Como as L2s usam as L1s para segurança
As Layer 2 (L2) surgiram como a resposta mais eficaz ao trilema da blockchain: a necessidade de equilibrar segurança, escalabilidade e descentralização. Embora as L2s ofereçam transações mais rápidas e custos menores, elas ainda dependem da Layer 1 (L1) – a camada base, como Ethereum ou Bitcoin – para garantir que a segurança da rede permaneça inabalável. Neste artigo, vamos explorar em detalhes como as L2s utilizam as L1s para segurança, quais são os principais mecanismos, exemplos práticos e o que isso significa para investidores e desenvolvedores.
1. Conceitos básicos: L1 vs L2
Layer 1 (L1) é a cadeia principal que executa a lógica de consenso e valida todas as transações de forma direta. Exemplos incluem Bitcoin, Ethereum, Binance Smart Chain (BSC) e outras blockchains de primeira camada. A segurança da L1 provém de seu mecanismo de consenso (PoW, PoS, etc.) e da vasta rede de nós que validam e armazenam os blocos.
Layer 2 (L2) são soluções construídas “em cima” da L1, projetadas para melhorar a escalabilidade e reduzir custos. Elas podem ser rollups, state channels, sidechains ou plasma chains. O ponto crucial: embora as L2s processem transações fora da cadeia principal, elas ainda precisam garantir que os dados críticos estejam disponíveis e sejam verificáveis na L1.
2. Por que a segurança da L1 é essencial?
Sem a garantia de segurança da L1, as L2s perderiam a confiança dos usuários. A L1 funciona como uma âncora de confiança que:
- Armazena provas criptográficas (hashes, Merkle roots) que confirmam o estado da L2;
- Fornece um mecanismo de disputa (fraud proofs ou validity proofs) que permite que participantes contestem transações fraudulentas;
- Garante a disponibilidade de dados, impedindo que informações críticas desapareçam ou sejam censuradas.
Em resumo, a L1 protege a L2 contra ataques de curto-circuito, manipulação de dados e falhas de consenso.
3. Principais modelos de segurança L2‑L1
Existem duas categorias principais de rollups que demonstram como as L2s delegam segurança à L1:
3.1 Optimistic Rollups
Os Optimistic Rollups assumem que as transações são válidas por padrão (daí “optimistic”). Elas são submetidas à L1 em forma de aggregated calldata – essencialmente, um lote de dados compactados. Caso alguém acredite que um lote contém fraude, pode iniciar um challenge period (período de contestação) apresentando um fraud proof. Durante esse período, a L1 verifica a prova e, se for válida, a transação fraudulenta é revertida e o agressor penalizado.
Exemplos notáveis: Polygon (MATIC) Layer 2 (que começou como uma sidechain, mas evoluiu para um rollup), Optimism e Arbitrum.
3.2 ZK‑Rollups (Zero‑Knowledge Rollups)
Os ZK‑Rollups utilizam validity proofs (provas de validade) geradas por algoritmos de zero‑knowledge (zk‑SNARKs ou zk‑STARKs). Cada lote de transações inclui uma prova criptográfica que demonstra, de forma matemática, que todas as transações são corretas. Essa prova é enviada para a L1, que a verifica de forma extremamente rápida e barata. Como a prova já garante a validade, não há necessidade de um período de disputa.

Exemplos: zkSync, StarkNet, Loopring.
4. Como a L1 garante a disponibilidade de dados?
A disponibilidade de dados (data availability) é o princípio de que todos os dados necessários para validar o estado da L2 estejam acessíveis na L1. Existem duas abordagens principais:
- On‑chain data availability: os dados são armazenados diretamente nos blocos da L1 (ex.: calldata em Ethereum). Isso oferece a maior segurança, pois qualquer nó pode baixar e verificar os dados.
- Off‑chain data availability: os dados são armazenados fora da L1, por exemplo em soluções como Celestia ou em redes de armazenamento descentralizado (IPFS, Arweave). Nesse caso, a L2 depende de provas de disponibilidade ou de acordos de validação adicionais.
A escolha entre on‑chain e off‑chain influencia diretamente o custo e a velocidade das transações, mas também o nível de segurança que a L1 pode oferecer.
5. Casos de uso reais: como as principais L2s utilizam a segurança da L1
A seguir, analisamos três projetos que ilustram diferentes estratégias de segurança.
