A Liquid Network tem se destacado como a principal sidechain do Bitcoin, oferecendo velocidade, privacidade e emissão de ativos digitais que atendem tanto traders quanto desenvolvedores. Neste artigo, vamos analisar profundamente sua arquitetura, funcionamento, benefícios para o público brasileiro e os desafios que ainda precisam ser superados.
Principais Pontos
- Liquid funciona como uma sidechain federada, conectada ao Bitcoin via peg-in/peg-out.
- Transações são confirmadas em 1‑2 minutos, muito mais rápidas que a cadeia principal.
- Oferece confidencialidade por meio de Confidential Transactions e Bulletproofs.
- Permite a emissão de ativos digitais como stablecoins, tokens de ações e NFTs.
- Taxas de transação são geralmente inferiores a R$ 0,10, comparado ao Bitcoin que pode chegar a dezenas de reais.
O que é a Liquid Network?
Fundada em 2015 pela Blockstream, a Liquid Network foi lançada oficialmente em 2019 como uma sidechain federada de 13 membros, responsáveis pela validação de blocos. Seu objetivo principal é melhorar a eficiência das transações entre exchanges, traders e instituições financeiras que operam com Bitcoin.
História e desenvolvimento
Inicialmente chamada de “Blockstream Satellite”, a proposta evoluiu para uma rede de confidential transactions que preserva a privacidade dos valores transferidos. Desde o seu lançamento, a Liquid tem recebido atualizações regulares, como a integração de Taproot em 2023, que trouxe melhorias de escalabilidade e scriptability.
Arquitetura como sidechain
A Liquid opera como uma sidechain parceira do Bitcoin, mantendo sua própria cadeia de blocos, mas ancorada ao Bitcoin por meio de processos de peg‑in (bloqueio de BTC na cadeia principal) e peg‑out (liberação de BTC de volta ao Bitcoin). Essa conexão garante que os BTC movimentados na Liquid sejam 100 % respaldados por BTC reais na cadeia principal.
Como funciona a Liquid como sidechain do Bitcoin
Entender o mecanismo de peg‑in/peg‑out é essencial para quem deseja usar a Liquid de forma segura.
Peg‑in: enviando BTC para a Liquid
1. O usuário cria uma transação de lock‑up na cadeia principal, enviando BTC para um endereço especial controlado pelos federação da Liquid.
2. Uma vez confirmada (geralmente em 10‑20 minutos), a Liquid reconhece o bloqueio e emite a quantidade equivalente de L‑BTC (Liquid Bitcoin) na sua própria cadeia.
3. O L‑BTC pode ser usado imediatamente em transações dentro da Liquid, aproveitando sua velocidade.
Peg‑out: retornando BTC ao Bitcoin
1. O usuário cria uma transação na Liquid que queima L‑BTC.
2. A federação publica uma prova de que a quantidade foi queimada.
3. A cadeia principal libera os BTC originais ao endereço especificado, completando o ciclo.
Confidencialidade e ativos digitais
A Liquid utiliza Confidential Transactions (CT) para ocultar os valores transferidos, enquanto os endereços permanecem públicos. Além disso, Bulletproofs reduzem o tamanho das provas criptográficas, mantendo a eficiência da rede.
Taxas e velocidade
Graças ao consenso federado, os blocos são produzidos a cada 1 minuto, e a confirmação final costuma ocorrer em 2‑3 blocos (aproximadamente 2‑3 minutos). As taxas são definidas pela federação e, em média, giram em torno de 0,00002 BTC (≈ R$ 0,08 em 20/11/2025), muito inferiores às taxas da cadeia principal durante períodos de alta demanda.
Vantagens da Liquid para usuários brasileiros
Transações rápidas e baratas
Para traders que precisam mover grandes volumes entre exchanges brasileiras, a Liquid elimina a espera de até 1 hora ou mais na rede Bitcoin. Isso significa menor exposição ao risco de volatilidade e maior eficiência operacional.
