Celsius: O que aconteceu?
Em 2022, o mundo cripto foi abalado por uma das maiores crises da história recente: a falência da Celsius Network. Investidores, reguladores e entusiastas ainda buscam compreender os motivos que levaram a empresa a entrar em bankruptcy e quais são os desdobramentos para o ecossistema de finanças descentralizadas (DeFi). Neste artigo, trazemos uma análise detalhada dos eventos, das decisões estratégicas equivocadas, do contexto regulatório e das lições que podem ser extraídas para proteger seu portfólio.
1. Breve histórico da Celsius
A Celsius foi fundada em 2017 por Alex Mashinsky e Daniel Leon, prometendo rendimentos elevados para quem depositasse cripto‑ativos em sua plataforma. O modelo de negócios baseava‑se em empréstimos a instituições e traders, repassando parte dos juros aos usuários. Em poucos anos, a empresa ganhou notoriedade, atingindo mais de US$ 25 bilhões em ativos sob custódia (AUC) e mais de 1,7 milhão de clientes globalmente.
2. O ponto de inflexão: 2022
O ano de 2022 foi marcado por uma série de choques macroeconômicos: alta das taxas de juros, queda dos preços de Bitcoin e Ethereum, e um clima de incerteza regulatória. A Celsius, que operava com alta alavancagem, começou a enfrentar problemas de liquidez. Em julho, a empresa suspendeu retiradas, trocas e transferências, alegando “circunstâncias extraordinárias”.
2.1. Decisões de risco
Algumas decisões estratégicas contribuíram para a crise:
- Uso intensivo de leveraged tokens e empréstimos de alto risco sem garantias adequadas.
- Falta de transparência nos relatórios de auditoria, dificultando a avaliação da saúde financeira.
- Dependência de parceiros externos para custódia, aumentando a vulnerabilidade a falhas operacionais.
3. O processo de falência
Em 13 de julho de 2022, a Celsius entrou com pedido de proteção contra credores nos Estados Unidos (Chapter 11). O SEC – Securities and Exchange Commission começou a investigar se a empresa teria violado leis de valores mobiliários ao oferecer rendimentos garantidos, caracterizando possíveis títulos não registrados.
O pedido de falência trouxe à tona documentos que revelaram que, nos últimos 12 meses, a Celsius havia acumulado perdas superiores a US$ 1,5 bilhão, principalmente em empréstimos a projetos de alta volatilidade.

4. Impacto nos usuários e no mercado
Com a suspensão das retiradas, milhares de investidores ficaram impossibilitados de acessar seus fundos. A confiança no modelo de “rendimentos garantidos” despencou, gerando um efeito dominó em outras plataformas DeFi que prometiam retornos semelhantes.
Além disso, a crise da Celsius acelerou o debate sobre a necessidade de regulamentação mais clara para serviços de empréstimo cripto. Veja nosso artigo sobre Regulação de criptomoedas na Europa para entender como diferentes jurisdições estão respondendo a esses desafios.
5. Lições aprendidas
Para investidores, a situação da Celsius oferece valiosas lições:
- Faça sua própria diligência (DYOR): Não confie apenas em promessas de alta rentabilidade; avalie a transparência da empresa, sua estrutura de governança e auditorias independentes.
- Entenda o risco de alavancagem: Produtos que prometem juros acima de 10% ao ano geralmente envolvem risco elevado. Avalie se o retorno compensa a possibilidade de perda total.
- Diversifique: Não concentre grandes parcelas do seu portfólio em uma única plataforma ou protocolo.
- Fique atento ao cenário regulatório: Mudanças nas regras podem impactar drasticamente projetos que operam em áreas cinzentas. Nosso guia sobre Investir em Cripto a Longo Prazo aborda estratégias resilientes.
6. Como recuperar seus fundos?
O processo de recuperação ainda está em andamento. A Celsius apresentou um plano de reestruturação que inclui a venda de ativos, pagamento parcial aos credores e a possibilidade de emissão de novos tokens para compensar perdas. Os credores devem se registrar no processo judicial e acompanhar as atualizações no site oficial da empresa.
Enquanto isso, especialistas recomendam que os investidores procurem assessoria jurídica especializada em falências de ativos digitais e mantenham a documentação de todas as transações realizadas na plataforma.

7. O futuro da DeFi após a Celsius
Embora a crise tenha abalado a confiança, o ecossistema DeFi continua a evoluir. Projetos mais maduros estão adotando práticas de governança descentralizada, auditorias regulares e seguros contra falhas de contrato inteligente. CoinDesk tem coberto diversas iniciativas que buscam trazer mais segurança e transparência ao setor.
Além disso, a discussão sobre a classificação de produtos de rendimento como valores mobiliários está se intensificando. Caso as autoridades adotem normas mais rígidas, plataformas como a Celsius poderão ter que reformular seus modelos de negócio, favorecendo maior proteção ao investidor.
8. Conclusão
A história da Celsius serve como um alerta poderoso: rendimentos altos podem esconder riscos ainda maiores. A combinação de alavancagem excessiva, falta de transparência e um ambiente regulatório incipiente resultou em uma das maiores falências do universo cripto. Investidores que adotarem uma postura crítica, diversificada e informada terão mais chances de sobreviver a futuras turbulências.
Se você ainda tem ativos bloqueados na Celsius, acompanhe o processo judicial, mantenha-se informado através de fontes confiáveis e, se possível, busque apoio de profissionais especializados. E lembre‑se: no mundo cripto, a única certeza é a volatilidade.