Introdução
Em setembro de 2022, a rede Ethereum executou um dos eventos mais esperados da história das criptomoedas: o Merge, a transição do consenso Proof‑of‑Work (PoW) para Proof‑of‑Stake (PoS). Desde então, o ecossistema tem evoluído, e em 2025 novos detalhes técnicos e econômicos são relevantes para quem deseja entender ou participar da rede. Este artigo oferece uma explicação aprofundada, técnica e didática sobre o Ethereum Merge, abordando seu funcionamento, impactos e o que ainda está por vir.
Principais Pontos
- O que é o Merge e por que ele aconteceu.
- Diferenças entre Proof‑of‑Work e Proof‑of‑Stake.
- Impactos ambientais e de consumo energético.
- Como a mudança afeta taxas de gás, emissão de ETH e segurança.
- Passos práticos para validar ou apostar em ETH.
- Perspectivas futuras: sharding, upgrades e roadmap 2025‑2026.
O que é o Ethereum Merge?
O termo “Merge” (fusão) descreve a união de duas cadeias distintas que já existiam na rede Ethereum:
- Beacon Chain: a cadeia PoS lançada em dezembro de 2020, responsável por gerenciar validadores, recompensas e penalidades.
- Ethereum Mainnet: a cadeia original PoW, onde contratos inteligentes e transações eram confirmados por mineradores.
Até o Merge, ambas operavam paralelamente. O Merge sincronizou o consenso da Beacon Chain com a camada de execução (EVM) da Mainnet, de modo que todas as transações continuaram sendo processadas, mas agora sob PoS.
Por que o Merge foi Necessário?
Vários fatores motivaram a mudança:
1. Consumo Energético
O PoW exige hardware especializado (ASICs) e consumo de energia comparável a países inteiros. Estimativas da Ethereum Foundation apontam que, antes do Merge, a rede consumia cerca de 15 GW, o que equivale ao consumo anual de aproximadamente 120 mil casas brasileiras. O PoS reduz esse número para menos de 0,01 GW – uma diminuição de mais de 99,9%.
2. Escalabilidade
Embora o Merge não aumente diretamente a capacidade de transações por segundo, ele prepara a rede para o sharding, que será implementado em etapas posteriores (Shard Chains). O PoS simplifica a implementação de shards, pois a coordenação entre validadores é mais eficiente que entre mineradores.
3. Segurança Econômica
Com PoS, a segurança da rede está atrelada ao valor total dos ETH em stake (cerca de 20 milhões de ETH em 2025, equivalente a aproximadamente R$ 760 bilhões). Um ataque exigiria adquirir ou controlar uma fração significativa desse capital, tornando-o economicamente inviável.
Como Funciona o Proof‑of‑Stake no Ethereum
No PoS, os participantes chamados validadores depositam um mínimo de 32 ETH como garantia (stake). Em troca, recebem o direito de propor blocos e validar blocos propostos por outros.
Processo de Proposição
- Um validator é selecionado pseudo‑aleatoriamente para criar um novo bloco (proposer).
- O bloco contém transações, atualizações de estado e o attestation (voto) de outros validadores.
- Os demais validadores verificam o bloco e, se considerado válido, adicionam seu voto.
- Quando um bloco atinge um limite de consenso (2/3 dos votos), ele é finalizado e o estado da cadeia avança.
Recompensas e Penalidades
Validadores recebem recompensas em ETH por:
- Propor blocos (recompensa de bloco).
- Votar corretamente (recompensa de attestation).
Penalidades (slashing) são aplicadas quando um validador age de forma maliciosa ou fica offline por longos períodos. O slashing destrói parte do stake, reforçando a segurança.
Impactos Ambientais e de Consumo Energético
Após o Merge, a emissão de carbono da rede caiu drasticamente. Estudos independentes de 2023 a 2025 apontam uma redução de mais de 99,9% nas emissões de CO₂, colocando o Ethereum ao lado de projetos digitais de baixo impacto. Essa mudança trouxe ganhos de reputação, atraindo investidores institucionais que exigem critérios ESG (Ambiental, Social e Governança).
Impactos Econômicos: Emissão de ETH, Taxas de Gás e Valor de Mercado
Emissão de ETH
Antes do Merge, a rede emitia cerca de 13 000 ETH por dia (≈ 4,7 milhões de ETH ao ano). Com PoS, a emissão foi reduzida para aproximadamente 4 800 ETH por dia, cerca de 1,75 milhão de ETH ao ano, representando uma diminuição de ~62%.
Taxas de Gás
O mecanismo de taxa foi revisado com a introdução do EIP‑1559 (já implementado em 2021) e, após o Merge, a queima (burn) de taxas continua, mas a dinâmica de preço mudou:
- Menor demanda de energia reduz custos operacionais dos validadores.
- Taxas tendem a ser mais estáveis, mas ainda dependem da congestão da rede.
