O SegWit (Segregated Witness) é uma das atualizações mais relevantes já implementadas nas redes de criptomoedas, especialmente no Bitcoin. Lançado em 2017, ele introduziu uma mudança estrutural no formato das transações, separando a assinatura (witness) dos dados principais. Essa separação trouxe ganhos de escala, redução de taxas e, sobretudo, resolveu um problema crítico conhecido como transaction malleability. Para quem ainda está iniciando no universo cripto, compreender o SegWit é essencial para entender por que a rede Bitcoin continua competitiva frente a novas tecnologias.
Principais Pontos
- SegWit reduz o tamanho efetivo das transações, permitindo mais transações por bloco.
- Elimina a vulnerabilidade de transaction malleability, facilitando a adoção de Lightning Network.
- Permite a criação de endereços
bech32, mais econômicos e seguros. - Adoção gradual: nem todas as carteiras ou exchanges suportam o padrão desde o início.
História e origem do SegWit
Motivações iniciais
Desde o seu lançamento em 2009, o Bitcoin sempre enfrentou um dilema: como aumentar a capacidade de processamento sem comprometer a descentralização? Cada bloco tem um limite de 1 MB, o que, na prática, restringe o número máximo de transações que podem ser incluídas. A pressão por transações mais rápidas e baratas fez a comunidade buscar soluções de escala. Entre as propostas, o SegWit destacou‑se por ser uma mudança de protocolo relativamente simples, mas com impacto significativo.
Proposta por Dr. Pieter Wuille
A ideia foi formalizada por Pieter Wuille, um dos desenvolvedores mais influentes do Bitcoin, em um BIP‑141 publicado em 2015. A proposta descrevia a separação da assinatura (witness) do corpo principal da transação, permitindo que o tamanho “real” da transação fosse contado de forma diferente, liberando espaço para mais dados úteis dentro do mesmo limite de bloco.
Como o SegWit funciona tecnicamente
Separação da assinatura (witness)
Em uma transação tradicional, a assinatura – que comprova que o remetente tem o direito de gastar os fundos – fica incluída no scriptSig. O SegWit move essa assinatura para uma nova estrutura chamada witness, que fica armazenada fora da parte principal da transação. Essa mudança não altera o valor enviado, apenas a forma como os dados são organizados.
Formato de transação
Uma transação SegWit contém quatro partes principais:
- Version: indica a versão do protocolo.
- Marker e Flag: campos novos que sinalizam que a transação usa SegWit.
- Inputs e Outputs: mantêm o mesmo formato das transações legacy.
- Witness: contém as assinaturas e outros dados de validação.
O marker (valor 0x00) e o flag (valor 0x01) são essenciais para que os nós antigos reconheçam a transação como SegWit e a processem corretamente.
Impacto no tamanho dos blocos
O cálculo do tamanho de um bloco passou a usar a métrica weight, que atribui 4 unidades de peso a cada byte da parte tradicional e 1 unidade a cada byte da parte witness. Assim, um bloco pode ter até 4 MB de peso, mas ainda respeitar o limite de 1 MB de dados “não‑witness”. Na prática, isso significa que, em média, o número de transações por bloco pode crescer de 2 000 para cerca de 3 000‑4 000, dependendo do mix de transações SegWit e legacy.
Benefícios do SegWit
Redução de taxas
Como o custo de uma transação no Bitcoin é proporcional ao seu tamanho em bytes, a diminuição do tamanho efetivo trazida pelo SegWit reduz diretamente as taxas pagas pelos usuários. Transações SegWit costumam pagar entre 30 % e 50 % menos que as equivalentes legacy, o que se traduz em economia de dezenas a centenas de reais (R$) por transação em períodos de alta congestão.
Aumento da capacidade
Ao liberar mais espaço dentro dos blocos, o SegWit aumenta a taxa de transferência da rede, permitindo que mais usuários enviem seus pagamentos sem esperar longos tempos de confirmação. Essa maior capacidade é fundamental para a viabilidade de aplicações de pagamento em massa, como compras online ou remessas internacionais.
Prevenção de malleability
Antes do SegWit, era possível alterar levemente o hash de uma transação sem modificar seu conteúdo, um problema conhecido como transaction malleability. Essa vulnerabilidade dificultava a implementação de contratos inteligentes e de soluções de segunda camada. Ao mover as assinaturas para a parte witness, o SegWit elimina essa possibilidade, tornando a rede mais robusta para desenvolvedores.
Facilita Lightning Network
A Lightning Network depende da ausência de malleability e da capacidade de abrir canais de pagamento rapidamente. O SegWit, ao resolver o primeiro ponto e ao reduzir as taxas, cria um ambiente propício para que a Lightning se expanda, oferecendo transações quase instantâneas e quase sem custo.
