Como as grandes DAOs podem organizar-se em grupos de trabalho menores e mais eficientes

As Organizações Autônomas Descentralizadas (DAOs) revolucionaram a forma como projetos e comunidades se estruturam na era Web3. Contudo, à medida que uma DAO cresce, a complexidade da governança, a velocidade de decisão e a coesão entre os membros podem se tornar desafios críticos. Uma solução amplamente adotada por grandes DAOs é a subdivisão em grupos de trabalho menores – também conhecidos como sub‑DAOs, squads ou task forces. Neste artigo aprofundado, vamos analisar os motivos que levam a essa fragmentação, os modelos mais eficazes, ferramentas de suporte e boas práticas para garantir que a descentralização não se perca na fragmentação.

1. Por que dividir uma DAO em grupos menores?

Quando uma DAO ultrapassa algumas centenas de membros ativos, alguns problemas recorrentes emergem:

  • Processos de decisão lentos: Votar em propostas que exigem a participação de toda a comunidade pode levar dias ou semanas.
  • Sobrecarregamento de informação: Cada participante precisa filtrar uma grande quantidade de discussões, o que pode causar fadiga.
  • Falta de especialização: Nem todos os membros têm expertise nas mesmas áreas (desenvolvimento, marketing, compliance, etc.).
  • Risco de centralização de poder: Decisões estratégicas podem ficar nas mãos de poucos líderes, contrariando o princípio da descentralização.

Ao criar grupos de trabalho focados, a DAO consegue:

  • Agilizar a execução de tarefas específicas.
  • Permitir que especialistas se concentrem nas áreas de seu maior conhecimento.
  • Manter a transparência ao publicar relatórios regulares ao nível da DAO principal.
  • Facilitar a participação de novos membros, que podem ingressar em um squad que corresponda ao seu interesse.

2. Modelos de organização em sub‑DAOs

Existem três padrões principais que as maiores DAOs do ecossistema adotam:

2.1. Sub‑DAOs autônomas

Cada sub‑DAO possui seu próprio smart contract de governança, tesouro e regras de votação. Elas operam quase como DAOs independentes, porém vinculadas a uma missão maior. Exemplo notável: a DAO de infraestrutura da Web3 que criou sub‑DAOs para oráculos, layer‑2 solutions e educação comunitária.

2.2. Squads baseados em funções

Inspirado no modelo ágil de desenvolvimento de software, este padrão cria squads multidisciplinares (por exemplo, “Marketing & Growth”, “Product Development”, “Compliance”). Cada squad tem metas trimestrais e reporta progresso em dashboards compartilhados.

2.3. Comitês temporários (Task Forces)

Formados para projetos de curta duração – como uma auditoria de segurança ou um evento de hackathon – esses grupos se desfazem ao concluir a missão, liberando recursos para outras iniciativas.

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Fonte: Markus Spiske via Unsplash

3. Ferramentas essenciais para gerir grupos menores

A tecnologia por trás da DAO deve suportar a criação, monitoramento e reporte de sub‑DAOs. Algumas plataformas consolidadas são:

  • Aragon Govern: permite criar sub‑DAOs com seus próprios tokens de voto e tesouros.
  • DAOstack: oferece módulos de holographic consensus que facilitam decisões rápidas dentro de squads.
  • Snapshot: ideal para votação off‑chain, reduz custos de gas e pode ser integrado a múltiplas sub‑DAOs.

Além disso, ferramentas de colaboração como Discord, Slack e repositórios GitHub são fundamentais para comunicação assíncrona.

4. Processos de integração e coordenação entre squads

Mesmo que cada grupo trabalhe de forma autônoma, a coesão global da DAO depende de alguns rituais:

  1. Reuniões de alinhamento mensais: representantes de cada squad apresentam métricas-chave (KPIs) e desafios.
  2. Relatórios de transparência: dashboards públicos que mostram alocação de fundos, progresso de milestones e votação de propostas.
  3. Biblioteca de conhecimento: documentos, gravações e decisões armazenados em um repositório acessível a todos os membros.

