Collars: Estratégia de Hedging para Criptomoedas e Como Usar no Brasil
Nos últimos anos, o mercado de criptoativos amadureceu a ponto de oferecer instrumentos financeiros cada vez mais sofisticados, semelhantes aos disponíveis nos mercados tradicionais de ações e commodities. Entre essas ferramentas, os collars (ou “golas”) têm ganhado destaque como mecanismo de proteção (hedging) que combina opções de compra (call) e venda (put) para limitar tanto perdas quanto ganhos potenciais. Este artigo aprofunda o conceito, a mecânica, as vantagens e desvantagens, e, sobretudo, como montar um collar em cripto de forma segura e regulamentada no Brasil.
- Definição clara de collar e sua relação com opções.
- Como funciona a estrutura de compra e venda de opções.
- Vantagens fiscais e de risco para investidores brasileiros.
- Passo a passo para montar um collar em exchanges brasileiras.
- Comparação com estratégias alternativas como straddles e strangles.
O que são collars?
Um collar é uma estratégia de opções que combina duas posições simultâneas:
- Uma opção de venda (put) comprada, que estabelece um preço mínimo (strike) abaixo do qual o investidor não sofrerá perdas maiores.
- Uma opção de compra (call) vendida, que fixa um preço máximo (strike) acima do qual o investidor abrirá mão de ganhos adicionais.
O resultado é uma “gola” que envolve o preço do ativo entre dois limites: o strike da put (proteção) e o strike da call (limite de lucro). Essa estrutura permite ao investidor reduzir a volatilidade de sua posição, pagando geralmente um prêmio líquido menor que o custo de comprar apenas a put.
Como funciona a mecânica de um collar
Imagine que você possui 10 BTC valendo R$ 300.000,00 cada, totalizando R$ 3.000.000,00. Você tem receio de uma queda brusca nos próximos três meses, mas também não quer abrir mão de um possível aumento moderado. Você pode montar um collar da seguinte forma:
- Comprar uma put com strike de R$ 280.000,00 (proteção de R$ 200.000,00 por BTC).
- Vender uma call com strike de R$ 320.000,00 (limite de lucro de R$ 200.000,00 por BTC).
O prêmio pago pela put pode ser parcialmente compensado pelo prêmio recebido ao vender a call. Se o preço do BTC ficar entre R$ 280.000,00 e R$ 320.000,00 até o vencimento, você mantém a posição original, pagando apenas o custo líquido (se houver).
Vantagens e desvantagens dos collars
Vantagens
- Redução de risco: Limita perdas em cenários de queda acentuada.
- Custo reduzido: O prêmio da put pode ser financiado pela venda da call, tornando a estratégia mais barata que a compra isolada de puts.
- Previsibilidade: Define previamente um intervalo de preço aceitável, facilitando planejamento financeiro.
- Benefícios fiscais: No Brasil, a tributação de ganhos de capital em opções pode ser compensada com perdas de outras operações, reduzindo o imposto devido.
Desvantagens
- Limitação de upside: Ao vender a call, você abre mão de ganhos acima do strike da call.
- Complexidade operacional: Exige conhecimento de opções, prazos, volatilidade implícita e gerenciamento de margens.
- Liquidez: Em algumas exchanges brasileiras a liquidez de opções de cripto ainda é limitada, o que pode gerar slippage.
- Risco de contraparte: Em plataformas descentralizadas (DeFi) o risco de falha de contrato ou ataque pode afetar a execução.
Aplicação de collars no mercado de cripto no Brasil
Embora o conceito de collar tenha surgido nos mercados de ações, ele foi rapidamente adaptado ao universo das criptomoedas, especialmente nas plataformas que oferecem contratos de opções padronizados (por exemplo, Binance, Deribit, e a recém‑lançada Opções Crypto da Mercado Bitcoin). No Brasil, a regulação da CVM ainda está em desenvolvimento, mas as operações de opções são permitidas desde que ocorram em ambientes regulamentados ou em corretoras que possuam registro de instituição financeira.
Para investidores iniciantes, a recomendação é iniciar em exchanges que ofereçam settlement em moeda fiduciária (real) e que disponibilizem ferramentas de cálculo de risco. A Plataforma Hedging Crypto tem se destacado ao disponibilizar simuladores de collar com dados históricos de volatilidade, facilitando a decisão de strike adequado.
Passo a passo para montar um collar em cripto
- Defina o objetivo de proteção: Determine o nível de perda que você está disposto a aceitar (por exemplo, 10% abaixo do preço atual).
- Selecione o ativo e o prazo: Escolha a criptomoeda (BTC, ETH, BNB, etc.) e o vencimento da opção (30, 60 ou 90 dias são os mais comuns).
- Calcule o strike da put: Use a volatilidade implícita (IV) para estimar um strike que ofereça a proteção desejada. Ferramentas como o Calculador de IV podem ajudar.
