Carhart Model: O Guia Completo para Entender o Modelo de Quatro Fatores no Investimento em Criptomoedas
O Carhart model (ou modelo de quatro fatores de Carhart) é uma extensão do famoso Fama‑French three‑factor model, incorporando um quarto fator – o momentum – para explicar melhor os retornos de ativos financeiros. Embora tenha sido desenvolvido originalmente para ações tradicionais, seu uso tem se expandido para o universo das criptomoedas, onde a volatilidade e a rápida evolução dos mercados exigem ferramentas de análise robustas.
1. Origem e Estrutura do Carhart Model
O modelo foi apresentado por Mark Carhart em 1997, em seu artigo “On Persistence in Mutual Fund Performance”. Ele adicionou ao modelo de Fama‑French (que já considerava market risk, size e value) o fator momentum, medido pela diferença de retorno entre ações vencedoras e perdedoras nos últimos 12‑meses.
Matematicamente, o Carhart model pode ser expresso como:
R_i - R_f = α + β_m (R_m - R_f) + β_s SMB + β_v HML + β_mom MOM + ε
- R_i: retorno do ativo i;
- R_f: taxa livre de risco;
- R_m: retorno do mercado;
- SMB (Small‑Minus‑Big): diferença de retorno entre empresas de pequeno e grande capitalização;
- HML (High‑Minus‑Low): diferença entre empresas com alto e baixo valor contábil‑mercado;
- MOM: fator momentum, geralmente calculado como a diferença entre os retornos médios dos 12 últimos meses de ações vencedoras e perdedoras.
2. Por que o Carhart Model é Relevante para Criptomoedas?
Apesar de as criptomoedas não possuírem “capitalização de mercado” ou “valor contábil‑mercado” da mesma forma que ações tradicionais, pesquisadores e analistas vêm adaptando os fatores para capturar características específicas do mercado cripto:
- Market risk (β_m): representa o risco sistemático do Bitcoin ou de um índice cripto (ex.: CoinMarketCap).
- Size (SMB): pode ser aproximado pela diferença de retorno entre criptomoedas de baixa capitalização (altcoins) e as de alta capitalização (Bitcoin, Ethereum).
- Value (HML): alguns estudos utilizam métricas como “network value‑to‑transactions” (NVT) para representar a relação valor‑utilidade.
- Momentum (MOM): já é amplamente observado nas séries temporais de criptomoedas, onde tendências de curto prazo tendem a se perpetuar.
Ao combinar esses fatores, investidores podem obter uma avaliação mais precisa do risco‑retorno esperado de um portfólio cripto, ajudando na alocação de ativos e na avaliação de desempenho de fundos de investimento em cripto.
3. Como Calcular o Carhart Model na Prática
A seguir, apresentamos um passo‑a‑passo simplificado para aplicar o Carhart model a um portfólio de criptomoedas usando Python e bibliotecas como pandas
, statsmodels
e yfinance
(para dados de mercado tradicional) ou ccxt
(para exchanges cripto).

import pandas as pd import numpy as np import statsmodels.api as sm import ccxt # 1. Coletar dados de preço diário exchange = ccxt.binance() symbols = ['BTC/USDT', 'ETH/USDT', 'ADA/USDT'] prices = {} for s in symbols: ohlcv = exchange.fetch_ohlcv(s, timeframe='1d', limit=365) df = pd.DataFrame(ohlcv, columns=['timestamp','open','high','low','close','volume']) df['date'] = pd.to_datetime(df['timestamp'], unit='ms') prices[s] = df.set_index('date')['close'] # 2. Construir DataFrame com retornos price_df = pd.DataFrame(prices) returns = price_df.pct_change().dropna() # 3. Calcular fatores SMB, HML e MOM (exemplo simplificado) # SMB: diferença entre média de altcoins (ADA) e grandes (BTC, ETH) SMB = returns['ADA/USDT'] - returns[['BTC/USDT','ETH/USDT']].mean(axis=1) # HML: usar NVT como proxy de value (não detalhado aqui) HML = pd.Series(np.random.randn(len(returns)), index=returns.index) # placeholder # MOM: retorno acumulado nos últimos 12 meses MOM = returns.rolling(window=30).mean().shift(1) # 4. Montar matriz de regressão X = pd.concat([returns['BTC/USDT'], SMB, HML, MOM['BTC/USDT']], axis=1) X.columns = ['MKT', 'SMB', 'HML', 'MOM'] X = sm.add_constant(X) Y = returns['BTC/USDT'] model = sm.OLS(Y, X).fit() print(model.summary())
O resumo da regressão fornece os betas (ex.: β_m, β_smb, β_hml, β_mom) e o alfa (α), que indica desempenho anômalo não explicado pelos fatores. Um alfa positivo e significativo pode sugerir habilidade do gestor ou, no caso de criptomoedas, exposição a fatores não capturados pelo modelo.