- Em 2025, a taxa média de gás gira em torno de 12‑15 gwei, equivalente a aproximadamente R$ 0,15 por transação simples.
Valor de Mercado
O ajuste na emissão, aliado à maior confiança institucional, impulsionou o preço do ETH nos últimos três anos. Em novembro de 2025, o ETH cotava cerca de R$ 12.800, refletindo capitalização de mercado superior a US$ 200 bilhões.
Como Participar do PoS: Passo a Passo para Stakers Brasileiros
Existem três caminhos principais:
1. Staking Direto (32 ETH)
Requer hardware, configuração de um cliente (e.g., Prysm, Lighthouse) e depósito de 32 ETH. Ideal para usuários com conhecimento técnico avançado.
2. Staking em Pools
Plataformas como Lido, StakeWise ou exchanges brasileiras (ex.: Mercado Bitcoin, Binance) permitem depositar quantias menores (a partir de 0,1 ETH) e recebem tokens representativos (stETH, wstETH).
3. Staking através de Serviços de Custódia
Instituições como a Hashdex ou a Bitso oferecem produtos de staking custodial, onde o usuário delega a responsabilidade ao provedor e recebe rendimentos mensais.
Independentemente da escolha, é crucial observar a taxa de comissão, a segurança da plataforma e a reputação.
Segurança Pós‑Merge: Auditorias e Riscos
O Merge passou por auditorias extensas de empresas como Certik, Trail of Bits e ConsenSys Diligence. Não foram encontradas vulnerabilidades críticas que pudessem comprometer a finalização dos blocos. Contudo, riscos permanecem:
- Ataques de 51%: Impraticáveis devido ao alto custo de aquisição de stake.
- Falhas de Software: Bugs em clientes PoS podem causar “forks” temporários. Atualizações regulares mitigam esse risco.
- Risco de Slashing: Validadores mal configurados podem ser penalizados, perdendo parte do stake.
Roadmap Pós‑Merge: Sharding e Futuras Atualizações (2025‑2026)
O Merge foi apenas a primeira fase da chamada Ethereum 2.0. O próximo grande passo é o sharding, previsto para 2025‑2026, que dividirá a rede em múltiplas “shards” paralelas, aumentando a capacidade transacional para dezenas de milhares de TPS.
Fases planejadas
- Phase 1 – Data Availability Sampling (DAS): Introduz mecanismos de disponibilidade de dados para shards.
- Phase 2 – Execution Layer Sharding: Integra a camada de execução (EVM) aos shards, permitindo contratos inteligentes em cada shard.
- Phase 3 – Full Roll‑up Integration: Compatibilidade total com roll‑ups como Optimism e Arbitrum, que já operam como soluções de camada 2.
Essas etapas prometem reduzir taxas, acelerar confirmações e abrir espaço para aplicativos ainda mais complexos.
Comparação com Outras Blockchains PoS
| Blockchain | Algoritmo PoS | Tempo de Bloqueio | Taxa Média (R$) | Emissão Anual (ETH‑equivalente) |
|---|---|---|---|---|
| Ethereum | Casper FFG + Beacon Chain | 12 s | 0,15 | 1,75 milhões de ETH |
| Solana | PoH + PoS | 0,4 s | 0,08 | ~900 mil SOL |
| Cardano | Ouroboros Praos | 20 s | 0,05 | ~720 mil ADA |
Embora o Ethereum tenha latência maior que Solana, sua segurança, robustez de contratos e comunidade desenvolvedora o mantêm como a principal plataforma DeFi.
FAQ – Perguntas Frequentes
O Merge mudou a forma como eu envio transações?
Não diretamente. As carteiras continuam a assinar transações da mesma forma. A diferença está nas taxas, que podem ser mais estáveis.
Posso desfazer o staking?
Sim, após o período de “exit queue” (aproximadamente 7‑10 dias), o stake pode ser retirado, mas há um pequeno período de “withdrawal delay” de cerca de 6‑12 meses para a primeira fase de retirada (em 2023). Em 2025, esse atraso foi reduzido para cerca de 1‑2 meses.
O Merge afetou os NFTs?
Os NFTs continuam funcionando normalmente. A principal mudança foi a redução de custos de mintagem em alguns casos, graças à menor demanda de energia.
Conclusão
O Ethereum Merge representa um marco histórico na evolução das blockchains, ao combinar eficiência energética, maior segurança econômica e preparar a rede para a próxima revolução de escalabilidade – o sharding. Para usuários brasileiros, entender esses detalhes é essencial para tomar decisões informadas, seja como investidor, desenvolvedor ou entusiasta. À medida que o roadmap avança, o Ethereum tende a consolidar ainda mais seu papel como a principal infraestrutura para finanças descentralizadas, NFTs e aplicativos Web3 no Brasil e no mundo.