Projetos que usam ZK‑Proofs: Guia completo para cripto no Brasil
Zero‑Knowledge Proofs (ZK‑Proofs) são uma das tecnologias mais promissoras para garantir privacidade e escalabilidade nas blockchains. Neste artigo, vamos explorar, de forma detalhada e técnica, os principais projetos que já incorporam ZK‑Proofs, entender como eles funcionam e analisar o impacto dessa tecnologia no ecossistema cripto brasileiro.
Principais Pontos
- Conceitos fundamentais de ZK‑Proofs e sua importância;
- Projetos blockchain que já utilizam ZK‑Proofs (Zcash, zkSync, StarkNet, etc.);
- Casos de uso fora das cadeias públicas, como identidade digital e DeFi;
- Desafios técnicos e econômicos ainda a serem superados;
- Passo a passo para desenvolvedores que desejam integrar ZK‑Proofs.
O que são ZK‑Proofs?
Zero‑Knowledge Proofs são protocolos criptográficos que permitem a uma parte (o prover) provar a outra (o verifier) que uma afirmação é verdadeira, sem revelar nenhum detalhe adicional sobre a informação subjacente. Existem duas categorias principais:
- Interactive ZK‑Proofs: requerem múltiplas trocas de mensagens entre prover e verifier.
- Non‑interactive ZK‑Proofs (NIZK): geram uma única prova que pode ser verificada de forma independente, ideal para blockchains.
Os esquemas mais conhecidos hoje são zk‑SNARKs (Zero‑Knowledge Succinct Non‑Interactive Argument of Knowledge) e zk‑STARKs (Zero‑Knowledge Scalable Transparent ARguments of Knowledge). Enquanto SNARKs exigem uma fase de trusted setup, STARKs são transparentes, porém costumam gerar provas maiores.
Por que ZK‑Proofs são relevantes para o Brasil?
O Brasil possui um dos maiores mercados de cripto‑ativos da América Latina, com mais de 30 milhões de usuários ativos. A demanda por privacidade nas transações, especialmente em setores como pagamentos, identidade e saúde, cria um cenário propício para a adoção de ZK‑Proofs. Além disso, a necessidade de escalabilidade para suportar volume de transações em redes como a Ethereum impulsiona a busca por soluções de camada 2 baseadas em zero‑knowledge.
Principais projetos blockchain que utilizam ZK‑Proofs
1. Zcash (ZEC)
Fundado em 2016, o Zcash foi o primeiro grande projeto a adotar zk‑SNARKs para oferecer transações completamente privadas. Ao enviar shielded transactions, o remetente gera uma prova de conhecimento que garante que a quantia está correta, sem revelar o endereço ou o valor. O Guia de ZK‑Proofs detalha a arquitetura de trusted setup utilizada pelo Zcash.
2. zkSync (Ethereum Layer‑2)
Desenvolvido pela Matter Labs, o zkSync utiliza zk‑SNARKs para agrupar milhares de transações L1 em uma única prova publicada na Ethereum. Isso reduz drasticamente as taxas de gas, permitindo que usuários no Brasil paguem menos que R$0,10 por transação. O zkSync também oferece suporte a smart contracts via zkSync Era, que combina SNARKs com uma EVM compatível.
3. StarkNet (Layer‑2 da Ethereum)
StarkNet, da StarkWare, emprega zk‑STARKs para criar provas de validade de execução de contratos inteligentes. A transparência do STARK elimina a necessidade de trusted setup, um ponto crítico para a comunidade cripto. Projetos como DeFi no Brasil já estão testando integração com StarkNet para melhorar a velocidade de swaps.
4. Aztec (Privacidade em Ethereum)
Aztec oferece uma camada de privacidade para tokens ERC‑20 e NFTs usando zk‑SNARKs. As chamadas confidential transactions permitem que valores e endereços sejam ocultados, ao mesmo tempo em que a validade da transação é garantida. Recentemente, o Aztec 2.0 lançou suporte a zero‑knowledge rollups que prometem escalar ainda mais.
