Em 24 de novembro de 2025, o Banco Inter divulgou uma medida inesperada: o bloqueio de operações envolvendo criptoativos nas contas de seus clientes. A decisão, que gerou grande repercussão entre investidores iniciantes e intermediários, levanta dúvidas sobre a postura das instituições financeiras brasileiras frente ao mercado de criptomoedas e sobre os direitos dos usuários. Neste artigo aprofundado, analisamos o contexto regulatório, os motivos que levaram ao bloqueio, os impactos para os usuários e as estratégias para contornar a situação.
Principais Pontos
- Entenda o panorama regulatório brasileiro que influencia a decisão do Banco Inter.
- Confira o que exatamente foi bloqueado e quais serviços foram afetados.
- Saiba como identificar comunicações oficiais e evitar fraudes.
- Aprenda o passo a passo para desbloquear sua conta ou migrar seus criptoativos.
- Conheça alternativas de bancos e corretoras que ainda aceitam cripto no Brasil.
Contexto regulatório no Brasil
O Brasil tem avançado na criação de um arcabouço jurídico que busca equilibrar a inovação tecnológica com a proteção ao investidor e a estabilidade do sistema financeiro. As principais normas que impactam diretamente as instituições bancárias são a Lei nº 13.974/2020, as resoluções da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e as instruções normativas emitidas pelo Banco Central (BCB).
Lei nº 13.974/2020 e a CVM
A Lei nº 13.974, conhecida como Lei das Criptomoedas, reconhece os criptoativos como bens e estabelece que a sua negociação deve observar as normas de prevenção à lavagem de dinheiro (PLD) e ao financiamento do terrorismo (FT). A CVM, por sua vez, classifica determinados tokens como valores mobiliários, exigindo registro e divulgação de informações ao público.
Banco Central e a Instrução Normativa 1888
Em 2022, o Banco Central publicou a Instrução Normativa 1888, que cria o Regulamento de Atividades de Pagamento e de Transferência de Valores. O documento obriga as instituições a monitorarem transações que envolvam criptoativos, sobretudo quando houver conversão para moeda fiduciária. O BCB também estabeleceu a obrigatoriedade de comunicação de operações suspeitas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
O que aconteceu com o Banco Inter?
Na manhã de 24/11/2025, o Banco Inter enviou um e‑mail institucional a todos os clientes que possuíam carteira de criptoativos vinculada à conta corrente. O comunicado informava que, a partir de 27 de novembro, todas as funcionalidades relacionadas a compra, venda e transferência de cripto estariam temporariamente suspensas. A justificativa oficial apontava “necessidade de adequação às recentes diretrizes do Banco Central e da CVM”.
Data do bloqueio e comunicado oficial
O bloqueio entrou em vigor às 00h00 (horário de Brasília) do dia 27/11/2025. O Banco Inter disponibilizou um artigo detalhado em seu blog explicando que a medida seria revisada em até 30 dias, dependendo da adequação dos processos internos de compliance.
Impacto nas contas dos usuários
Para os usuários, o bloqueio significou:
- Impossibilidade de comprar ou vender Bitcoin, Ethereum e outros tokens diretamente pela plataforma.
- Bloqueio de saques para carteiras externas, gerando risco de perda de acesso a fundos.
- Congelamento de saldos em cripto que permanecem registrados como “ativo não disponível”.
Além disso, alguns clientes relataram que a restrição se estendeu a transferências de valores fiat originados de operações com cripto, afetando pagamentos de contas e compras online.
Como funciona o bloqueio de cripto em bancos digitais
Os bancos digitais costumam adotar políticas de compliance mais rigorosas que os bancos tradicionais, pois operam quase que exclusivamente online e dependem de algoritmos para monitoramento de risco. O bloqueio de cripto geralmente segue duas etapas:
Políticas internas de compliance
Ao detectar um cliente que realiza transações frequentes ou de alto valor com cripto, o sistema interno de compliance gera um alerta. Esse alerta pode ser classificado como “baixo risco”, “médio risco” ou “alto risco”. Quando o risco ultrapassa um determinado limiar, a conta entra em um status de “monitoramento avançado”.
Detecção de transações suspeitas
Os algoritmos analisam padrões como:
- Volume de compra/venda em curtos períodos.
- Uso de endereços de carteira associados a exchanges estrangeiras.
- Conexões com serviços de anonimização (mixers).
Se a análise indicar risco de lavagem de dinheiro, o banco pode acionar o COAF e, como medida preventiva, suspender as funcionalidades de cripto até que a situação seja esclarecida.
