Diferença entre um SBT e um NFT tradicional: tudo o que você precisa saber

Diferença entre um SBT e um NFT tradicional

Nos últimos anos, a explosão dos tokens não‑fungíveis (NFTs) trouxe uma nova forma de representar propriedade digital, arte, colecionáveis e até mesmo direitos de uso. Contudo, o universo dos tokens está em constante evolução e, recentemente, surgiu uma variante que tem chamado a atenção de desenvolvedores, investidores e reguladores: o Soulbound Token (SBT). Embora ambos – SBTs e NFTs tradicionais – compartilhem a mesma base tecnológica (ERC‑721 ou ERC‑1155), suas finalidades, características e impactos no ecossistema são drasticamente diferentes.

1. O que é um NFT tradicional?

Um NFT (Non‑Fungible Token) é um token criptográfico que representa um bem único e indivisível. Cada NFT possui um identificador exclusivo que o diferencia de todos os demais tokens da mesma coleção. Essa unicidade permite que o token seja usado para comprovar a propriedade de ativos digitais como obras de arte, vídeos, músicas, itens de jogos, entre outros.

  • Transferibilidade: a maior característica dos NFTs tradicionais é que eles podem ser comprados, vendidos ou trocados livremente em marketplaces como OpenSea ou Rarible.
  • Liquidez: devido à sua natureza negociável, muitos NFTs alcançam alta liquidez, especialmente quando vinculados a projetos de grande visibilidade.
  • Uso de metadata: os NFTs carregam metadados que descrevem o ativo (nome, descrição, atributos, links para arquivos armazenados em IPFS, etc.).

Para quem ainda não está familiarizado, vale a leitura do artigo da Wikipedia sobre NFTs, que oferece uma visão geral abrangente.

2. O que é um Soulbound Token (SBT)?

O conceito de SBT foi introduzido por Vitalik Buterin e outros pesquisadores em um paper de 2022, inspirado nos “soulbound items” dos jogos de RPG – itens que, uma vez equipados, não podem ser transferidos para outro personagem. Na prática, um SBT é um token não transferível que fica “atado” à carteira (ou “alma”) que o recebeu.

  • Imutabilidade de propriedade: depois de emitido, o SBT não pode ser vendido ou trocado. Ele permanece ligado ao endereço que o recebeu, reforçando a ideia de que representa algo inerente ao usuário (credenciais, certificações, reputação).
  • Aplicações de identidade: SBTs podem ser usados como diplomas digitais, certificados de participação, credenciais de emprego ou comprovação de propriedade de ativos off‑chain.
  • Privacidade e compliance: ao vincular informações verificáveis a um endereço, é possível criar sistemas de reputação descentralizados que ajudam a mitigar fraudes e a cumprir requisitos regulatórios.

Em termos técnicos, a diferença mais visível está na lógica de contrato: enquanto um contrato ERC‑721 padrão permite a função transferFrom, o contrato de um SBT sobrescreve ou remove essa funcionalidade, tornando a transferência impossível.

3. Principais diferenças funcionais

Característica SBT (Soulbound Token) NFT Tradicional
Transferibilidade Não transferível Transferível livremente
Uso típico Credenciais, identidade, reputação Arte, colecionáveis, itens de jogo
Liquidez de mercado Praticamente inexistente Alta (dependendo da demanda)
Risco de revogação Baixo (a não ser que o contrato tenha lógica de queima) Possibilidade de queima ou destruição
Impacto na tokenomics Enfatiza mecanismos de queima de tokens ou lock‑up Foco em valorização de preço e royalties

4. Quando usar SBT ao invés de NFT?

Escolher entre SBT e NFT depende do objetivo do projeto. Abaixo, listamos alguns cenários em que o SBT se destaca:

Diferença entre um SBT e um NFT tradicional - choosing between
Fonte: holigil 27 via Unsplash
  1. Credenciais verificáveis: universidades podem emitir diplomas como SBTs, garantindo que o certificado seja intransferível e sempre associado ao aluno.
  2. Reputação descentralizada: plataformas de freelancers podem atribuir SBTs que reflitam avaliações positivas, dificultando a criação de perfis falsos.
  3. Programas de fidelidade: ao invés de pontos que podem ser trocados, um SBT pode representar um nível de status (por exemplo, “Membro Ouro”) que não pode ser vendido.
  4. Compliance KYC/AML: ao ligar a identidade real a um SBT, exchanges podem reduzir a necessidade de processos manuais, mantendo a privacidade do usuário.

