Como garantir aleatoriedade segura na criação da carteira

Como garantir aleatoriedade segura na criação da carteira

Para quem investe em criptomoedas, a segurança começa no momento em que a chave privada é gerada. Uma chave fraca ou previsível pode ser a porta de entrada para hackers, resultando em perda total dos ativos. Neste artigo, vamos explorar em detalhes como garantir uma fonte de aleatoriedade confiável ao criar sua carteira, abordando desde a teoria da entropia até ferramentas práticas e boas‑práticas para usuários iniciantes e intermediários no Brasil.

Principais Pontos

  • Entenda o que é entropia e por que ela é crítica para a segurança de chaves privadas.
  • Conheça as fontes de aleatoriedade nativas dos sistemas operacionais (Linux, Windows, macOS).
  • Saiba como usar geradores de hardware (HWRNG) e dispositivos como Ledger e Trezor.
  • Aprenda técnicas de coleta de entropia manual e como combinar múltiplas fontes.
  • Descubra ferramentas de teste de qualidade de aleatoriedade (dieharder, ENT, NIST SP‑800‑22).
  • Implemente boas práticas ao criar e armazenar sua carteira.

Entendendo a importância da aleatoriedade

A segurança de uma carteira de criptomoedas depende diretamente da imprevisibilidade da chave privada. Em termos criptográficos, a aleatoriedade é medida em bits de entropia. Para moedas como Bitcoin e Ethereum, recomenda‑se no mínimo 128 bits de entropia para gerar uma seed de 12 palavras (BIP‑39) e 256 bits para chaves privadas de curva secp256k1.

Se a fonte de aleatoriedade for fraca, um atacante pode reduzir drasticamente o espaço de busca e, com poder computacional suficiente, descobrir sua chave. Casos famosos, como a falha do Bitcoin private key leak em 2013, demonstram o risco de usar geradores de números pseudo‑aleatórios (PRNG) mal configurados.

Fontes de entropia confiáveis

Geradores de hardware (HWRNG)

Dispositivos dedicados a gerar números verdadeiramente aleatórios utilizam fenômenos físicos – ruído térmico, jitter de oscilador, ou até efeitos quânticos. Exemplos populares no mercado brasileiro:

  • Ledger Nano S/X: incorpora um chip seguro com gerador de hardware baseado em jitter.
  • Trezor Model T: usa um microcontrolador com fonte de ruído interno.
  • Yubico YubiKey: pode ser configurado como um HWRNG via comando ykman piv generate-key.

Esses dispositivos armazenam a seed dentro de um elemento seguro (Secure Element) e nunca expõem a entropia bruta ao host, reduzindo drasticamente a superfície de ataque.

Sistemas operacionais modernos

Os principais SOs já incluem coletores de entropia de alta qualidade:

  • Linux: /dev/random (bloqueia até ter entropia suficiente) e /dev/urandom (não bloqueia, mas ainda muito seguro para a maioria das aplicações).
  • Windows: API CryptGenRandom e, a partir do Windows 10, a BCryptGenRandom que utiliza o Cryptographic Primitive Provider do sistema.
  • macOS: SecRandomCopyBytes que se baseia no Apple Secure Enclave em dispositivos recentes.

Ao desenvolver ou usar wallets de código aberto, verifique se a biblioteca de geração de seed (por exemplo, bitcoinjs-lib ou ethers.js) está configurada para ler de /dev/urandom ou da API nativa do SO.

Métodos de coleta manual

Em situações onde o acesso a hardware ou ao sistema operacional não é confiável (por exemplo, ao usar uma máquina pública), pode‑se combinar fontes humanas:

  1. Movimento do mouse: registre coordenadas X/Y por alguns segundos.
  2. Pressões de teclas aleatórias.
  3. Tempo entre cliques (milissegundos).

Esses dados podem ser hash‑ados (SHA‑256) e concatenados com entropia do sistema para produzir uma seed robusta. Bibliotecas como entropy.js já implementam esse modelo.

Boas práticas ao usar wallets

Escolha de software confiável

Prefira wallets com código aberto e auditorias regulares, como:

Essas aplicações utilizam as APIs de entropia do SO por padrão, mas permitem a inserção de entropy pools adicionais via plugins.

Armazenamento da seed

Mesmo com uma fonte de entropia perfeita, a seed deve ser guardada de forma segura:

  • Imprima em papel e guarde em cofre (não em nuvem).
  • Use um gerenciador de senhas que suporte notas criptografadas (ex.: Bitwarden com chave mestre de 256 bits).
  • Para usuários avançados, crie uma shamir secret sharing (ex.: 3 de 5) e distribua partes em locais diferentes.

Evite ambientes comprometidos

Não gere chaves em máquinas suspeitas, em redes Wi‑Fi públicas ou com softwares desatualizados. O risco de malware que captura a seed em tempo real (keylogger ou clipboard hijacker) é real.

Auditoria e testes de entropia

Depois de gerar a seed, é possível validar a qualidade da aleatoriedade usando ferramentas reconhecidas:

  • dieharder: suite de testes estatísticos avançados.
  • ENT: fornece medidas como entropy, chi‑square e Monte Carlo Pi.
  • NIST SP‑800‑22: conjunto de 15 testes de aleatoriedade padrão da indústria.

Um exemplo de comando simples no Linux:

head -c 64 /dev/urandom | dieharder -a -g 200

Se a maioria dos testes passar com p‑values entre 0,01 e 0,99, a fonte é considerada segura para uso criptográfico.

Casos de uso no Brasil

Vários projetos nacionais adotam práticas rigorosas de geração de entropia:

  • Bitcoin Brasil recomenda a criação de seed offline usando um air‑gapped Raspberry Pi com rng-tools.
  • Mercado Bitcoin integra HWRNG nos seus cold wallets para custodiar fundos institucionais.

Seguir esses padrões ajuda a alinhar sua prática pessoal aos requisitos de compliance das exchanges brasileiras.

Conclusão

Garantir uma boa fonte de aleatoriedade ao criar sua carteira não é opcional; é a base da segurança de toda a sua jornada no mundo das criptomoedas. Ao combinar fontes nativas de entropia dos sistemas operacionais, dispositivos de hardware especializados e, quando necessário, coleta manual, você reduz drasticamente o risco de ataques de força bruta e vazamento de chaves. Lembre‑se de validar a qualidade da entropia com ferramentas reconhecidas, armazenar a seed de forma offline e evitar ambientes comprometidos. Seguindo essas diretrizes, você protege seus ativos digitais e fortalece a confiança na tecnologia blockchain.