Implementação nas principais criptomoedas
Bitcoin
O Bitcoin ativou o SegWit em 24 de agosto de 2017, após um longo período de debate na comunidade. A ativação foi feita via soft fork, garantindo compatibilidade retroativa. Desde então, a proporção de transações SegWit tem crescido consistentemente, ultrapassando 80 % nas últimas semanas (dados de 2025).
Bitcoin Cash e outras forks
Algumas forks, como o Bitcoin Cash (BCH), optaram por não adotar o SegWit, preferindo aumentar o tamanho do bloco diretamente. Contudo, outras cadeias, como o Bitcoin SV, implementaram variantes próprias de segregação de assinaturas.
SegWit em outras cadeias
Além do Bitcoin, várias criptomoedas adotaram o padrão SegWit ou versões adaptadas:
- Litecoin (LTC): ativou o SegWit em 2017, aproveitando a mesma lógica de peso de bloco.
- Dogecoin (DOGE): seguiu o caminho do Litecoin e também utiliza SegWit.
- Dash (DASH): implementou o SegWit de forma opcional, permitindo endereços legacy e bech32.
Essas implementações demonstram que o conceito de segregação de testemunho se mostrou eficaz além do Bitcoin.
Desafios e críticas
Adoção lenta
Embora o SegWit ofereça benefícios claros, sua adoção tem sido gradual. Muitas carteiras, exchanges e serviços ainda não suportam endereços bech32 ou transações SegWit, o que gera fricção para usuários finais. A curva de aprendizado e a necessidade de atualização de software são fatores que retardam a migração.
Compatibilidade com carteiras antigas
Carteiras que ainda utilizam o formato legacy (endereços que começam com “1”) podem enviar transações que não aproveitam o ganho de tamanho. Usuários que desejam aproveitar as taxas menores precisam migrar para carteiras que suportem SegWit, como Electrum, Wasabi ou aplicativos móveis como o BRD.
Como usar SegWit hoje
Endereços SegWit (bech32)
Os endereços SegWit são codificados em formato bech32, reconhecíveis por começarem com “bc1” (para Bitcoin). Eles são mais curtos, evitam caracteres ambíguos e reduzem ainda mais o custo da transação. Ao criar um novo endereço em sua carteira, procure a opção “SegWit (bech32)”.
Configuração de carteira
Para começar a usar SegWit, siga estes passos básicos:
- Instale uma carteira que suporte SegWit (ex.: Electrum, BlueWallet).
- Crie um novo endereço bech32 dentro da carteira.
- Transfira fundos de um endereço legacy para o novo endereço SegWit.
- Ao enviar, verifique se a taxa está otimizada para transações SegWit (geralmente a carteira faz isso automaticamente).
Exemplos de transações
Considere duas transações de 0,001 BTC cada:
- Legacy: tamanho médio de 226 bytes, taxa de 12 sat/byte → custo aproximado de R$ 0,50.
- SegWit: tamanho médio de 141 bytes, taxa de 6 sat/byte → custo aproximado de R$ 0,20.
Esses valores são ilustrativos e variam conforme a congestão da rede, mas demonstram claramente a economia possível.
Perspectivas futuras
SegWit vs. soluções de camada 2
O SegWit não resolve completamente o problema de escalabilidade; ele apenas aumenta a capacidade de blocos em cerca de 30 % a 40 %. Para transações massivas, a comunidade tem investido em soluções de camada 2, como a Lightning Network e sidechains. Contudo, o SegWit continua sendo a base que permite que essas soluções funcionem de forma segura.
Possíveis upgrades
Algumas propostas avançam além do SegWit:
- TAPROOT: ativado em 2021, combina assinatura Schnorr e permite scripts mais complexos sem aumentar o tamanho da transação.
- OP_CHECKTEMPLATEVERIFY (CTV): ainda em fase de debate, visa melhorar a eficiência de contratos de pagamento.
Essas inovações complementam o SegWit, reforçando a ideia de que o Bitcoin evolui de forma incremental, mantendo sua segurança e descentralização.
Conclusão
O SegWit representa um marco importante na evolução das criptomoedas, especialmente do Bitcoin. Ao separar a assinatura do restante da transação, ele trouxe ganhos de escala, reduziu taxas e resolveu a vulnerabilidade de transaction malleability, preparando o terreno para soluções de segunda camada como a Lightning Network. Embora a adoção ainda seja parcial, o número crescente de carteiras e exchanges que suportam endereços bech32 indica que o futuro está cada vez mais SegWit‑friendly. Para usuários brasileiros, entender e utilizar o SegWit pode significar economizar reais em taxas e participar de uma rede mais rápida e segura.