Borrowing de Criptomoedas: Guia Completo

Borrowing de Criptomoedas: Guia Completo para Iniciantes e Intermediários

O universo das finanças descentralizadas (DeFi) trouxe uma série de inovações que transformam a forma como usuários de criptomoedas acessam crédito. Entre essas inovações, o borrowing – ou empréstimo de cripto – ganhou destaque como ferramenta estratégica para quem deseja alavancar posições, obter liquidez sem vender ativos ou participar de oportunidades de arbitragem.

Este artigo técnico e detalhado tem como objetivo explicar, passo a passo, tudo o que você precisa saber sobre borrowing de criptomoedas, abordando desde conceitos básicos até aspectos regulatórios e tributários no Brasil.

Principais Pontos

  • Definição clara de borrowing de cripto e como funciona nos protocolos DeFi.
  • Principais plataformas brasileiras e internacionais que oferecem empréstimos cripto.
  • Como calcular garantias (collateral) e taxas (interest rates).
  • Riscos associados: liquidação, volatilidade e segurança.
  • Impactos fiscais e como declarar empréstimos de cripto no Imposto de Renda.
  • Casos de uso práticos: alavancagem, liquidez sem venda e estratégias de yield farming.

O que é Borrowing de Criptomoedas?

Borrowing, na terminologia financeira, significa “tomar emprestado”. No contexto cripto, refere‑se ao ato de obter ativos digitais (como USDC, DAI, ou mesmo Bitcoin) mediante a entrega de um colateral – geralmente outra criptomoeda – em um contrato inteligente.

Ao contrário dos empréstimos tradicionais, o borrowing em DeFi não depende de bancos ou instituições centralizadas. Ele ocorre em plataformas que utilizam smart contracts (contratos inteligentes) para automatizar todo o processo: avaliação de garantias, cálculo de juros, e execução de liquidações quando o valor do colateral cai abaixo de um limite pré‑definido.

Como funciona na prática?

  1. Conectar a carteira: O usuário conecta sua carteira (MetaMask, Trust Wallet, etc.) à plataforma de empréstimo.
  2. Depositar colateral: O ativo depositado serve como garantia. Por exemplo, 1 BTC pode ser usado como colateral para tomar emprestado até 50 % do seu valor em USDC.
  3. Definir o montante e prazo: O usuário escolhe quanto deseja emprestar e por quanto tempo. Em DeFi, a maioria dos empréstimos são de open‑ended, ou seja, o prazo é indefinido enquanto o colateral permanecer suficiente.
  4. Juros e taxas: A taxa de juros pode ser fixa ou variável, baseada em algoritmos de oferta e demanda (ex.: Compound, Aave).
  5. Liquidação automática: Se o preço do colateral cair abaixo do liquidation threshold, o contrato inteligente vende parte ou todo o colateral para cobrir a dívida.

Plataformas de Borrowing no Brasil e no Mundo

Embora a maioria das plataformas DeFi sejam globais, algumas têm foco no público brasileiro, oferecendo suporte em português, integração com exchanges locais e compliance regulatório.

Plataformas internacionais

  • Aave – Um dos maiores protocolos de lending, permite empréstimos em múltiplos ativos e possui taxas de juros competitivas.
  • Compound – Focado em stablecoins, ideal para quem quer evitar exposição a volatilidade.
  • MakerDAO – Emite a stablecoin DAI mediante colateralização de ETH e outros tokens.

Plataformas com suporte ao público brasileiro

  • Brave New Coin – Oferece empréstimos em BRL‑backed stablecoins (ex.: BRZ) e aceita colaterais como BTC e ETH.
  • Celsius Network – Disponibiliza linhas de crédito em reais (R$) mediante colateral em cripto, com taxa de juros a partir de 4,5 % ao ano.
  • Nexo – Plataforma híbrida que combina serviços regulados no Brasil com opções de empréstimo em cripto.

Passo a Passo para Realizar um Empréstimo Cripto

1. Escolha da plataforma

Analise critérios como taxa de juros (APR), loan‑to‑value (LTV), reputação de segurança, auditorias de código e suporte ao cliente. Use a tabela comparativa abaixo para facilitar a decisão:

Plataforma LTV Máximo APR Médio Suporte PT‑BR
Aave 75 % 3,2 % – 12 % Sim
Compound 70 % 4,5 % – 14 % Não
MakerDAO 66 % 2,5 % – 8 % Parcial
Celsius 65 % 4,5 % (fixo) Sim

2. Conectar a carteira

Instale a extensão MetaMask ou utilize a Trust Wallet. Certifique‑se de que a rede selecionada (Ethereum, Polygon, Binance Smart Chain) corresponde à plataforma escolhida.

3. Depositar o colateral

Transfira o token que será usado como garantia para o contrato inteligente da plataforma. Lembre‑se de deixar um saldo extra para pagar o gas fee (taxa de rede).

4. Definir o empréstimo

Selecione o ativo que deseja receber (ex.: USDC) e informe o valor. O sistema mostrará o LTV máximo permitido e a taxa de juros aplicável.