5. Mina Protocol (Blockchain ultra‑leve)
Mina se destaca por ter um tamanho constante de 22 KB, graças ao uso de zk‑SNARKs para representar todo o histórico da cadeia. Essa característica permite que dispositivos móveis, inclusive smartphones brasileiros, validem a rede sem precisar baixar gigabytes de dados.
6. Loopring (DEX de camada 2)
Loopring combina zk‑Rollups com um modelo de ordem off‑chain, oferecendo alta liquidez e taxas quase nulas. A prova de validade garante que as ordens são executadas corretamente, sem a necessidade de confiar em um operador centralizado.
7. Polygon zkEVM
Polygon lançou sua versão zkEVM, que traz compatibilidade total com a Ethereum Virtual Machine usando provas de conhecimento. Isso permite que desenvolvedores migrem DApps existentes para uma camada 2 mais barata e privada, sem reescrever código.
8. Aleo (Plataforma de privacidade para aplicativos)
Aleo fornece uma linguagem de programação dedicada (Leo) para escrever aplicações que rodem totalmente fora‑chain, gerando provas zk‑SNARK que são verificadas na blockchain pública. O foco está em criar aplicativos de finanças privadas, voting e identidade.
Aplicações fora das blockchains públicas
Identidade digital
Projetos como World ID e SelfKey utilizam ZK‑Proofs para validar atributos de identidade (idade, nacionalidade) sem expor documentos completos. No Brasil, isso pode ser integrado a serviços de KYC (Conheça Seu Cliente) em exchanges, reduzindo custos de auditoria.
Finanças descentralizadas (DeFi)
Protocolos de empréstimo podem usar ZK‑Proofs para provar que um usuário possui colaterais suficientes sem revelar o saldo exato, aumentando a privacidade dos participantes. Exemplos incluem zkLend e Nightfall da EY.
Privacidade em NFTs
Com o crescimento do mercado de arte digital, artistas brasileiros podem ocultar a identidade do comprador usando provas zk‑SNARKs, mantendo a confidencialidade das negociações.
Desafios e limitações atuais
Apesar do entusiasmo, ZK‑Proofs ainda enfrentam obstáculos:
- Custo de geração de provas: embora a verificação seja barata, gerar provas pode consumir muita CPU e memória, impactando nós de validação.
- Trusted setup: esquemas SNARK ainda necessitam de uma fase de configuração segura; falhas podem comprometer a segurança.
- Complexidade de desenvolvimento: ferramentas ainda são emergentes, exigindo conhecimento avançado em criptografia.
- Regulação: autoridades brasileiras ainda estão avaliando como tratar transações totalmente anônimas em termos de combate à lavagem de dinheiro.
Como desenvolvedores podem começar a usar ZK‑Proofs?
Segue um roteiro prático para quem deseja integrar zero‑knowledge em projetos:
- Escolha a biblioteca: snarkjs (SNARK) ou starkware‑libs (STARK).
- Entenda o trusted setup: se optar por SNARK, participe de ceremonies públicas ou use setups já auditados.
- Desenvolva circuitos: escreva o circuito em
circom(para SNARK) oucairo(para STARK). - Teste localmente: use
npm run testoucairo‑testpara validar a lógica. - Despliegue: publique a verifier contract na Ethereum ou em outra rede compatível.
- Integre ao front‑end: utilize
websnarkoustarknet.jspara gerar provas no cliente.
Para quem prefere soluções prontas, plataformas como zkSync e StarkNet oferecem SDKs que abstraem grande parte da complexidade.
Conclusão
Os Zero‑Knowledge Proofs estão transformando a forma como lidamos com privacidade e escalabilidade nas blockchains. No Brasil, onde a adoção de cripto‑ativos cresce rapidamente, projetos que incorporam ZK‑Proofs – desde Zcash até zkSync e StarkNet – oferecem caminhos concretos para transações mais baratas, seguras e confidenciais. Apesar dos desafios técnicos e regulatórios, a comunidade está avançando rapidamente, e desenvolvedores brasileiros têm à disposição um ecossistema robusto de ferramentas e recursos. Ao entender os fundamentos, analisar os casos de uso e seguir boas práticas de desenvolvimento, é possível participar ativamente dessa revolução e contribuir para um futuro cripto mais privado e escalável.