Introdução
Em novembro de 2025, o Bitcoin completa quase 16 anos de existência e continua a evoluir para atender às demandas de privacidade, escalabilidade e segurança. Dois dos upgrades mais esperados e transformadores são o Taproot e as assinaturas Schnorr. Embora os termos pareçam complexos, compreender seu funcionamento é essencial para quem deseja usar ou desenvolver soluções sobre a maior criptomoeda do mundo.
- Taproot permite contratos inteligentes mais eficientes e privados.
- Schnorr substitui a assinatura ECDSA, reduzindo o tamanho das transações.
- Ambos foram ativados em conjunto por meio da soft‑fork BIP 341/342.
- Impactam diretamente usuários, desenvolvedores e mineradores.
Nos próximos tópicos, vamos dissecar cada tecnologia, analisar seus benefícios e explicar como você pode aproveitar essas inovações no seu dia a dia.
O que é o Taproot?
Histórico e motivação
O Taproot foi proposto inicialmente por Gregory Maxwell em 2018 e chegou à rede em 2021, após a aprovação da BIP 341 e BIP 342. Seu objetivo principal era melhorar a privacidade e a eficiência dos scripts de Bitcoin, tornando transações complexas indistinguíveis de transações simples.
Como funciona o Taproot
Em termos técnicos, o Taproot combina três componentes-chave:
- Merkle Tree de scripts: Cada ramificação representa um script possível. O nó raiz (Merkle root) é comprometido na transação.
- Chave pública agregada (Schnorr): Uma única chave pública representa tanto o dono da saída quanto os scripts associados.
- Control Block: Quando um script específico é gasto, o usuário revela apenas o caminho necessário no Merkle Tree, mantendo os demais ocultos.
Assim, se a transação for gasta com a chave padrão (sem script), nenhum dado adicional é revelado, preservando a privacidade.
Benefícios para privacidade e escalabilidade
- Privacidade: Observadores externos não conseguem distinguir entre pagamentos simples e contratos inteligentes.
- Escalabilidade: Redução de até 30% no tamanho das transações quando se utiliza assinaturas Schnorr.
- Flexibilidade: Permite criar scriptless scripts, ou seja, contratos que não exigem revelar o código.
Esses ganhos são particularmente relevantes para usuários brasileiros que buscam enviar valores menores (por exemplo, R$ 0,01) sem inflar o tamanho dos blocos.
Assinaturas Schnorr
Diferenças em relação às ECDSA
Até então, o Bitcoin utilizava a assinatura Elliptic Curve Digital Signature Algorithm (ECDSA). Embora segura, a ECDSA tem limitações:
- Assinaturas maiores (71‑73 bytes).
- Impossibilidade de agregação de assinaturas sem modificações complexas.
As assinaturas Schnorr, padronizadas na BIP 340, oferecem:
- Tamanho fixo de 64 bytes.
- Facilidade de agregação (multi‑assinatura) de forma linear.
- Propriedade de non‑malleability (não podem ser modificadas).
Vantagens técnicas
Além da redução de tamanho, Schnorr permite:
- Assinaturas agregadas: Várias partes podem combinar suas chaves públicas e assinaturas em uma única assinatura, economizando espaço.
- Assinaturas adaptativas: O mesmo par de chaves pode ser usado para diferentes scripts sem gerar novas chaves.
- Segurança provada: Baseada em problemas matemáticos bem estudados, como a Discrete Logarithm Problem.
Aplicação no Taproot
O Taproot depende de Schnorr para criar a chave pública agregada que representa tanto o dono da saída quanto os scripts possíveis. Essa integração permite que, ao gastar a saída, o usuário revele apenas a assinatura Schnorr e, se necessário, o control block do Merkle Tree. O resultado é uma transação que, do ponto de vista de quem a observa, parece uma simples transferência P2PKH.
Impacto no ecossistema Bitcoin
Para desenvolvedores
Desenvolvedores podem agora escrever contratos inteligentes mais compactos usando scripts de Bitcoin avançados. Bibliotecas como bitcoinjs-lib e btclib já suportam Taproot e Schnorr, facilitando a criação de aplicações DeFi, pagamentos em lote e wallets com múltiplas assinaturas.
Para usuários finais
Para o usuário brasileiro, o principal benefício é a redução de taxas. Como as taxas são calculadas por byte, uma transação 30% menor pode significar, em média, R$ 0,05 a menos em fees para um pagamento de R$ 100,00. Além disso, a privacidade aumentada impede que terceiros identifiquem que um contrato inteligente está sendo usado.
Riscos e considerações
Apesar das vantagens, há pontos de atenção:
- Compatibilidade: Nem todas as exchanges e serviços ainda aceitam endereços Taproot (prefixo
bc1p). - Curva de aprendizado: Implementar corretamente as assinaturas Schnorr requer atenção a detalhes de nonce e hashing.
- Segurança de bibliotecas: Sempre use versões auditadas e mantenha o software atualizado.
Como usar Taproot e Schnorr hoje
Carteiras compatíveis
Várias carteiras já oferecem suporte nativo:
- Electrum (versão 4.5+).
- Bitcoin Core (v24.0+).
- Ledger Nano S/X (firmware 2.3+).
- Blockstream Green.
Ao criar um novo endereço, escolha o tipo Taproot (P2TR) para garantir que suas transações aproveitem as assinaturas Schnorr.
Exemplos de transações
Segue um exemplo simplificado de como montar uma transação Taproot usando a biblioteca bitcoinjs-lib (Node.js):
const bitcoin = require('bitcoinjs-lib');
const network = bitcoin.networks.bitcoin;
// Gerar chave privada e pública Taproot
const keyPair = bitcoin.ECPair.makeRandom({ network, taproot: true });
const { address } = bitcoin.payments.p2tr({ internalPubkey: keyPair.publicKey.slice(1, 33), network });
console.log('Endereço Taproot:', address);
// Montar transação (simplificado)
const psbt = new bitcoin.Psbt({ network });
psbt.addInput({
hash: 'txid_da_entrada',
index: 0,
witnessUtxo: { script: bitcoin.script.compile([bitcoin.opcodes.OP_1, keyPair.publicKey]), value: 50000 },
});
psbt.addOutput({ address: 'bc1qdestinatario...', value: 49000 }); // taxa de 1000 sat
psbt.signInput(0, keyPair);
psbt.finalizeAllInputs();
const tx = psbt.extractTransaction();
console.log('Tx hex:', tx.toHex());
Observe que a assinatura gerada tem exatamente 64 bytes, evidenciando a economia de espaço.
Conclusão
Taproot e as assinaturas Schnorr representam um salto qualitativo na evolução do Bitcoin. Eles unem privacidade, eficiência e flexibilidade, criando condições para que contratos inteligentes mais sofisticados sejam executados sem comprometer a confidencialidade dos usuários. Para o público brasileiro, isso se traduz em menores taxas, maior segurança e novas possibilidades de uso, como pagamentos em lote para comerciantes ou soluções de custódia descentralizada.
Embora ainda haja desafios de adoção, a maioria das carteiras e serviços já está migrando para o novo padrão. Manter-se informado e atualizar suas ferramentas é a melhor forma de aproveitar ao máximo esses avanços.
Continue acompanhando nosso Guia de Criptomoedas e a Evolução do Bitcoin para ficar por dentro das próximas inovações.