Em todos esses casos, a não transferibilidade** é um recurso de segurança que evita a revenda de credenciais ou a manipulação de reputação.

5. Impactos econômicos e de tokenomics

Embora SBTs não sejam negociáveis, eles ainda influenciam a economia de um projeto. Por exemplo, ao combinar SBTs com restaking ou EigenLayer, é possível criar incentivos onde usuários que mantêm certos SBTs recebem recompensas adicionais por participar de pools de segurança.

Além disso, projetos que utilizam SBTs podem adotar mecanismos de queima de tokens para controlar a oferta total, como descrito em Mecanismos de Queima de Tokens. A queima pode ser disparada quando um usuário recebe um SBT, reduzindo a circulação e potencialmente valorizando os tokens restantes.

6. Desafios e considerações regulatórias

O caráter permanente e intransferível dos SBTs levanta questões importantes:

  • Direito ao esquecimento: em algumas jurisdições, usuários podem solicitar a remoção de dados pessoais. Como um SBT está atrelado ao endereço, a remoção pode ser tecnicamente complexa.
  • Responsabilidade legal: caso um SBT represente uma certificação oficial, quem será responsável se o contrato contiver erros?
  • Implicações fiscais: embora não haja venda, a emissão de SBTs pode ser considerada como benefício tributável em certos países.

Portanto, antes de adotar SBTs, é essencial consultar assessoria jurídica especializada em blockchain.

7. Como criar seu próprio SBT

Para desenvolvedores interessados, o processo básico inclui:

Diferença entre um SBT e um NFT tradicional - interested developers
Fonte: S hanY via Unsplash
  1. Definir o padrão ERC‑721 (ou ERC‑1155) como base.
  2. Remover ou sobrescrever as funções de transferência (transferFrom, safeTransferFrom).
  3. Implementar funções de mint controladas por um papel de administrador.
  4. Adicionar metadados que descrevam a credencial (ex.: nome da instituição, data de emissão).
  5. Opcionalmente, incluir lógica de queima ou revogação mediante consenso da comunidade.

Para aprofundar o design de tokens que influenciam o comportamento do usuário, leia Como o Design de um Token Pode Incentivar o Comportamento do Usuário: Estratégias e Estudos de Caso. O artigo traz exemplos práticos que podem ser adaptados ao contexto de SBTs.

8. Futuro dos SBTs e dos NFTs

Os SBTs ainda estão em fase experimental, mas ganham tração em projetos de identidade descentralizada (DID) e governança. Já os NFTs continuam a evoluir, com novas camadas de interoperabilidade e padrões como ERC‑721A, que reduzem custos de gas.

É provável que vejamos uma convergência: NFTs que podem ser “soulbound” após um determinado evento (por exemplo, um token que se torna intransferível quando o usuário atinge um nível de reputação). Essa hibridização abrirá caminho para ecossistemas mais seguros e ricos em funcionalidades.

Conclusão

A diferença entre um SBT e um NFT tradicional vai muito além da simples capacidade de ser vendido. Enquanto os NFTs são instrumentos de propriedade e liquidez, os SBTs funcionam como certificados digitais permanentes, focados em identidade, reputação e compliance. Cada um tem seu papel dentro da crescente economia tokenizada, e a escolha correta depende dos objetivos do seu projeto.

Se você está planejando lançar um novo produto cripto, pergunte‑se: preciso de transferibilidade ou de um selo de confiança permanente? A resposta guiará a escolha entre NFT e SBT, influenciando tanto a experiência do usuário quanto a tokenomics do seu ecossistema.