O universo das criptomoedas evolui rapidamente, e com ele surgem novas ferramentas que facilitam a interação dos usuários com a blockchain. Entre essas inovações, os domínios descentralizados – como o Ethereum Name Service (ENS) e a Unstoppable Domains – vêm ganhando destaque por transformar endereços complexos em nomes legíveis, semelhantes aos domínios da internet tradicional.
Introdução
Para quem ainda está dando os primeiros passos no mundo cripto, a ideia de usar um nome como alice.eth ou bob.crypto pode parecer simples, mas por trás desse conceito existe uma arquitetura sofisticada que combina blockchain, smart contracts e DNS descentralizado. Neste artigo, vamos explorar em profundidade como funcionam o ENS e a Unstoppable Domains, comparar suas principais características, analisar segurança, custos e casos de uso, e ainda oferecer um passo‑a‑passo para quem deseja registrar seu próprio domínio.
- O que são domínios descentralizados e por que são importantes;
- Diferenças fundamentais entre ENS e Unstoppable Domains;
- Como registrar e gerenciar um domínio em cada plataforma;
- Segurança, privacidade e implicações legais no Brasil;
- Casos de uso práticos para usuários, desenvolvedores e empresas.
O que são domínios descentralizados?
Domínios descentralizados são identificadores legíveis por humanos que são armazenados em uma blockchain, ao contrário dos domínios tradicionais, que dependem de autoridades centralizadas como a ICANN. Essa descentralização traz três benefícios principais:
- Resistência à censura: Como os registros são imutáveis e distribuídos, nenhum governo ou empresa pode bloquear ou apagar um domínio sem consenso da rede.
- Segurança criptográfica: Cada domínio está associado a um endereço de carteira, garantindo que apenas o proprietário com a chave privada correspondente possa fazer alterações.
- Experiência do usuário simplificada: Em vez de copiar e colar longos endereços hexadecimais (ex.:
0x3f...9b), o usuário pode simplesmente digitaralice.ethoubob.crypto.
Ethereum Name Service (ENS)
História e arquitetura
Lançado em 2017, o ENS é a solução de nomes da blockchain Ethereum. Ele funciona como um smart contract que mapeia nomes (por exemplo, .eth) para endereços Ethereum, mas também pode apontar para outros recursos como endereços de outras blockchains, URLs, ou até mesmo registros de texto.
Como funciona o registro
O processo de registro do ENS utiliza um modelo de leilão Vickrey (leilão de segundo preço) ou, mais recentemente, o sistema de registrar direto, onde o usuário paga um valor fixo em ETH e paga uma taxa anual de renovação. No Brasil, o custo médio para registrar um domínio .eth varia entre R$ 150,00 e R$ 300,00, dependendo da taxa de conversão do ETH no momento da compra.
Principais recursos
- Suporte nativo a
ERC‑721(NFT) – cada domínio é um token não fungível; - Integração com carteiras populares como MetaMask, Trust Wallet e Ledger;
- Possibilidade de criar subdomínios (ex.:
blog.alice.eth); - Resolução via
resolverENS que permite apontar para endereços de múltiplas cadeias (Ethereum, Binance Smart Chain, Polygon, etc.).
Unstoppable Domains
Visão geral e diferenciais
Fundada em 2018, a Unstoppable Domains oferece domínios com extensões como .crypto, .nft, .x e .wallet. Diferente do ENS, que depende de leilões ou pagamento de taxas de renovação, a Unstoppable Domains adota um modelo de pagamento único (one‑time payment) – o usuário paga uma única vez e possui o domínio para sempre, sem necessidade de renovação anual.
Processo de compra
A compra pode ser feita com moedas fiat (via cartão de crédito) ou com criptomoedas (BTC, ETH, USDT). No mercado brasileiro, os preços mais comuns são:
.crypto: a partir de R$ 120,00;.nft: a partir de R$ 140,00;.wallet: a partir de R$ 180,00.
Recursos exclusivos
- Domínios como NFTs (ERC‑1155) – permitem transferência entre carteiras;
- Integração com navegadores que suportam Web3 (Brave, Opera) e plugins como MetaMask;
- Suporte a múltiplas blockchains (Ethereum, Polygon, Binance Smart Chain) em um único registro;
- Capacidade de apontar para endereços de pagamento, perfis de redes sociais e sites estáticos hospedados em IPFS.
Comparativo técnico: ENS vs Unstoppable Domains
| Característica | ENS | Unstoppable Domains |
|---|---|---|
| Extensões disponíveis | .eth, .xyz, .luxe, .kred | .crypto, .nft, .wallet, .x, .dao |
| Modelo de pagamento | Taxa única + renovação anual | Pagamento único (domínio permanente) |
| Tipo de token | ERC‑721 (NFT) | ERC‑1155 (NFT multi‑token) |
| Suporte a subdomínios | Sim (ex.: blog.alice.eth) | Limitado, depende da implementação do contrato |
| Integração com carteiras | MetaMask, Trust, Ledger, Trezor | MetaMask, Trust, WalletConnect, Brave |
| Resistência à censura | Alta – depende da descentralização da Ethereum | Alta – usa IPFS e registros off‑chain para conteúdo |
| Taxas de transação (gas) | Variáveis (Ethereum network) | Taxas de mint na blockchain escolhida (geralmente mais baixas) |
Segurança e privacidade
Ambas as plataformas utilizam criptografia de chave pública‑privada para garantir que somente o proprietário do domínio possa editá‑lo. No entanto, há nuances importantes:
- ENS: O controle total está atrelado à chave privada da carteira Ethereum. Se a chave for comprometida, o invasor pode transferir o domínio (como NFT) para outra carteira. Por isso, recomenda‑se o uso de hardware wallets.