- Determine o strike da call: Defina um preço máximo que você consideraria suficiente para limitar seu upside. Normalmente, escolhe‑se um strike 5‑15% acima do preço spot.
- Verifique o prêmio líquido: Some o custo da put e subtraia o prêmio recebido pela call. Se o resultado for positivo, você terá um custo adicional; se for negativo, a estratégia pode ser quase sem custo.
- Abra as posições: Na exchange, compre a put e simultaneamente venda a call. Certifique‑se de que ambas tenham o mesmo vencimento e quantidade de contratos.
- Monitore a posição: Acompanhe o preço do ativo e a volatilidade. Caso o mercado se aproxime dos strikes, avalie a possibilidade de ajustar a estratégia (rollover).
- Liquidação: No vencimento, se o preço estiver dentro da faixa, as opções expiram sem valor e você mantém seu ativo. Se o preço cair abaixo da put, você exerce a proteção; se subir acima da call, a call será exercida contra você, limitando o ganho.
Custos, taxas e tributação no Brasil
Ao operar collars, você incorrerá em duas categorias de custos:
- Taxas de corretagem: Cada exchange cobra uma taxa fixa ou percentual por contrato de opção.
- Spread de bid/ask: Em mercados menos líquidos, o preço de compra pode estar acima do preço de venda, gerando um custo implícito.
Em relação à tributação, a Receita Federal trata ganhos de capital em opções de cripto como renda tributável, com alíquota progressiva (15% a 22,5%). Contudo, perdas em opções podem ser compensadas com ganhos em outras operações de cripto, reduzindo o imposto devido. É essencial manter registros detalhados (data, preço de exercício, prêmio pago/recebido) para a declaração anual.
Comparação com outras estratégias de opções
| Estrategia | Objetivo | Custo Médio | Limite de Perda | Limite de Ganho |
|---|---|---|---|---|
| Collar | Hedging com upside limitado | Prêmio líquido (pode ser negativo) | Definido pelo strike da put | Definido pelo strike da call |
| Straddle | Betar alta volatilidade | Alta (compra de call + put) | Ilimitada (se o ativo cair muito) | Ilimitada (se o ativo subir muito) |
| Strangle | Similar ao straddle, porém strikes diferentes | Moderada a alta | Definido pelo strike da put | Definido pelo strike da call |
O collar se destaca quando o investidor busca proteção sem desembolsar grandes valores iniciais, aceitando um teto de lucro.
Ferramentas e plataformas brasileiras para operar collars
Algumas corretoras e fintechs brasileiras já oferecem produtos de opções de cripto:
- Mercado Bitcoin: Lançou recentemente opções de BTC e ETH com settlement em reais, permitindo a montagem de collars diretamente na interface.
- Foxbit: Disponibiliza um sandbox de opções para testes, ideal para quem está aprendendo.
- BitBlue: Integração com wallets de hardware e oferece relatórios automáticos para a declaração de imposto de renda.
- DeFi: Protocolos como Hegic e Opyn permitem criar collars em ambientes descentralizados, embora exijam conhecimento avançado de contratos inteligentes.
Independentemente da escolha, verifique sempre a reputação da plataforma, o nível de liquidez dos contratos e as taxas de retirada.
Perguntas frequentes (FAQ)
Posso montar um collar sem possuir o ativo subjacente?
Sim, a estratégia pode ser usada como “synthetic collar” (colocação sintética) onde o investidor compra o ativo simultaneamente à compra da put. Contudo, isso aumenta o capital necessário.
Qual a diferença entre um collar e um covered call?
Um covered call consiste apenas em vender uma call contra um ativo já possuído, sem comprar a put. O collar adiciona a compra da put, oferecendo proteção contra quedas.
Os collars são adequados para investidores iniciantes?
Embora a mecânica seja mais simples que outras estratégias de opções, recomenda‑se que o investidor tenha no mínimo conhecimento básico de como funcionam calls e puts, volatilidade e prazos.
Conclusão
Os collars representam uma ferramenta poderosa para quem deseja proteger seu portfólio de criptoativos contra movimentos adversos, ao mesmo tempo em que aceita um limite de ganho que pode ser planejado antecipadamente. No contexto brasileiro, a combinação de exchanges regulamentadas, ferramentas de cálculo de volatilidade e a possibilidade de compensar perdas fiscais torna a estratégia ainda mais atraente. Contudo, é imprescindível compreender os riscos de liquidez, a necessidade de monitoramento constante e a correta declaração tributária.
Ao seguir o passo a passo apresentado, escolher strikes adequados e utilizar plataformas de confiança, investidores iniciantes e intermediários podem incorporar o collar ao seu arsenal de gestão de risco, transformando a volatilidade típica das criptomoedas em uma oportunidade de controle e previsibilidade.