Introdução
As tokens não-fungíveis (NFTs) continuam a revolucionar o mercado de ativos digitais, e a escolha da blockchain correta pode determinar o sucesso de um projeto. No Brasil, onde o ecossistema de cripto está em plena expansão, duas redes se destacam: Ethereum e Solana. Este artigo técnico, escrito para usuários iniciantes e intermediários, analisa detalhadamente as diferenças, vantagens e desvantagens de criar, comprar e vender NFTs em ambas as plataformas, abordando aspectos como custos, velocidade, segurança, escalabilidade e impacto ambiental.
- Custos de gas e taxas de transação
- Velocidade de confirmação e throughput
- Segurança e nível de descentralização
- Ecossistema de desenvolvedores e marketplaces
- Impacto ambiental e sustentabilidade
- Casos de uso relevantes no Brasil
Visão geral das NFTs
Uma NFT representa a propriedade exclusiva de um ativo digital ou físico, armazenada em um contrato inteligente. Diferentemente das criptomoedas fungíveis, cada token possui metadados únicos que descrevem sua identidade, como obra de arte, música, item de videogame ou certificado de autenticidade. Os padrões mais comuns são ERC‑721 e ERC‑1155 na Ethereum, enquanto Solana utiliza o padrão Metaplex Token Metadata. Esses padrões definem como os metadados são vinculados ao token e como os marketplaces podem ler e exibir as informações.
Ethereum: arquitetura e padrões
Ethereum foi a primeira blockchain a suportar contratos inteligentes robustos, lançada em 2015. Sua arquitetura baseada em Ethereum Virtual Machine (EVM) permite que desenvolvedores criem aplicações descentralizadas (dApps) em linguagens como Solidity. Para NFTs, os padrões mais adotados são:
ERC‑721
Introduzido em 2018, o ERC‑721 define um token único, ideal para obras de arte digitais. Cada token possui um identificador (tokenId) e um endereço de contrato que garante a singularidade.
ERC‑1155
Lançado em 2019, o ERC‑1155 permite a criação de tokens semi‑fungíveis, combinando múltiplos tipos de ativos em um único contrato. Isso reduz custos de implantação e simplifica a gestão de coleções grandes.
Ethereum utiliza um modelo de consenso Proof‑of‑Stake (PoS) desde a atualização “Merge” (2022). Embora isso tenha reduzido drasticamente o consumo energético, a rede ainda enfrenta desafios de escalabilidade, resultando em taxas de gas elevadas em períodos de alta demanda.
Solana: arquitetura e padrões
Solana, lançada em 2020, destaca‑se por sua alta performance e custos quase nulos. Sua arquitetura combina três inovações principais: Proof‑of‑History (PoH), Turbine (protocolos de propagação de blocos) e Sealevel (runtime paralela). Essas tecnologias permitem que a rede processe até 65.000 transações por segundo (TPS) com latência de menos de 400 ms.
Metaplex Token Metadata
O padrão de NFTs em Solana, desenvolvido pela iniciativa Metaplex, define metadados armazenados em contas separadas da blockchain, reduzindo o tamanho dos blocos. Isso torna a criação e transferência de NFTs extremamente barata, com taxas típicas de 0,00025 SOL (aproximadamente R$ 0,12, considerando 1 SOL ≈ R$ 480).
Solana utiliza um modelo de consenso Proof‑of‑Stake + Proof‑of‑History, que oferece alta segurança e baixa latência, embora a rede tenha sofrido interrupções temporárias em 2022 e 2023, gerando debates sobre sua robustez.
Comparação de custos de gas
Os custos de transação são um fator decisivo para artistas e colecionadores. Na Ethereum, o preço do gas varia de acordo com a demanda da rede e pode ultrapassar R$ 30,00 por transação simples em momentos de pico. Para mintar uma NFT ERC‑721, o custo médio em 2025 está entre R$ 50,00 e R$ 120,00, considerando o preço do ETH em torno de R$ 10.000,00.
Em contraste, Solana oferece taxas de menos de R$ 0,20 por operação, independentemente do volume. Essa diferença de custo cria um ambiente mais acessível para projetos de grande escala, como jogos que exigem milhares de mintagens diárias.
Velocidade e throughput
Ethereum processa aproximadamente 15‑30 TPS, o que pode gerar congestionamento e tempos de confirmação de 5‑15 minutos. As soluções de camada‑2 (Rollups, Optimistic Rollups, zk‑Rollups) mitigam esse problema, mas adicionam complexidade ao fluxo de trabalho.
