Análise on-chain avançada: métricas e estratégias para 2025
Nos últimos anos, a análise on-chain se consolidou como uma das ferramentas mais poderosas para investidores e desenvolvedores de criptomoedas. Enquanto a análise tradicional (price action, indicadores técnicos) foca no preço de mercado, a análise on-chain mergulha nos dados brutos da blockchain, revelando padrões de comportamento de usuários, fluxos de capital e sinais de saúde da rede. Este artigo aprofundado, escrito para o público brasileiro, traz uma visão técnica detalhada, cobrindo métricas, ferramentas, casos de uso e estratégias avançadas que você pode aplicar hoje.
Principais Pontos
- Diferença entre métricas on-chain e off-chain.
- Principais indicadores: NVT, MVRV, Realized Cap, HODL Waves.
- Ferramentas avançadas: Glassnode, Nansen, Dune Analytics, CryptoQuant.
- Como combinar análise on-chain com análise fundamentalista.
- Estudos de caso reais de 2023‑2025.
Entendendo a análise on-chain
A análise on-chain consiste em extrair informações diretamente dos ledgers distribuídos das redes de criptomoedas. Cada transação, cada endereço e cada contrato inteligente ficam registrados de forma imutável, permitindo que pesquisadores criem métricas que capturam a atividade real dos participantes.
Ao contrário dos dados de preço, que são fornecidos por exchanges centralizadas ou descentralizadas, os dados on-chain são públicos e verificáveis. Isso traz transparência, mas também exige conhecimento técnico para filtrar ruído e interpretar corretamente os sinais.
Métricas fundamentais de análise on-chain
A seguir, apresentamos as métricas mais utilizadas e como interpretá‑las.
1. NVT (Network Value to Transactions)
O NVT relaciona o valor de mercado da rede (market cap) com o volume de transações em dólares. A fórmula básica é:
NVT = Valor de Mercado / Volume de Transações (USD)
Um NVT alto indica que o preço está subindo mais rápido que o uso real da rede, sinalizando possível sobrevalorização. Valores baixos sugerem que a rede está sendo subutilizada em relação ao seu preço, podendo representar oportunidades de compra.
2. MVRV (Market Value to Realized Value)
O MVRV compara o valor de mercado atual com o realized value, que é a soma do preço de cada moeda no momento em que foi movimentada pela última vez. A métrica ajuda a identificar se os detentores estão em lucro ou prejuízo:
MVRV = Market Cap / Realized Cap
Quando o MVRV ultrapassa 2,5, historicamente há tendência de correção de preço. Valores abaixo de 0,8 podem indicar que a maioria dos investidores está em posição de compra.
3. Realized Cap (Capital Realizado)
Ao contrário do market cap tradicional, que usa o preço corrente, o Realized Cap utiliza o preço de cada unidade no momento de sua última movimentação. Essa métrica suaviza os picos de volatilidade e oferece uma visão mais estável da valorização da rede ao longo do tempo.
4. HODL Waves
Os HODL Waves segmentam os endereços em faixas de tempo desde a última transação (ex.: 0‑30 dias, 30‑90 dias, 90‑180 dias, etc.). Essa visualização permite observar a distribuição de moedas entre investidores de curto, médio e longo prazo. Um aumento nas ondas de longo prazo costuma preceder movimentos de alta sustentada.
5. Active Addresses (Endereços Ativos)
O número de endereços únicos que enviam ou recebem transações em um determinado período (geralmente diário) indica o nível de adoção. Embora possa ser inflado por bots, combinações com outras métricas ajudam a validar o interesse real.
6. Supply on Exchange (Suprimento em Exchanges)
Quantas moedas estão mantidas em carteiras de exchanges? Um aumento repentino pode sinalizar que investidores estão preparando-se para vender, enquanto uma queda indica que estão retirando fundos para armazenamento de longo prazo.
Ferramentas avançadas para análise on-chain
Embora seja possível extrair dados diretamente via APIs de nós (por exemplo, bitcoin-cli ou eth_getLogs), a maioria dos analistas prefere plataformas que já processam e visualizam as métricas.
Glassnode
Uma das mais completas, oferece dashboards de NVT, MVRV, Realized Cap, HODL Waves, entre outros. Possui planos gratuitos com limites e planos pagos que desbloqueiam séries históricas detalhadas.
Nansen
Focada em Ethereum, combina dados on-chain com tags de endereços (ex.: exchanges, fundos, DAO). Ideal para analisar fluxos de tokens DeFi e NFT.
Dune Analytics
Permite criar queries SQL personalizadas sobre os dados públicos das blockchains. A comunidade tem dashboards prontos para métricas avançadas, como whale tracking e liquidity pool monitoring.
CryptoQuant
Especializada em métricas de fluxo de capital entre exchanges e endereços de mineração. Oferece alertas de “exchange inflow” que podem ser usados como gatilhos de trade.
