Métricas on-chain: Guia completo para investidores de cripto

Métricas on-chain: Guia completo para investidores de cripto

As métricas on-chain são ferramentas essenciais para quem deseja entender o que realmente acontece dentro das blockchains. Diferente da análise técnica, que se baseia apenas em preços e volumes de exchanges, as métricas on-chain analisam dados diretamente do protocolo, oferecendo insights sobre comportamento de investidores, saúde da rede e possíveis cenários futuros.

Introdução

Em 2025, o Brasil conta com mais de 30 milhões de usuários de criptomoedas, e a maioria ainda não domina as nuances das análises on-chain. Este artigo tem como objetivo preencher essa lacuna, explicando de forma clara e detalhada quais são as principais métricas, como interpretá‑las e quais ferramentas podem ser usadas para obter esses dados.

Por que as métricas on-chain são importantes?

As blockchains são registros públicos e imutáveis. Cada transação, cada contrato inteligente e cada endereço são armazenados de forma permanente. Isso permite que analistas extraiam informações como:

  • Atividade real de usuários reais, sem depender de dados de exchanges centralizadas.
  • Fluxos de capital entre diferentes camadas (ex.: DeFi, exchanges, wallets).
  • Indicadores de risco, como concentração de tokens em poucos endereços (whales).
  • Estudos de correlação entre eventos on-chain e movimentos de preço.

Principais Pontos

  • Definição e tipos de métricas on-chain.
  • Como coletar e interpretar cada métrica.
  • Ferramentas gratuitas e pagas para análise on-chain.
  • Estudos de caso reais (Bitcoin, Ethereum e Solana).
  • Dicas práticas para iniciantes e investidores intermediários.

O que são métricas on-chain?

“On-chain” significa “na cadeia”, ou seja, dentro da própria blockchain. As métricas on-chain são indicadores extraídos diretamente dos blocos, transações e estados de contrato. Elas podem ser divididas em três categorias principais:

  1. Métricas de atividade: número de transações, endereços ativos, taxa de transferência.
  2. Métricas de valor: volume total transferido, valor total bloqueado (TVL), capital circulante.
  3. Métricas de distribuição: concentração de riqueza, número de whales, Gini coefficient.

Essas categorias ajudam a entender não só quanto dinheiro está sendo movimentado, mas quem está movendo e como isso pode impactar o preço.

Métricas de atividade

1. Número de endereços ativos

Representa quantos endereços únicos enviaram ou receberam tokens em um período específico (geralmente 24h). Um aumento consistente indica maior adoção e interesse da comunidade.

2. Taxa de transferência (Transfer Rate)

É a proporção entre o número de transações e o número total de endereços existentes. Uma taxa alta pode sinalizar que os usuários estão utilizando a rede para fins reais, como pagamentos ou interações DeFi.

3. Volume de transações

Difere do volume de exchanges, pois contabiliza o valor total transferido na blockchain, independente da cotação de mercado. É útil para detectar movimentações de grandes quantias que podem preceder volatilidade.

Métricas de valor

1. Valor Total Bloqueado (TVL)

TVL mede o montante de ativos (em dólares ou outra moeda de referência) que estão travados em contratos inteligentes, como protocolos de empréstimo, pools de liquidez e staking. Um TVL crescente costuma ser sinal de confiança no ecossistema.

2. Valor de mercado circulante (Circulating Supply) vs. Valor bloqueado

Comparar a quantidade de tokens que estão realmente em circulação com a que está bloqueada pode revelar pressões de compra ou venda futuras.

3. Realized Cap (Capital Realizado)

Ao contrário do Market Cap, que usa o preço atual, o Realized Cap considera o preço da última transação de cada token. Essa métrica oferece uma visão mais realista do valor que os investidores realmente pagaram.

Métricas de distribuição

1. Gini Coefficient

O Coeficiente de Gini mede a desigualdade na distribuição de tokens. Um valor próximo a 1 indica alta concentração (poucos detêm a maioria dos tokens), enquanto valores próximos a 0 indicam distribuição mais equitativa.

2. Número de whales

Whales são endereços que detêm grandes quantidades de um ativo (geralmente mais de 1% do suprimento total). Monitorar a variação no número de whales ajuda a identificar possíveis manipulações de mercado.

3. Concentration Ratio (CR) – Top 10/100

Mostra a porcentagem do suprimento total detida pelos 10 ou 100 maiores endereços. Um CR alto pode sinalizar vulnerabilidade a vendas massivas.

Como interpretar as métricas on-chain

Interpretar essas métricas requer contexto. Não basta observar um número isolado; é preciso cruzar dados, analisar tendências históricas e comparar com eventos externos (regulamentação, anúncios de projetos, etc.).

