Contabilidade para criptoativos: Guia completo para empresas e investidores em Portugal

O universo dos criptoativos tem crescido exponencialmente nos últimos anos, trazendo oportunidades e desafios para empresários, investidores e profissionais de contabilidade. Neste artigo, abordaremos tudo o que você precisa saber sobre contabilidade para criptoativos no contexto português, desde o tratamento fiscal até as melhores práticas de registro e reporte.

1. Por que a contabilidade de criptoativos é diferente?

Ao contrário dos ativos tradicionais, os criptoativos apresentam características únicas:

  • Volatilidade elevada, que impacta a mensuração do valor justo.
  • Descentralização e ausência de um emissor centralizado, dificultando a identificação de partes relacionadas.
  • Transações em blockchain, que exigem coleta de dados on‑chain para comprovar a origem e a destinação dos recursos.

Essas particularidades exigem que os contabilistas adotem procedimentos específicos para garantir a conformidade com as normas portuguesas e internacionais.

2. Tratamento fiscal dos criptoativos em Portugal

Em Portugal, a Banco de Portugal e a Receita Federal (Brasil) são referências para entender a regulamentação de ativos digitais. No caso português, o Regime Fiscal das Mais‑Valias de Capital aplica‑se às vendas de criptoativos, sendo necessário:

  1. Calcular a diferença entre o preço de aquisição e o preço de venda.
  2. Aplicar a taxa de IRS correspondente ao escalão de rendimento do contribuinte.
  3. Declarar as operações na Anexos G (mais‑valias) da declaração anual de IRS.

Para empresas, a contabilização segue as normas do SNC (Sistema de Normalização Contabilística), sendo obrigatório registrar os criptoativos como ativos intangíveis ou investimentos financeiros, conforme a intenção de uso.

3. Passo a passo para registrar criptoativos na contabilidade

Passo 1 – Identificação do ativo

Classifique o criptoativo (Bitcoin, Ethereum, tokens de utilidade, security tokens etc.) e defina a sua natureza (investimento, meio de pagamento ou ativo de operação).

Passo 2 – Determinação do custo de aquisição

Inclua todas as despesas relacionadas, como taxas de corretagem, taxas de transação (gas fees) e custos de conversão.

Passo 3 – Mensuração periódica

Adote o método de valor justo ao final de cada período contabilístico, utilizando fontes confiáveis de preço (ex.: CoinMarketCap, exchanges reconhecidas). Registre as variações como ganhos ou perdas não realizados.

Passo 4 – Reconhecimento de ganhos/perdas na venda

Ao vender, calcule a mais‑valia ou menos‑valia efetiva e registre no resultado do período, observando a tributação de IRS ou IRC.

4. Ferramentas e boas práticas

Para facilitar a gestão contábil, recomenda‑se o uso de softwares especializados que integrem APIs de exchanges e blockchains, permitindo a importação automática de transações. Além disso, mantenha:

  • Documentação completa de todas as carteiras (hot, cold, hardware).
  • Back‑ups seguros da seed phrase e dos relatórios de auditoria.
  • Procedimentos de segurança das criptomoedas para evitar perdas e fraudes.

5. Casos de uso e exemplos práticos

Imagine que uma empresa portuguesa adquira 2 BTC em janeiro de 2025 por 30 000 € cada, pagando 200 € de taxa de transação. O custo total será 60 400 €. Em junho, a empresa vende 1 BTC por 35 000 €, pagando 150 € de taxa. A mais‑valia será (35 000 – 30 200 ) = 4 800 €, que deverá ser reconhecida no resultado e tributada conforme a alíquota de IRC.

Para investidores individuais, o mesmo cálculo se aplica ao preencher a declaração de IRS, devendo incluir o ganho na Anexos G.

6. Onde aprofundar o conhecimento?

Para quem deseja iniciar ou expandir sua atuação no mercado cripto, recomendamos a leitura de guias complementares, como o Guia Definitivo para Comprar Bitcoin em Portugal, que traz detalhes sobre aquisição segura, e o Guia definitivo de segurança das criptomoedas, essencial para proteger os ativos antes de contabilizá‑los.

Além disso, mantenha-se atualizado com as normas da Autoridade Tributária e da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que publicam orientações periódicas sobre criptoativos.

Conclusão

A contabilidade para criptoativos exige atenção a detalhes técnicos, regulatórios e de segurança. Seguindo as boas práticas apresentadas, você garante a conformidade fiscal, reduz riscos operacionais e otimiza a tomada de decisão estratégica. Esteja sempre atento às mudanças legislativas e invista em ferramentas que automatizem a coleta e o registro de dados on‑chain.