Como combinar análise on-chain e off-chain
A sinergia entre dados on-chain e indicadores off-chain (preço, volume de exchange, sentiment) potencializa a tomada de decisão.
- Identifique divergências: Se o preço está subindo enquanto o NVT indica sobrevalorização, pode haver risco de correção.
- Use alertas de fluxo: Quando o Supply on Exchange cai significativamente, combine com um breakout técnico para validar entrada.
- Cross‑reference com notícias: Um aumento repentino de Active Addresses pode estar ligado a um anúncio de parceria ou a uma campanha de marketing.
Exemplo prático: Em junho de 2024, o Bitcoin apresentou um NVT de 150 (acima da média histórica). Simultaneamente, o MVRV estava em 2,8, indicando que a maioria dos detentores estava em lucro. A combinação desses sinais previu a correção de 12% que ocorreu na semana seguinte.
Estudos de caso 2023‑2025
Case 1 – Bitcoin (2024)
Em janeiro de 2024, o Realized Cap do Bitcoin atingiu R$ 1,2 trilhão, enquanto o Market Cap estava em R$ 1,8 trilhão. O MVRV chegou a 1,5, sinalizando que ainda havia margem para valorização. Contudo, o NVT subiu para 180, indicando sobrevalorização relativa ao uso da rede. A estratégia adotada foi manter posições longas com stop‑loss próximo ao suporte de R$ 180.000, aproveitando a tendência de alta até o meio do ano, quando o NVT recuou para 130.
Case 2 – Ethereum (DeFi) (2023‑2025)
Durante o boom dos protocolos de finanças descentralizadas (DeFi) em 2023, o Supply on Exchange da ETH caiu 15% em três meses, indicando que grandes investidores estavam retirando fundos para staking. Ao mesmo tempo, o Active Addresses subiu 30%, refletindo maior engajamento em contratos DeFi.
Ao combinar esses indicadores com a análise de whale tracking no Nansen, identificou‑se que três grandes fundos estavam alocando capital em Layer‑2 solutions. O resultado foi um movimento de preço de +45% no segundo semestre de 2023, seguido de consolidação em 2024.
Case 3 – Solana (NFT) (2025)
Em março de 2025, a rede Solana apresentou um pico de HODL Waves na faixa de 180‑365 dias, indicando retenção de NFTs de alta qualidade. Simultaneamente, o NVT estava em 90, abaixo da média histórica de 120, sugerindo que o preço estava subvalorizado em relação ao volume de transações de NFTs.
Investidores que combinaram esses sinais com análises de sentiment no Guia de Criptomoedas compraram SOL a R$ 120, obtendo ganhos de 70% ao final de junho de 2025.
Riscos e limitações da análise on-chain
Apesar de seu poder, a análise on-chain tem limitações que devem ser reconhecidas:
- Ruído de bots: Endereços automatizados podem inflar métricas como Active Addresses.
- Lag temporal: Algumas métricas (ex.: Realized Cap) são calculadas com base em dados históricos e podem não refletir mudanças rápidas.
- Privacidade e anonimato: Embora as transações sejam públicas, identificar o propósito de um endereço pode ser complexo.
- Dependência de provedores: Ferramentas como Glassnode ou Nansen podem ter atrasos ou erros nos feeds de dados.
Portanto, a melhor prática é usar a análise on-chain como parte de um framework de decisão mais amplo, incluindo análise fundamentalista, gestão de risco e acompanhamento de notícias.
Como começar hoje
- Escolha uma plataforma: Crie contas gratuitas no Glassnode e Dune Analytics.
- Defina métricas-chave: Para iniciantes, comece monitorando NVT, MVRV e Supply on Exchange.
- Configure alertas: Use as funcionalidades de alerta (ex.: “NVT > 150”) para receber notificações por e‑mail ou Telegram.
- Teste em papel: Simule estratégias usando dados históricos antes de aplicar capital real.
- Integre ao seu portfólio: Combine sinais on-chain com indicadores técnicos como EMA, RSI e padrões de candlestick.
Conclusão
A análise on-chain avançada oferece uma camada de insight que vai além do simples olhar para o preço. Ao entender métricas como NVT, MVRV, Realized Cap e HODL Waves, e ao utilizar ferramentas robustas como Glassnode, Nansen e Dune, investidores brasileiros podem identificar oportunidades de compra, antecipar correções e melhorar a gestão de risco.
Em 2025, com a crescente maturidade das redes blockchain e a expansão dos protocolos DeFi e NFT, a integração de dados on-chain ao processo decisório se torna ainda mais crucial. Lembre‑se de combinar esses insights com análise fundamentalista, monitoramento de notícias e boas práticas de gestão de capital. Assim, você estará preparado para navegar os mercados de criptomoedas com mais confiança e precisão.