Como se proteger de sandwich attacks no DeFi

Como se proteger de sandwich attacks no DeFi: Guia completo

Os sandwich attacks são uma das ameaças mais sofisticadas que afetam usuários de finanças descentralizadas (DeFi) no Brasil e no mundo. Desde 2023, a prática tem se tornado cada vez mais comum em pools de liquidez e AMMs (Automated Market Makers), colocando em risco tanto investidores iniciantes quanto traders intermediários. Este artigo, escrito por um jornalista sênior de tecnologia e criptomoedas, traz uma explicação detalhada, técnicas de mitigação e ferramentas práticas para que você possa operar de forma segura.

Introdução

Se você já tentou fazer swap de tokens em plataformas como Uniswap, PancakeSwap ou Sushiswap, pode ter notado que o preço que aparece antes da sua transação nem sempre corresponde ao preço final que você paga. Essa diferença pode ser resultado de um sandwich attack, onde um atacante coloca duas transações – uma antes e outra depois da sua – para lucrar com a variação de preço criada pela sua própria operação.

Entender como esses ataques funcionam e quais medidas adotar é essencial para preservar seu capital e manter a confiança no ecossistema DeFi.

Principais Pontos

  • O que são sandwich attacks e como são executados.
  • Tipos de AMMs vulneráveis e cenários de risco.
  • Estratégias de mitigação para usuários e desenvolvedores.
  • Ferramentas de monitoramento e boas práticas de segurança.

O que são sandwich attacks?

Um sandwich attack consiste em três transações encadeadas:

  1. Front‑run: O atacante observa a transação pendente na mempool (fila de transações não confirmadas) e envia uma ordem de compra (ou venda) imediatamente antes da sua, aumentando o preço do ativo.
  2. Sua transação: Você executa a operação desejada, mas agora a um preço menos favorável.
  3. Back‑run: O atacante vende (ou compra) o ativo imediatamente após sua transação, lucrando com a diferença de preço criada.

Esse padrão funciona principalmente em AMMs porque o preço de um token é calculado dinamicamente a cada swap, permitindo que o atacante manipule o preço com pequenas quantidades de capital.

Por que a mempool é o ponto de partida?

Na maioria das blockchains compatíveis com EVM (Ethereum, Binance Smart Chain, Polygon, etc.), as transações são divulgadas publicamente antes de serem mineradas. Bots de alta frequência monitoram a mempool em tempo real e, ao identificarem uma operação de grande volume, enviam suas próprias transações com taxas de gás maiores para garantir prioridade.

Essa dinâmica cria um ambiente propício para front‑running e back‑running, que são as duas pernas do sandwich.

Como funcionam os sandwich attacks em diferentes AMMs

Embora o conceito básico seja universal, a efetividade varia de acordo com o algoritmo de formação de preço do AMM. Vamos analisar os três modelos mais comuns:

1. Constant Product (Uniswap V2)

O modelo x * y = k garante que o produto das reservas permaneça constante. Quando um atacante compra antes da sua transação, x (reserva do token que está sendo comprado) diminui, forçando y (reserva do token oposto) a subir de preço. Após sua operação, o atacante vende de volta, restaurando o equilíbrio e capturando o spread.

2. StableSwap (Curve)

AMMs focados em stablecoins utilizam curvas de preço mais planas, reduzindo a slippage. Contudo, ainda é possível executar sandwich attacks quando há volumes inesperados ou pools com baixa liquidez. A diferença de preço tende a ser menor, mas o atacante pode compensar com maior frequência.

3. Hybrid (Balancer, Curve V2)

Alguns AMMs combinam múltiplas curvas e pesos de token. O ataque torna‑se mais complexo, pois o atacante precisa calcular o impacto em cada token da pool. Ainda assim, bots avançados conseguem identificar oportunidades rentáveis.

Vetores de ataque e indicadores de risco

Além da observação da mempool, os atacantes utilizam outras técnicas para maximizar lucro:

  • Flash loans: Empréstimos instantâneos sem garantia, que permitem ao atacante mobilizar grandes quantias de capital em uma única transação.
  • MEV bots (Miner Extractable Value): Bots que colaboram com mineradores ou validadores para garantir a ordem das transações.
  • Gas price manipulation: Definir taxas de gás extremamente altas para ultrapassar a transação alvo.

Indicadores que podem sinalizar risco de sandwich incluem:

  • Alta volatilidade de preço nas últimas 5‑10 blocos.
  • Baixa profundidade de liquidez (pool < R$ 10.000).
  • Presença de múltiplas transações com gasPrice acima da média nas últimas horas.