Passo a passo para o usuário desbloquear ou migrar
Se você é cliente do Banco Inter e teve sua conta afetada, siga estas etapas para minimizar prejuízos e restabelecer o controle sobre seus ativos.
1. Verificar comunicação oficial
Primeiro, acesse o canal oficial do banco – aplicativo, site ou e‑mail – e procure o comunicado que detalha o motivo do bloqueio. Desconfie de mensagens que solicitem senhas ou códigos de verificação fora do ambiente oficial.
2. Entrar em contato com o suporte
Utilize o chat interno do aplicativo ou ligue para a central de atendimento (0800‑777‑7777). Tenha em mãos:
- Número da conta corrente.
- Identificação da carteira de cripto (endereço ou token).
- Histórico de transações recentes.
Solicite a abertura de um “ticket de compliance” e peça um prazo estimado para a resolução.
3. Transferir ativos para carteira externa
Se o bloqueio impedir a movimentação dentro do Banco Inter, avalie a possibilidade de transferir seus cripto para uma carteira externa (hardware wallet ou exchange). Para isso, siga:
- Crie uma carteira de hardware (ex.: Ledger Nano S) ou uma carteira de software segura.
- Gere um endereço de recebimento.
- Solicite ao suporte do Banco Inter a liberação de uma “transferência de saída” excepcional, apresentando justificativa (por exemplo, risco de perda de acesso).
Observe que a liberação pode levar até 15 dias úteis, conforme o procedimento interno de verificação.
Alternativas ao Banco Inter
Enquanto o Banco Inter revisa suas políticas, você pode considerar outras instituições que mantêm serviços de cripto mais abertos. Lembre‑se de analisar a reputação, as taxas e a conformidade regulatória de cada opção.
Outros bancos digitais que aceitam cripto
- Banco Next: oferece integração com a exchange Next Crypto, permitindo compra e venda de Bitcoin com taxa de 0,35%.
- Banco Original: mantém uma plataforma de “Investimento em Ativos Digitais” com suporte a stablecoins e tokens ERC‑20.
- Banco Nubank: lançou recentemente o “Nubank Crypto”, que permite custódia de Bitcoin e Ethereum com retirada para carteiras externas.
Corretoras e exchanges brasileiras
Se a prioridade for liquidez e variedade de tokens, as corretoras especializadas continuam como a melhor alternativa. Algumas das mais reconhecidas são:
- Mercado Bitcoin: a maior exchange do país, com suporte a mais de 200 criptoativos e opção de saque via PIX.
- Foxbit: oferece negociação spot e derivativos, além de integração com carteiras de hardware.
- Bitso Brasil: plataforma de fácil uso, com foco em stablecoins e suporte a transferências internacionais.
Riscos e cuidados ao usar bancos para cripto
Mesmo que um banco ofereça serviços de cripto, é essencial entender os riscos associados:
Segurança e compliance
Os bancos estão sujeitos a auditorias e a políticas de bloqueio que podem mudar rapidamente. A custódia de cripto em ambiente bancário pode ser menos transparente que em uma carteira pessoal, onde você detém as chaves privadas.
Volatilidade e proteção ao investidor
Embora a maioria dos bancos não ofereça garantias contra a queda de preços, alguns podem disponibilizar seguros ou coberturas limitadas. Verifique sempre os termos de serviço antes de depositar valores significativos.
Implicações fiscais
Todo ganho de capital com cripto deve ser declarado à Receita Federal. Quando a operação é feita por um banco, o extrato pode facilitar a apuração, mas também pode gerar dúvidas sobre a classificação do rendimento. Consulte um contador especializado.
Conclusão
O bloqueio de cripto pelo Banco Inter reflete a tensão entre a agilidade das fintechs e a necessidade de cumprimento das normas regulatórias brasileiras. Para os usuários, a situação exige atenção imediata: verifique comunicações oficiais, contate o suporte e, se necessário, migre seus ativos para carteiras ou exchanges que ofereçam maior autonomia.
Ao mesmo tempo, é importante acompanhar as atualizações do Banco Central e da CVM, pois novas regras podem surgir e impactar ainda mais o ecossistema de cripto no Brasil. Manter-se informado, diversificar onde seus ativos são armazenados e adotar boas práticas de segurança são as melhores estratégias para navegar em um ambiente ainda em construção.
Se você ainda não tem um guia de criptomoedas completo, recomendamos estudá‑lo antes de fazer novas movimentações. O conhecimento é a maior proteção contra surpresas como a do Banco Inter.