Exemplo prático: aumento de endereços ativos + queda de preço

Se o número de endereços ativos está crescendo enquanto o preço cai, pode indicar que novos investidores estão entrando em um momento de baixa, o que costuma preceder uma recuperação (padrão de “buy‑the‑dip”).

Exemplo prático: TVL dispara + preço estagnado

Um salto repentino no TVL sem mudança de preço pode sinalizar que o mercado ainda não reconheceu o valor adicional. Isso pode ser uma oportunidade de compra antes que o preço ajuste.

Ferramentas populares para análise on-chain

Existem diversas plataformas que disponibilizam métricas on-chain em tempo real. Abaixo, listamos as mais usadas no Brasil:

  • Glassnode – Oferece dashboards avançados, alertas personalizados e métricas exclusivas como “Active Addresses Ratio”.
  • CryptoQuant – Focado em fluxos de capitais entre exchanges e wallets, ideal para detectar movimentos de whales.
  • IntoTheBlock – Combina análise on-chain com machine learning para gerar sinais de compra/venda.
  • Messari – Além de métricas, fornece relatórios de pesquisa profunda sobre projetos.
  • Chainalysis – Principalmente usado por reguladores, mas também oferece visualizações de fluxo de fundos.

Para quem está começando, recomendamos iniciar com a versão gratuita da Glassnode Studio e, conforme a necessidade, migrar para planos pagos.

Estudos de caso

Bitcoin (BTC)

Em setembro de 2023, o número de endereços ativos de Bitcoin atingiu um recorde histórico de 1,2 milhão. Simultaneamente, o Realized Cap subiu 15%, indicando que novos investidores estavam comprando a preços mais altos. Esse conjunto de métricas precedeu um rally que levou o BTC de R$150 mil para R$210 mil em menos de dois meses.

Ethereum (ETH)

Durante o lançamento da atualização “Merge” (setembro de 2022), o TVL do Ethereum caiu 8% devido à migração de alguns projetos para a camada 2. Contudo, a taxa de transferência aumentou 22%, sinalizando que a rede ainda estava sendo amplamente utilizada. Esse comportamento ajudou a estabilizar o preço do ETH, que manteve-se em torno de R$10 mil.

Solana (SOL)

Em maio de 2024, a métrica “Concentration Ratio (Top 10)” de Solana chegou a 45%, indicando que quase metade do suprimento estava nas mãos de poucos whales. Pouco depois, o preço de SOL sofreu uma correção de 30% após um grande whale vender 5% do total. Esse caso demonstra como métricas de distribuição podem antecipar volatilidade.

Dicas práticas para investidores iniciantes

  1. Comece com métricas simples: número de endereços ativos e volume de transações são fáceis de entender.
  2. Use alertas: configure notificações em plataformas como Glassnode para ser avisado quando o TVL ultrapassar determinado patamar.
  3. Combine on-chain com análise técnica: use indicadores como MACD ou RSI em conjunto com métricas on-chain para validar sinais.
  4. Não ignore o contexto regulatório: mudanças na legislação brasileira podem impactar fluxos entre exchanges e wallets.
  5. Mantenha um diário de observação: registre as métricas observadas e como elas correlacionam com movimentos de preço. Isso ajuda a refinar sua estratégia ao longo do tempo.

Riscos e limitações das métricas on-chain

Embora poderosas, as métricas on-chain têm limitações:

  • Endereços anônimos: nem sempre é possível identificar quem controla um endereço, o que dificulta a interpretação de “whales”.
  • Uso de mixers e tumblers: podem distorcer métricas de fluxo, especialmente em blockchains focadas em privacidade.
  • Lag temporal: algumas métricas são calculadas com base em dados históricos de 24h ou 7 dias, o que pode atrasar a detecção de eventos críticos.

Portanto, é fundamental combinar a análise on-chain com outras fontes de informação, como notícias, relatórios de projetos e análise de sentimento.

Conclusão

As métricas on-chain são instrumentos indispensáveis para quem deseja ir além da simples observação de preços. Elas revelam quem está usando a rede, quanto valor está sendo movimentado e como a distribuição de tokens pode influenciar a volatilidade. Ao dominar essas ferramentas, investidores brasileiros – iniciantes ou intermediários – ganham uma vantagem competitiva, podendo antecipar tendências, mitigar riscos e identificar oportunidades de forma mais precisa.

Se você ainda não explora dados on-chain, comece hoje mesmo: crie uma conta gratuita em Glassnode, monitore o número de endereços ativos e o TVL de seus projetos favoritos, e integre esses insights ao seu plano de investimento. O futuro das criptomoedas no Brasil depende de decisões informadas, e as métricas on-chain são a bússola que faltava.