Emissão de ativos digitais
A Liquid permite a criação de tokens lastreados em ativos reais, como stablecoins atreladas ao real (BRL‑L), cotas de fundos imobiliários ou até mesmo NFTs de arte digital. Esses ativos podem ser negociados dentro da rede com a mesma rapidez das transações de L‑BTC.
Privacidade aprimorada
Com os Confidential Transactions, o valor exato de cada transferência fica oculto, protegendo traders de concorrentes que poderiam inferir estratégias de mercado a partir de volumes de negociação.
Desafios e riscos
Centralização parcial
A federação da Liquid é composta por 13 membros, o que gera um grau de centralização maior que o Bitcoin. Embora isso proporcione rapidez, também cria um ponto único de falha potencial caso um número significativo de membros se torne malicioso.
Segurança e auditoria
Os contratos de federação são auditados publicamente, mas a confiança ainda depende da integridade dos operadores. Incidentes de hacking em exchanges que usam Liquid demonstram a necessidade de boas práticas de segurança e backups.
Regulação no Brasil
Autoridades como a CVM e o Banco Central ainda estão avaliando como classificar ativos emitidos na Liquid. Enquanto isso, usuários devem observar as obrigações de declaração de movimentação de cripto e manter registros claros para evitar problemas fiscais.
Como começar a usar a Liquid
Carteiras compatíveis
As principais carteiras que suportam a Liquid são:
- Blockstream Green – carteira mobile e desktop com integração nativa à Liquid.
- Electrum (versão Liquid) – ideal para usuários avançados que desejam controle total das chaves.
- Specter Desktop – solução open‑source para quem opera em ambiente de hardware wallet.
Exchanges que suportam Liquid
No Brasil, as principais corretoras que já habilitaram depósitos e saques via Liquid são:
- Mercado Bitcoin
- Binance Brasil
- Foxbit (em fase de teste beta)
Passo a passo para peg‑in
- Abra sua carteira Blockstream Green e selecione “Liquid (L‑BTC)”.
- Clique em “Receive” e copie o endereço de peg‑in gerado.
- Na carteira do Bitcoin (ex.: Coinbase), envie a quantidade desejada para o endereço copiado.
- Aguarde a confirmação na cadeia principal (geralmente 6 blocos ≈ 1 hora).
- Após a confirmação, a Liquid credita o L‑BTC na sua conta – pronto para usar.
Comparação com outras sidechains
Embora a Liquid ofereça velocidade e privacidade, outras sidechains como RSK (que traz contratos inteligentes ao Bitcoin) e Stacks (que permite aplicativos descentralizados) têm focos diferentes. A principal diferença está no modelo de consenso: a Liquid usa federação, enquanto RSK adota Proof‑of‑Work compatível com Bitcoin e Stacks utiliza Proof‑of‑Transfer.
Futuro da Liquid e roadmap 2025‑2026
O roadmap da Blockstream para 2025 inclui:
- Expansão da federação para 20 membros, aumentando a resiliência.
- Integração de Lightning Network dentro da Liquid, possibilitando micro‑pagamentos instantâneos.
- Lançamento de Liquid Tokens com suporte a ERC‑20 e ERC‑721 para interoperabilidade com Ethereum.
- Ferramentas de compliance on‑chain para facilitar a adesão às normas da CVM.
Essas inovações podem consolidar a Liquid como a principal camada de liquidez para o ecossistema Bitcoin no Brasil.
Conclusão
A Liquid Network representa um avanço significativo para quem busca combinar a segurança do Bitcoin com a velocidade e privacidade necessárias ao mercado financeiro moderno. Para usuários brasileiros, a possibilidade de mover BTC entre exchanges em minutos, emitir ativos lastreados em reais e proteger valores de olhares curiosos abre novas oportunidades de investimento e desenvolvimento de negócios. Contudo, a centralização federada e o cenário regulatório ainda demandam cautela. Ao adotar boas práticas de segurança, escolher carteiras confiáveis e acompanhar as atualizações da Blockstream, você pode aproveitar ao máximo os benefícios que a Liquid oferece.