5.1 Polygon (MATIC)
Originalmente uma sidechain, o Polygon evoluiu para suportar Polygon PoS (um rollup otimista) e Polygon zkEVM (um ZK‑Rollup). Em ambas as versões, a segurança da Ethereum como L1 é a base:
- Transações são agregadas e enviadas para a Ethereum como calldata.
- Os validadores da Polygon depositam MATIC como garantia e podem ser penalizados se enviarem dados incorretos.
- Os usuários podem contestar transações fraudulentas durante o período de challenge (para o rollup otimista).
Para detalhes técnicos, consulte o nosso guia completo de Polygon.
5.2 Optimism
Optimism utiliza o modelo de Optimistic Rollup com um challenge period de 7 dias. A segurança depende de:
- Publicação de Merkle roots na Ethereum;
- Provas de fraude geradas por qualquer participante que detecte um erro;
- Penalizações em ETH para quem submete provas fraudulentas.
O design permite que a rede escale milhares de transações por segundo, mantendo a confiança na cadeia principal.

5.3 zkSync
zkSync, um ZK‑Rollup, gera provas de validade a cada lote. Essas provas são verificadas na Ethereum em menos de um segundo, proporcionando segurança praticamente instantânea. Como não há período de disputa, os usuários têm certeza de que suas transações são finais assim que a prova é aceita.
6. Benefícios da segurança delegada à L1
- Confiança herdada: Usuários confiam na robustez da L1 (ex.: Ethereum) em vez de avaliar a segurança de cada L2 individualmente.
- Redução de custos operacionais: As L2s não precisam manter uma rede completa de validadores com alta taxa de participação.
- Facilidade de auditoria: As provas criptográficas (fraud proofs ou validity proofs) são verificáveis por qualquer nó da L1.
- Interoperabilidade: Várias L2s podem coexistir e interagir usando a mesma L1 como ponto de referência.
7. Desafios e riscos
Apesar das vantagens, a dependência da L1 traz alguns desafios:
- Congestionamento da L1: Em momentos de alta demanda (ex.: spikes de gas fees na Ethereum), o custo de publicar provas ou dados pode subir consideravelmente.
- Complexidade de desenvolvimento: Criar provas de validade eficientes requer expertise avançada em criptografia.
- Risco de censura: Se a L1 for comprometida ou censurada, as L2s podem perder sua âncora de segurança.
- Dependência de contratos: Bugs nos contratos de bridge ou de verificação podem expor fundos a vulnerabilidades.
Para entender como proteger seus ativos nesse cenário, recomendamos ler o Guia Definitivo de Segurança de Criptomoedas, que aborda práticas de auditoria e boas‑práticas de armazenamento.
8. Futuro da segurança L2‑L1
As próximas evoluções incluem:
- Data Availability Layers (DAL) dedicadas, como Celestia, que oferecem disponibilidade de dados fora da L1 mas com garantias criptográficas fortes.
- Rollups aninhados (nested rollups), onde um rollup pode publicar provas em outro rollup, criando hierarquias de segurança.
- Integração de provas de validade mais leves (e.g., zk‑EVMs que rodam diretamente no EVM), reduzindo a necessidade de contratos complexos.
Essas inovações mantêm o foco na segurança da Ethereum e em outras L1s, permitindo que a camada de aplicação (L2) continue a escalar sem comprometer a confiança.
9. Como investidores podem se beneficiar?
Ao escolher projetos L2, avalie:
- O modelo de segurança (optimistic vs ZK) e o tempo de finalização das transações.
- O histórico de auditorias e a existência de bug bounty programs.
- Os custos de gas na L1 para publicar provas ou dados.
- Se a L2 tem um plano de migração ou integração com outras L1s.
Investir em L2s com segurança herdada de uma L1 consolidada (Ethereum, Bitcoin) reduz o risco de perda de fundos devido a falhas de consenso.
10. Conclusão
As Layer 2 são a ponte que permite que blockchains públicas alcancem a massificação, mas sua segurança nunca está isolada. Ao ancorar provas, dados e mecanismos de disputa na Layer 1, as L2s herdam a robustez, a descentralização e a confiança que fazem da blockchain uma tecnologia revolucionária. Conhecer os detalhes desses mecanismos – seja através de fraud proofs em Optimistic Rollups ou validity proofs em ZK‑Rollups – é essencial para desenvolvedores que constroem aplicações escaláveis e para investidores que buscam oportunidades seguras no ecossistema cripto.