- Unstoppable Domains: Como os domínios são NFTs ERC‑1155, a mesma lógica de risco se aplica. A diferença está no fato de que, após a compra, não há necessidade de renovação; isso reduz a superfície de ataque relacionada a pagamentos recorrentes.
No contexto brasileiro, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) não se aplica diretamente a blockchains públicas, mas os usuários devem estar cientes de que informações como o endereço de carteira ligado ao domínio são publicamente visíveis.
Como registrar seu domínio passo a passo
Passo 1 – Escolha da extensão
Defina se você prefere .eth (ENS) ou .crypto/.nft (Unstoppable). Considere o público‑alvo: .eth tem maior reconhecimento entre desenvolvedores Ethereum, enquanto .crypto é mais amigável para usuários de múltiplas blockchains.
Passo 2 – Preparar a carteira
Instale uma carteira compatível (MetaMask, Trust Wallet ou Ledger). Certifique‑se de que ela contém ETH ou outra criptomoeda aceita para o pagamento.
Passo 3 – Conectar ao site oficial
Acesse app.ens.domains ou unstoppabledomains.com, conecte sua carteira e procure o nome desejado.
Passo 4 – Confirmar disponibilidade e preço
Se o nome estiver livre, o sistema exibirá o preço em ETH e a taxa anual (para ENS). Para Unstoppable Domains, será exibido o valor único em dólares, convertido para reais na hora da compra.
Passo 5 – Finalizar a transação
Assine a transação na sua carteira. No caso do ENS, aguarde a confirmação do bloco e, em seguida, registre o resolver apontando para seu endereço de carteira ou site.
Passo 6 – Configurar registros adicionais
Você pode adicionar registros de texto (TXT) para verificação de identidade, apontar para um endereço de contrato inteligente ou definir um URL de redirecionamento via IPFS.
Casos de uso práticos
A adoção de domínios descentralizados vai muito além de simplificar pagamentos. Veja alguns exemplos reais:
1. Recebimento de pagamentos
Ao divulgar alice.eth ou bob.crypto em lojas virtuais, o cliente pode enviar criptomoedas sem copiar endereços longos, reduzindo erros de digitação.
2. Identidade digital e login
Plataformas Web3 permitem que usuários façam login usando apenas seu domínio, eliminando a necessidade de senhas. Projetos como Lens Protocol já suportam ENS.
3. Sites estáticos em IPFS
Domínios podem apontar para um hash IPFS, permitindo a publicação de sites totalmente descentralizados, sem risco de ser derrubado por servidores centralizados.
4. NFTs e coleções
Artistas podem usar domínios como .nft para associar sua obra a um endereço permanente, facilitando a descoberta e a autenticidade.
5. Marcas e proteção de identidade
Empresas brasileiras que já possuem domínio tradicional (exemplo.com.br) podem registrar a versão .eth ou .crypto para prevenir spoofing e proteger sua marca no ecossistema cripto.
Aspectos regulatórios no Brasil
Até a data de publicação (20/11/2025), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não emitiu regulamentação específica para domínios descentralizados. Contudo, recomenda‑se que usuários e empresas observem:
- Não utilizar domínios para atividades ilícitas, como lavagem de dinheiro ou financiamento ao terrorismo;
- Manter registro de transações para fins de auditoria fiscal, caso haja movimentação de valores significativos;
- Consultar um advogado especializado em direito digital ao usar domínios como marca registrada.
Futuro dos domínios descentralizados
Com a chegada de Ethereum 2.0 e o aumento da interoperabilidade entre blockchains, espera‑se que os domínios ganhem ainda mais relevância. Projetos como ENS Reverse Records e Unstoppable Domains’ Decentralized Websites (DWeb) prometem integrar identidade, pagamentos e hospedagem em um único endereço legível.
Além disso, a integração com Layer‑2 solutions (Polygon, Arbitrum) pode reduzir drasticamente as taxas de gas, tornando o registro e a atualização de domínios mais acessível para usuários de baixa renda no Brasil.
Conclusão
Domínios descentralizados – seja ENS ou Unstoppable Domains – representam um passo decisivo rumo a uma internet mais aberta e user‑friendly. Enquanto o ENS oferece forte integração com o ecossistema Ethereum e suporta subdomínios avançados, a Unstoppable Domains se destaca pelo modelo de pagamento único e pela variedade de extensões. Para usuários brasileiros, a escolha depende do perfil de uso: desenvolvedores que já operam na Ethereum podem preferir .eth, enquanto empreendedores que buscam simplicidade e custos fixos podem optar por .crypto ou .nft.
Ao entender as diferenças técnicas, custos, segurança e casos de uso, você estará preparado para adotar a identidade digital que melhor se alinhe à sua estratégia cripto, contribuindo para a expansão de um ecossistema mais descentralizado e resiliente.