saldo exibido ao usuário.
Esse processo ocorre em poucos segundos (ou minutos, dependendo da congestão da rede) e é registrado de forma imutável em um bloco da blockchain.
Por que o ERC-20 se tornou tão popular?
Existem três pilares que explicam o sucesso massivo do padrão:
1. Interoperabilidade
Ao seguir um conjunto de regras bem definido, os tokens podem ser listados em qualquer exchange que suporte Ethereum sem necessidade de integração customizada. Isso facilita a liquidez e a adoção.
2. Simplicidade de desenvolvimento
O padrão reduz drasticamente o tempo de implementação. Projetos podem focar na lógica de negócio (governança, staking, recompensas) sem reinventar a camada de token.
3>Ecossistema robusto
Ferramentas como Guia Ethereum, frameworks OpenZeppelin e serviços de auditoria já oferecem bibliotecas prontas para ERC-20, garantindo segurança e conformidade.
ERC-20 vs outros padrões (ERC-721, ERC-1155)
Embora ERC-20 seja o padrão mais conhecido, ele não serve para todos os casos de uso. Quando precisamos representar ativos não fungíveis (NFTs) ou combinar fungibilidade e não‑fungibilidade, surgem outros padrões:
- ERC-721: Cada token tem um identificador único. Ideal para obras de arte digitais, colecionáveis e imóveis virtuais.
- ERC-1155: Permite que um único contrato gerencie múltiplos tipos de tokens, fungíveis e não‑fungíveis, reduzindo custos de gas.
Entretanto, para moedas digitais, stablecoins e tokens de utilidade que precisam ser intercambiáveis 1:1, o ERC-20 continua sendo a escolha padrão.
Casos de uso no Brasil
O mercado cripto brasileiro tem adotado amplamente os tokens ERC-20. Abaixo, alguns exemplos relevantes:
1. Stablecoins lastreadas em Real (BRL)
Projetos como o BRL Token (BRLT) utilizam ERC-20 para criar uma stablecoin atrelada ao real, facilitando pagamentos e remessas internacionais com volatilidade mínima.
2. Tokens de governança de protocolos DeFi
Plataformas como Uniswap (UNI) e Aave (AAVE) têm grande base de usuários no Brasil. Os holders de seus tokens ERC-20 participam de decisões de protocolo, como ajustes de taxas e lançamentos de novos pools.
3. Programas de fidelidade e rewards
Empresas fintech e startups de jogos lançam tokens ERC-20 como incentivos para usuários que completam desafios, compram produtos ou mantêm saldo em suas plataformas.
Como criar seu próprio ERC-20 token
Se você tem uma ideia de projeto e deseja emitir seu próprio token, siga estas etapas técnicas:
- Defina os parâmetros econômicos: nome, símbolo, número de casas decimais e totalSupply.
- Escolha uma biblioteca segura: OpenZeppelin fornece contratos já auditados, como
ERC20.soleERC20Burnable.sol. - Escreva o contrato em Solidity:
pragma solidity ^0.8.0; import "@openzeppelin/contracts/token/ERC20/ERC20.sol"; contract MeuToken is ERC20 { constructor(uint256 initialSupply) ERC20("MeuToken", "MTK") { _mint(msg.sender, initialSupply * 10 ** decimals()); } } - Teste localmente com Hardhat ou Truffle, simulando transferências e aprovações.
- Audite o código – contrate uma empresa reconhecida ou use ferramentas como Slither.
- Implante na rede principal (Mainnet) ou em testnets como Goerli para validar o processo de deployment.
- Registre o contrato em exploradores como Etherscan, que automaticamente reconhece ERC-20 e exibe o token.
O custo de deployment (taxa de gas) varia conforme a congestão da rede. Em 20/11/2025, o preço médio do gas está em torno de 30 Gwei, o que corresponde a aproximadamente R$ 180,00 para um contrato simples.
Segurança e armadilhas comuns
Embora o padrão seja simples, desenvolvedores e usuários podem cair em vulnerabilidades:
- Reentrancy – embora menos comum em ERC-20, contratos que interagem com outros contratos devem usar o padrão
checks‑effects‑interactions. - Overflow/underflow – versões antigas do Solidity não possuíam checagem automática; use
SafeMathou versões ^0.8.0 que já incluem proteção. - Approve/transferFrom race condition – ao mudar a permissão, recomenda‑se primeiro zerar o valor anterior para evitar gastos indevidos.
- Phishing e tokens falsos – sempre verifique o endereço do contrato no Etherscan antes de enviar fundos.
ERC-20 no futuro: evoluções e propostas
O ecossistema está constantemente evoluindo. Algumas propostas relevantes que podem impactar o ERC‑20 incluem:
- EIP-2612 (Permit): permite aprovações via assinatura off‑chain, reduzindo a necessidade de duas transações (
approve+transferFrom). - EIP-777: adiciona funcionalidades avançadas como callbacks, tornando a interação mais segura contra ataques de transferência inesperada.
- L2 solutions (Arbitrum, Optimism, zkSync): migração de tokens ERC‑20 para camadas de segunda camada reduz drasticamente custos de gas, mantendo compatibilidade.
Essas melhorias visam tornar o padrão mais eficiente e amigável ao usuário, sem comprometer a interoperabilidade.
Conclusão
Os tokens ERC‑20 são a base da economia tokenizada que movimenta bilhões de dólares diariamente. Seu design simples, aliado a uma comunidade de desenvolvedores ativa, garante que o padrão continue relevante nos próximos anos, especialmente com a adoção crescente de soluções L2 e propostas de aprimoramento como EIP‑2612.
Seja você um investidor que deseja avaliar projetos, um desenvolvedor planejando lançar um novo token ou simplesmente um entusiasta que quer entender como funciona a infraestrutura subjacente, dominar os conceitos apresentados aqui é fundamental para navegar com confiança no vibrante ecossistema cripto brasileiro.