Como os Bancos Estão Usando Blockchain no Brasil em 2025

Como os Bancos Estão Usando Blockchain no Brasil em 2025

Nos últimos anos, a tecnologia blockchain deixou de ser um conceito restrito ao universo das criptomoedas para se tornar um recurso estratégico nas instituições financeiras tradicionais. Em 2025, os maiores bancos brasileiros já implementam soluções baseadas em blockchain para melhorar a eficiência, reduzir custos e oferecer novos serviços aos clientes. Este artigo técnico explora, de forma aprofundada, como essas instituições estão adotando a tecnologia, quais são os casos de uso mais relevantes, os desafios regulatórios e as perspectivas para o futuro.

Principais Pontos

  • Blockchain melhora a liquidação de pagamentos interbancários, reduzindo o tempo de compensação de dias para segundos.
  • Uso de smart contracts para automação de processos de crédito e compliance.
  • Plataformas de tokenização de ativos permitem a negociação de frações de imóveis e títulos.
  • Redes permissionadas garantem privacidade e conformidade com a LGPD.
  • Parcerias entre bancos e fintechs impulsionam a inovação aberta.

O que é Blockchain e Por que os Bancos se Interessam?

Blockchain é um registro distribuído que armazena transações de forma descentralizada, segura e imutável. Cada bloco contém um conjunto de transações validadas por consenso, o que elimina a necessidade de intermediários confiáveis. Para os bancos, isso representa uma oportunidade de:

  • Reduzir custos operacionais ao eliminar processos manuais e intermediários.
  • Aumentar a transparência nas cadeias de valor, facilitando auditorias e compliance.
  • Melhorar a velocidade de liquidação de pagamentos e transferências internacionais.
  • Criar novos produtos financeiros, como ativos tokenizados e contratos inteligentes.

Esses benefícios são particularmente relevantes no contexto brasileiro, onde a infraestrutura de pagamentos ainda depende de processos que podem levar até três dias úteis para compensação.

Como os Bancos Brasileiros Estão Adotando a Tecnologia?

Os bancos adotam blockchain de duas formas principais: redes permissionadas (private) e parcerias com consórcios de blockchain. As redes permissionadas permitem que apenas participantes autorizados acessem e validem transações, atendendo às exigências de privacidade da LGPD e das normas do Banco Central.

1. Liquidação de Pagamentos Interbancários (PIX 2.0)

Com o sucesso do PIX, o Banco Central lançou o PIX 2.0, que incorpora blockchain para melhorar a rastreabilidade e a segurança das transações. Bancos como Banco do Brasil, Bradesco e Itaú já operam nós de validação que registram cada transferência em uma cadeia de blocos permissionada. O resultado:

  • Tempo de liquidação near‑real‑time (menos de 5 segundos).
  • Redução de custos de compensação em até 70%.
  • Auditoria automática, facilitando o combate à lavagem de dinheiro.

2. Smart Contracts para Crédito e Financiamento

Smart contracts são programas autoexecutáveis que acionam cláusulas contratuais ao serem atendidas condições pré‑definidas. Bancos estão usando essa funcionalidade para:

  • Automatizar a liberação de linhas de crédito após verificação de garantias tokenizadas.
  • Aplicar regras de compliance em tempo real, como limites de risco e verificações KYC.
  • Reduzir a necessidade de intervenção manual, diminuindo erros e fraudes.

Um exemplo concreto é o projeto piloto do Banco Safra, que utiliza um contrato inteligente para conceder microcrédito a startups, liberando recursos em até 30 segundos após a validação do token de garantia.

3. Tokenização de Ativos

A tokenização converte direitos sobre ativos reais (imóveis, títulos, commodities) em tokens digitais negociáveis em blockchain. No Brasil, bancos estão liderando projetos de tokenização de:

  • Imóveis residenciais e comerciais, permitindo a venda de frações a investidores individuais.
  • Títulos públicos (Tesouro Direto), facilitando a negociação secundária.
  • Recebíveis de crédito, transformando dívidas em ativos líquidos.

O Banco Santander Brasil lançou a plataforma Santander Token Lab, que já tokenizou R$ 150 milhões em ativos imobiliários, com negociação em exchanges regulamentadas.

4. Cadeia de Suprimentos e Trade Finance

Para operações de comércio exterior, a rastreabilidade de documentos (carta de crédito, conhecimento de embarque) é crucial. Bancos estão usando blockchain para criar um registro único e imutável desses documentos, reduzindo o tempo de liberação de crédito e mitigando riscos de fraude.

O consórcio Banco do Brasil + IBM desenvolveu a solução TradeChain, que já está em produção em mais de 30 rotas de exportação, reduzindo o ciclo de aprovação de 15 dias para 2 dias.