Estrategias de mitigação para usuários

Se você é um investidor ou trader, adotar boas práticas pode reduzir drasticamente a exposição a sandwich attacks.

1. Use slippage tolerante com cautela

Definir uma tolerância de slippage muito alta (ex.: > 5 %) abre brecha para o atacante. Recomenda‑se usar tolerância de 0,5 % a 1 % em pools com boa liquidez.

2. Priorize transações com taxa de gás média

Ao enviar uma transação, escolha um gas price próximo à média da rede. Taxas excessivas aumentam a probabilidade de ser ultrapassado por bots que pagam mais.

3. Utilizar “transaction deadline”

Defina um prazo máximo (ex.: 30 segundos) para que sua transação seja confirmada. Se o bloco não for incluído dentro desse intervalo, a operação é revertida, evitando ser “sandwiched”.

4. Trocar em pools com alta profundidade

Pools com reservas superiores a R$ 100.000 são menos suscetíveis a manipulação de preço por atacantes com capital limitado.

5. Ferramentas de monitoramento de mempool

Plataformas como Blocknative ou Tenderly permitem observar transações pendentes em tempo real e ajustar sua estratégia antes de enviar a ordem.

Estrategias de mitigação para desenvolvedores de contratos

Se você cria DApps ou contratos inteligentes, implemente mecanismos que dificultem a execução de sandwich attacks:

1. Implementar “anti‑front‑run” via commit‑reveal

O padrão commit‑reveal força o usuário a primeiro registrar um hash da intenção de swap e, em um bloco posterior, revelar a transação. Isso impede que bots leiam a intenção antes da execução.

2. Utilizar “price oracle” confiável

Ao invés de depender exclusivamente do preço da pool, consulte oráculos como Chainlink para validar o preço antes de aceitar a swap.

3. Taxas de “penalty” para transações que geram grande slippage

Implemente uma taxa adicional que é cobrada quando a slippage ultrapassa um limite predefinido, desencorajando ataques de grande volume.

4. Limitar tamanho máximo de swap por bloco

Contratos podem impor um teto (cap) de volume por bloco, reduzindo a eficácia de ataques que dependem de grandes quantidades de capital.

Ferramentas e boas práticas recomendadas

A seguir, listamos recursos que podem ser incorporados ao seu fluxo de trabalho:

  • MEV‑Watch: Dashboard que exibe atividades de front‑run e back‑run em tempo real.
  • Etherscan “Pending Transactions”: Visualizador de mempool para Ethereum e redes compatíveis.
  • BlockScout: Explorador de blocos open‑source que permite filtrar transações por gasPrice.
  • Gnosis Safe: Carteira multi‑assinatura que pode rejeitar transações fora de parâmetros predefinidos.

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Passo a passo para proteger sua próxima swap

  1. Verifique a liquidez da pool: escolha pools com reservas > R$ 100.000.
  2. Defina slippage máximo de 0,5 % a 1 %.
  3. Utilize um “deadline” de 30 segundos.
  4. Cheque a mempool com Blocknative ou Etherscan antes de enviar.
  5. Ajuste o gas price para a média da rede (ex.: 30 gwei em Ethereum).
  6. Confirme a transação e monitore a inclusão no bloco.

Seguindo esses passos, você reduz drasticamente a probabilidade de ser vítima de um sandwich attack.

Perguntas Frequentes (FAQ)

O que diferencia um sandwich attack de um simples front‑run?

Um front‑run envolve apenas a inserção de uma transação antes da sua para lucrar com a mudança de preço. No sandwich, o atacante também executa uma transação depois da sua, “fechando” a sanduíche e capturando o spread completo.

É possível recuperar fundos perdidos em um sandwich attack?

Infelizmente, transações na blockchain são irreversíveis. A única forma de mitigar perdas futuras é adotar as práticas de segurança descritas neste guia.

Qual a relação entre MEV e sandwich attacks?

MEV (Miner Extractable Value) representa o lucro que mineradores ou validadores podem extrair ao reordenar, incluir ou excluir transações. Sandwich attacks são uma das formas mais comuns de MEV.

Conclusão

Os sandwich attacks são uma realidade crescente no ecossistema DeFi, mas não são inevitáveis. Ao entender a mecânica do ataque, monitorar a mempool, escolher pools com alta liquidez e aplicar boas práticas de desenvolvimento, você pode proteger seu capital e contribuir para um ambiente mais seguro para toda a comunidade cripto brasileira.

Lembre‑se: a segurança começa com informação. Continue se educando, acompanhe as novidades do Ethereum e participe ativamente das discussões sobre MEV. Seu patrimônio agradece.