5. Confirmar e assinar a transação

Revise os termos, aceite os smart contract terms e assine a transação. Após a confirmação, o valor será creditado na sua carteira.

6. Monitorar a posição

Use dashboards como DeBank ou a própria interface da plataforma para acompanhar a relação LTV, juros acumulados e risco de liquidação.

Como Calcular o LTV e Evitar Liquidação

O Loan‑to‑Value (LTV) representa a proporção entre o valor do empréstimo e o valor do colateral. Um LTV mais baixo diminui o risco de liquidação. A fórmula é simples:

 LTV = (Valor do Empréstimo ÷ Valor do Colateral) × 100% 

Exemplo: Se você depositar 0,5 BTC (valor de R$ 150.000) e tomar emprestado USDC no valor de R$ 60.000, o LTV será:

 LTV = (60.000 ÷ 150.000) × 100% = 40 % 

Como a maioria das plataformas define um liquidation threshold entre 75 % e 85 %, você teria uma folga confortável.

Riscos do Borrowing de Criptomoedas

Volatilidade do mercado

Flutuações bruscas podem reduzir o valor do colateral rapidamente, disparando liquidações automáticas. Estratégias de hedge, como comprar opções ou stablecoins, ajudam a mitigar esse risco.

Risco de contrato inteligente

Falhas no código podem ser exploradas por hackers. Priorize plataformas que passaram por auditorias independentes (ex.: CertiK, Quantstamp).

Taxas de gas elevadas

Em períodos de congestionamento da rede Ethereum, as taxas de gas podem subir acima de R$ 200 por transação, impactando a rentabilidade.

Risco regulatório

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ainda está definindo diretrizes específicas para empréstimos cripto. Fique atento a possíveis mudanças que possam exigir registro ou relatórios adicionais.

Aspectos Tributários no Brasil

O empréstimo de criptomoedas tem implicações fiscais que precisam ser declaradas no Imposto de Renda (IR). As regras atuais da Receita Federal consideram:

  • Juros recebidos: São tributados como rendimento de pessoa física, com alíquota de 27,5 %.
  • Ganhos de capital na liquidação do colateral: Caso o contrato liquidado gere lucro, o ganho deve ser declarado na ficha “Ganhos de Capital”.
  • Recebimento de stablecoins: Deve ser informado como “Bens e Direitos”, com código 31 (Moeda virtual).

Recomenda‑se a utilização de planilhas de controle ou softwares especializados (ex.: CoinTracker, Koinly) para gerar os relatórios corretos.

Casos de Uso Práticos

1. Alavancagem em operações de trading

Um trader pode usar borrowing para abrir posições maiores em exchanges centralizadas, mantendo a exposição original em cripto como garantia.

2. Liquidez sem vender ativos de longo prazo

Investidores que acreditam na valorização futura de Bitcoin podem obter USDC para pagar despesas imediatas, evitando a venda e o pagamento de imposto de renda sobre ganhos de capital.

3. Arbitragem entre stablecoins

Ao tomar emprestado USDC com baixo custo e vender em uma exchange onde o preço está acima do mercado, o usuário captura a diferença como lucro.

Comparativo: Borrowing vs. Margin Trading

Embora ambos permitam alavancagem, existem diferenças cruciais:

  • Garantia: No borrowing, o colateral permanece em sua carteira até a liquidação; no margin trading, a corretora controla a margem.
  • Taxas: Borrowing costuma ter juros menores e transparência total; margin trading pode envolver spreads e taxas ocultas.
  • Risco de contrapartida: Em plataformas DeFi, o risco recai sobre o contrato inteligente; em exchanges centralizadas, o risco inclui falência da corretora.

Como Avaliar a Segurança de um Protocolo DeFi

Use os seguintes critérios:

  1. Auditorias públicas: Verifique relatórios de auditoria de empresas reconhecidas.
  2. Histórico de incidentes: Consulte bases de dados como DeFiLlama para saber se houve hacks.
  3. Descentralização do controle: Protocolos que exigem governança multi‑assinatura são menos suscetíveis a decisões arbitrárias.
  4. Comunidade ativa: Fóruns no Discord, Telegram e GitHub indicam suporte contínuo.

Conclusão

O borrowing de criptomoedas representa uma evolução natural das finanças descentralizadas, oferecendo liquidez instantânea, flexibilidade de uso e a possibilidade de alavancar estratégias de investimento sem a necessidade de vender ativos. No entanto, o sucesso depende de uma compreensão sólida dos mecanismos de colateralização, taxas, riscos de volatilidade e obrigações fiscais.

Para usuários brasileiros, a escolha de plataformas que ofereçam suporte em português, cumpram requisitos regulatórios e possuam auditorias de segurança confiáveis é essencial. Ao combinar boas práticas de gerenciamento de risco e planejamento tributário, o borrowing pode ser uma ferramenta poderosa dentro do seu portfólio cripto.