Casos de Uso Reais no Brasil

Banco do Brasil – Rede de Liquidação de Criptoativos (BRLChain)

Em parceria com a guia de criptomoedas e a startup HashTag, o Banco do Brasil criou a BRLChain, uma rede permissionada que permite a custódia e liquidação de criptoativos em reais. Clientes podem comprar Bitcoin, Ethereum e stablecoins diretamente via aplicativo, com custódia garantida pelo banco. A solução inclui:

  • Segurança de nível bancário, com chave HSM (Hardware Security Module).
  • Conversão instantânea R$ ↔︎ cripto, usando oráculos de preço certificadas.
  • Compliance integrado ao Sistema de Informações de Crédito (SCR).

Bradesco – Plataforma de Tokenização de Recebíveis (Bradesco Token)

O Bradesco lançou o Bradesco Token, que tokeniza recebíveis de pequenas e médias empresas (PMEs). Cada nota fiscal emitida pode ser convertida em um token que representa o direito de crédito. O banco oferece:

  • Financiamento imediato de até 80% do valor tokenizado.
  • Negociação de tokens em marketplace interno, com liquidez diária.
  • Garantia de compliance via auditoria blockchain.

Itaú – Solução de Identidade Digital (Itaú ID)

A solução Itaú ID usa blockchain para armazenar credenciais de identidade (KYC) de forma descentralizada. Quando o cliente abre uma conta ou solicita um serviço, o banco consulta a credencial sem precisar armazenar dados sensíveis localmente, reduzindo risco de vazamento e facilitando a atualização de informações.

Desafios e Regulamentação

Apesar dos avanços, a adoção de blockchain pelos bancos ainda enfrenta barreiras técnicas, regulatórias e culturais.

1. Conformidade com a LGPD e a Lei de Criptomoedas

As redes permissionadas precisam garantir que dados pessoais sejam armazenados de forma segura e que o direito ao esquecimento possa ser cumprido, algo complexo em um ledger imutável. Soluções híbridas, que mantêm dados sensíveis off‑chain e armazenam apenas hashes, têm sido adotadas.

2. Interoperabilidade entre Blockchains

Os bancos utilizam diferentes plataformas (Hyperledger Fabric, Corda, Quorum). A falta de padrões de interoperabilidade pode criar silos de informação. Organizações como a ABEF (Associação Brasileira de Fintechs) estão trabalhando em protocolos de comunicação cross‑chain.

3. Custos de Infraestrutura

Embora a blockchain reduza custos operacionais, a implantação de nós de validação, hardware de segurança e desenvolvimento de smart contracts exige investimento significativo. Bancos têm compartilhado custos por meio de consórcios, mas ainda há necessidade de ROI claro.

4. Resistência Cultural

Profissionais de TI bancária muitas vezes têm experiência limitada em desenvolvimento de blockchain. Programas de capacitação e parcerias com universidades (ex.: Programa de Pós‑Graduação em Blockchain da USP) são cruciais para superar essa barreira.

Impacto Futuro e Tendências para 2026 e Além

Olhar para o futuro permite identificar quais inovações terão maior relevância nos próximos anos:

  • DeFi institucional: Bancos podem oferecer produtos de finanças descentralizadas (empréstimos, staking) a clientes qualificados, combinando a segurança bancária com a flexibilidade DeFi.
  • CBDC (Moeda Digital do Banco Central): O real digital, em fase de testes, será construído sobre blockchain permissionada. Bancos terão papel central na custódia e distribuição.
  • IA + Blockchain: Algoritmos de IA podem analisar dados armazenados em blockchain para detecção avançada de fraudes e otimização de risco.
  • Tokenização massiva de ativos: Expectativa de que até 2028, 30% dos ativos financeiros brasileiros estejam tokenizados.

Conclusão

A adoção de blockchain pelos bancos brasileiros está em plena expansão, movida pela necessidade de reduzir custos, aumentar a velocidade de pagamentos e criar novos produtos financeiros. Projetos como BRLChain, Bradesco Token e Itaú ID já demonstram que a tecnologia pode ser aplicada em escala real, trazendo benefícios tangíveis tanto para as instituições quanto para os consumidores.

Entretanto, o caminho ainda exige superação de desafios regulatórios, interoperabilidade e capacitação de talentos. O futuro aponta para uma convergência entre finanças tradicionais, DeFi e a moeda digital do Banco Central, formando um ecossistema financeiro mais aberto, transparente e eficiente.

Para quem acompanha o universo cripto, entender como os bancos estão incorporando blockchain é essencial para antecipar oportunidades de investimento, parcerias e inovação. Continue acompanhando nossos artigos para ficar por dentro das últimas tendências e casos de uso no Brasil.