Essas práticas evitam silos de informação e garantem que a DAO mantenha sua visão estratégica.

5. Estudos de caso: DAOs que se destacam na fragmentação eficiente

A seguir, três exemplos reais que demonstram como a divisão em grupos menores impulsionou resultados:

5.1. DAO da Web3 Brasil

Dividiu-se em sub‑DAOs de Educação, Desenvolvimento de Infraestrutura e Finanças Descentralizadas (DeFi). Cada sub‑DAO recebeu um orçamento próprio e metas trimestrais. O resultado foi um aumento de 45% na produção de conteúdo educacional e 30% mais capital alocado em projetos de infraestrutura.

5.2. DAO de Tokenomics do Polygon (MATIC)

Utilizou squads de “Growth Marketing”, “Parcerias Estratégicas” e “Governança”. A introdução de squads permitiu que a DAO lançasse três campanhas de incentivo ao staking em menos de dois meses, elevando a taxa de participação em 22%.

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Fonte: Shubham Sharan via Unsplash

5.3. DAO de Arte NFT “MetaArt”

Formou task forces temporárias para curadoria de coleções e auditoria de contratos inteligentes. Cada task force tinha um prazo de 4 semanas, o que reduziu o tempo de lançamento de novas coleções de 8 para 3 semanas.

6. Desafios e armadilhas a evitar

Embora a fragmentação traga benefícios, alguns erros comuns podem comprometer a eficácia da DAO:

  • Sobre‑fragmentação: criar squads demais dilui recursos e dificulta a governança central.
  • Falta de métricas claras: sem KPIs definidos, é impossível medir o sucesso de cada grupo.
  • Isolamento excessivo: squads que não compartilham informações podem gerar redundâncias e conflitos de interesse.

Para mitigar esses riscos, recomenda‑se estabelecer guardrails – limites de orçamento, metas de comunicação e auditorias regulares.

7. Guia rápido para implementar sub‑DAOs em sua comunidade

  1. Mapeie as áreas críticas: identifique funções que precisam de foco (ex.: desenvolvimento, compliance, marketing).
  2. Defina a estrutura de governança: escolha entre sub‑DAOs autônomas ou squads baseados em funções.
  3. Configure smart contracts: use Aragon, DAOstack ou outra plataforma para criar tokens de voto e tesouros separados.
  4. Alinhe incentivos: distribua recompensas (tokens, reputação) proporcionalmente ao impacto de cada squad.
  5. Implemente ferramentas de comunicação: canais dedicados no Discord/Telegram, documentos no Notion e dashboards no Dune Analytics.
  6. Monitore e ajuste: realize revisões trimestrais, ajuste alocações e, se necessário, reconfigure squads.

8. Conclusão

A fragmentação inteligente permite que grandes DAOs mantenham a agilidade, a especialização e a transparência necessárias para prosperar no ecossistema Web3. Ao adotar sub‑DAOs, squads ou task forces, as organizações descentralizadas conseguem equilibrar descentralização com eficiência operacional. Contudo, o sucesso depende de uma governança clara, métricas bem definidas e comunicação constante entre os grupos.

Se você está pronto para transformar sua DAO em uma estrutura mais escalável, comece agora mapeando suas áreas de atuação e experimentando um squad piloto. O futuro das organizações descentralizadas está na capacidade de se adaptar rapidamente – e a divisão em grupos menores é a chave para essa adaptabilidade.

Para aprofundar ainda mais seu conhecimento sobre governança descentralizada, confira também o Guia Definitivo de Criptomoedas para Iniciantes e o Guia Completo de Finanças Descentralizadas (DeFi). Além disso, recursos externos como Ethereum.org e CoinDesk oferecem análises de mercado e boas práticas de governança que complementam a estratégia da sua DAO.