4. Interpretação dos Resultados
Vamos analisar um exemplo hipotético de resultados obtidos para Bitcoin (BTC) em 2024:
Fator | Coeficiente (β) | Significância |
---|---|---|
α (Alfa) | 0,0045 | p‑value = 0,02 |
β_m (Market) | 1,12 | p‑value < 0,001 |
β_smb (Size) | -0,30 | p‑value = 0,08 |
β_hml (Value) | 0,15 | p‑value = 0,20 |
β_mom (Momentum) | 0,45 | p‑value = 0,01 |
- Alfa positivo indica que o BTC superou o retorno previsto pelos quatro fatores em 0,45% ao mês.
- β_m > 1 mostra que o Bitcoin tem maior sensibilidade às variações do mercado cripto geral.
- β_smb negativo sugere que o BTC se comporta mais como um ativo de grande capitalização, reagindo menos a movimentos de altcoins.
- β_mom positivo e significativo confirma que o momentum desempenha papel importante nas variações de preço do BTC.
5. Aplicações Práticas para Investidores Brasileiros
Ao incorporar o Carhart model na análise de portfólios cripto, você pode:
- Identificar gestores com alfa consistente: fundos que entregam retornos acima do esperado pelos fatores podem merecer maior atenção.
- Otimizar alocação de ativos: equilibrar exposição a fatores de size e momentum reduz a volatilidade não sistemática.
- Melhorar a precificação de derivados: contratos futuros e opções podem ser avaliados usando betas estimados.
Para quem opera em exchanges brasileiras reguladas, como a Exchange Brasileira Regulada, aplicar o modelo permite comparar o desempenho de diferentes tokens listados localmente e avaliar se há oportunidades de arbitragem baseadas em fatores.
6. Limitações do Carhart Model no Ecossistema Cripto
Embora poderoso, o modelo tem restrições importantes quando usado em cripto:
- Dados curtos e incompletos: o histórico de algumas altcoins é limitado, dificultando estimativas robustas.
- Eventos de alta frequência: hard forks, atualizações de protocolo e anúncios regulatórios podem gerar choques que o modelo não captura.
- Fatores específicos: volatilidade implícita, taxa de hash e métricas on‑chain (ex.: endereço ativo) podem ser relevantes, mas não incluídas nos quatro fatores tradicionais.
Por isso, muitos analistas combinam o Carhart model com abordagens de machine learning ou fatores on‑chain para enriquecer a análise.

7. Integração com Outros Conceitos Avançados
Para quem deseja aprofundar ainda mais, considere como o Carhart model se relaciona com:
- Cross Chain Swaps: ao trocar tokens entre diferentes blockchains, a exposição a fatores de size e momentum pode mudar rapidamente.
- Bridge Segurança Dicas: ao usar bridges, o risco de contrapartida pode ser tratado como um fator adicional de risco não sistemático.
Além disso, a literatura acadêmica de finanças comportamentais – como a pesquisa da Investopedia – destaca que o momentum pode ser explicado por vieses cognitivos dos investidores, reforçando a importância de monitorar esse fator em mercados voláteis como o cripto.
8. Passo a Passo para Implementar o Carhart Model no Seu Portfólio
- Coletar dados de preços diários de todas as criptomoedas do seu portfólio (últimos 3‑5 anos, se possível).
- Definir proxies para SMB, HML e MOM adequados ao universo cripto (ex.: market cap, NVT, retorno acumulado).
- Calcular retornos excessos subtraindo a taxa livre de risco (ex.: taxa SELIC ou títulos do Tesouro).
- Rodar regressão múltipla para cada ativo, obtendo betas e alfa.
- Interpretar resultados e ajustar a alocação de acordo com a tolerância ao risco.
- Monitorar periodicamente (mensal ou trimestral) para capturar mudanças nos betas, especialmente o fator momentum.
9. Conclusão
O Carhart model oferece uma estrutura poderosa para analisar o desempenho de ativos cripto, trazendo rigor acadêmico ao universo ainda em desenvolvimento das finanças descentralizadas. Ao adaptar os quatro fatores – market, size, value e momentum – ao contexto das criptomoedas, investidores podem obter insights mais profundos sobre risco, retorno e habilidades de gestão.
Embora existam limitações, combinar o modelo com análises on‑chain, machine learning e boas práticas de segurança (como o uso de bridges confiáveis) potencializa a tomada de decisão. Se você deseja elevar seu nível de análise e construir portfólios mais resilientes, vale a pena incorporar o Carhart model ao seu toolkit de investimentos.
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