Solana, por outro lado, mantém TPS acima de 50.000 em condições normais, com confirmações em menos de 1 segundo. Essa velocidade favorece aplicações em tempo real, como marketplaces de jogos e plataformas de streaming de conteúdo interativo.
Segurança e descentralização
Ethereum possui mais de 150.000 nós distribuídos globalmente, proporcionando alta descentralização e resistência à censura. A comunidade de desenvolvedores é a maior do ecossistema cripto, o que garante auditorias constantes e atualizações de segurança.
Solana tem um número menor de validadores (cerca de 1.500 em 2025) e, embora seus validadores sejam altamente especializados, a rede é considerada menos descentralizada. Ataques de negação de serviço (DoS) já foram relatados, mas os desenvolvedores têm implementado mecanismos de fallback e melhorias de governança.
Ecossistema e ferramentas de desenvolvimento
Ethereum oferece um conjunto maduro de ferramentas: Hardhat, Truffle, OpenZeppelin, Infura, Alchemy e bibliotecas como web3.js e ethers.js. Além disso, marketplaces consolidados como OpenSea, Rarible e LooksRare facilitam a distribuição de NFTs.
Solana possui seu próprio kit de desenvolvimento (SDK) em Rust, C e JavaScript, com frameworks como Anchor e serviços de indexação como The Graph Solana. Marketplaces populares incluem Solanart, Magic Eden e DigitalEyes. A comunidade brasileira tem criado tutoriais focados em Rust, o que pode representar uma curva de aprendizado maior para quem vem do Solidity.
Impacto ambiental
Com a transição da Ethereum para PoS, o consumo energético caiu em mais de 99,5%, tornando-a comparável a sistemas centralizados de pagamento. Estudos de 2024 apontam que a pegada de carbono da Ethereum agora está abaixo de 0,01 kg CO₂ por transação.
Solana, já concebida com PoH + PoS, sempre teve baixa demanda energética, estimada em 0,0005 kWh por transação. Essa eficiência continua sendo um ponto forte para projetos que buscam certificação verde ou que desejam alinhar-se a políticas ESG.
Casos de uso no Brasil
Vários artistas digitais brasileiros, como Rafaela Lopes e Bruno Silva, lançaram coleções em Ethereum para aproveitar a visibilidade internacional. Ao mesmo tempo, startups de jogos como PlayBraz optaram por Solana para garantir baixa latência e custos quase nulos nas micro‑transações de itens dentro do jogo.
Instituições financeiras brasileiras, como o Banco do Brasil, têm testado NFTs em Ethereum para certificar documentos de crédito, enquanto fintechs emergentes utilizam Solana para criar programas de recompensas tokenizadas que exigem alta frequência de emissão.
Desafios e oportunidades futuras
Ethereum enfrenta o desafio de melhorar a escalabilidade sem sacrificar a descentralização. As atualizações de sharding previstas para 2026 prometem aumentar a capacidade, mas ainda dependem de adoção em larga escala.
Solana precisa fortalecer sua governança e ampliar o número de validadores para reduzir riscos de centralização. Projetos como Wormhole (bridge entre Solana e Ethereum) já facilitam a interoperabilidade, permitindo que ativos circulam livremente entre as duas redes.
Para os usuários brasileiros, a escolha entre Ethereum e Solana dependerá do perfil do projeto: se a prioridade for segurança, reputação e acesso a um ecossistema consolidado, Ethereum será a escolha natural. Se a ênfase recair sobre custos reduzidos, alta velocidade e escalabilidade massiva, Solana oferece vantagens competitivas significativas.
Conclusão
Em 2025, as NFTs continuam a evoluir, e a disputa entre Ethereum e Solana reflete duas filosofias distintas de design de blockchain. Ethereum prioriza segurança, descentralização e um ecossistema maduro, enquanto Solana aposta em performance, baixas taxas e inovação rápida. O usuário brasileiro deve avaliar cuidadosamente fatores como custos de transação, velocidade, segurança, suporte da comunidade e requisitos de sustentabilidade antes de decidir onde lançar ou adquirir NFTs. Independentemente da escolha, ambas as redes oferecem ferramentas robustas e oportunidades de crescimento, consolidando o Brasil como um mercado vibrante e promissor no universo dos ativos digitais.