Impostos sobre criptomoedas em Portugal: tudo o que você precisa saber
O crescimento explosivo das criptomoedas nos últimos anos trouxe não só novas oportunidades de investimento, mas também dúvidas sobre como aAutoridade Tributária portuguesa trata esses ativos. Neste artigo de mais de 1500 palavras vamos analisar detalhadamente a legislação vigente, explicar quais são os impostos aplicáveis, quem precisa declarar e como otimizar a sua carga fiscal.
1. Enquadramento legal das criptomoedas em Portugal
Em Portugal, as criptomoedas não são reconhecidas como moeda legal, mas como ativos digitais. Essa classificação tem implicações diretas nos impostos que incidem sobre elas. A Autoridade Tributária (AT) considera as criptomoedas como bens móveis, sujeitas principalmente ao Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) quando há lucro na sua venda.
É importante destacar que Portugal tem um dos regimes mais favoráveis da Europa para investidores individuais, porém o tratamento pode variar de acordo com a atividade (trading, mineração, staking, airdrops, etc.).
2. Principais impostos que podem incidir
2.1. IRS – Mais‑valias de capital
Quando você vende criptomoedas por um preço superior ao valor de aquisição, a diferença é considerada uma mais‑valia de capital e deve ser incluída na sua declaração de IRS. O cálculo segue as mesmas regras aplicáveis a ações, mas com algumas especificidades:
- Taxa de imposto: 28% (taxa fixa para ganhos de capital)
- Base tributável: preço de venda menos preço de compra, ajustado por custos associados (taxas de corretagem, gas fees, etc.).
- Periodicidade: as mais‑valias devem ser declaradas no modelo 3, anexo G (Rendimentos de Capitais).
2.2. IVA – Operações de compra e venda
De acordo com a Portaria nº 140/2009, a compra e venda de criptomoedas está isenta de IVA, pois são consideradas “transmissões de bens móveis”. Portanto, não há cobrança de IVA sobre a aquisição ou venda de cripto‑ativos.
2.3. Imposto de selo – Não aplicável
O imposto de selo incide sobre determinados documentos e operações financeiras, mas não se aplica a transações de criptomoedas, já que estas não são reconhecidas como títulos de crédito ou dívidas.

3. Como declarar corretamente
Para cumprir com a obrigação fiscal, siga os passos abaixo:
- Registre todas as suas transações em planilhas detalhadas (data, par, quantidade, preço de compra, preço de venda, taxas).
- Calcule a mais‑valia ou menos‑valia por operação, utilizando o método FIFO (primeiro a entrar, primeiro a sair) – o método mais usado pela AT.
- Preencha o Modelo 3 (declaração de IRS) e, especificamente, o Anexo G, indicando o total de mais‑valias.
- Se o total de mais‑valias for negativo, você pode compensar com outras mais‑valias de anos anteriores ou com rendimentos de categoria B (rendimentos empresariais e profissionais) dentro de limites legais.
Para facilitar o processo, a AT disponibiliza o Portal das Finanças, onde você pode submeter a declaração e acompanhar o histórico de entregas.
4. Tributação de atividades específicas
4.1. Mineração (Mining)
A mineração é considerada uma atividade comercial. Os rendimentos resultantes são tributados como rendimentos independentes (Categoria B) e estão sujeitos ao regime progressivo do IRS (taxas entre 14,5% e 48%). Além disso, quem exerce mineração como empresa deve registar-se como sujeito passivo de IVA, embora a produção de cripto‑ativos em si continue isenta.
4.2. Staking e juros (Yield Farming)
Os rendimentos obtidos via staking são tratados como rendimentos de capitais (Categoria G) e tributados à taxa fixa de 28%. O mesmo vale para juros recebidos em plataformas de empréstimo de cripto‑ativos.
4.3. Airdrops e tokens gratuitos
Quando você recebe tokens gratuitos (airdrop) sem contrapartida, o valor de mercado no momento da recepção é considerado rendimento tributável na categoria G, com a taxa de 28%.

4.4. NFTs
Se você compra um NFT e depois o vende por lucro, a operação segue as regras das mais‑valias de capital (IRS 28%). Caso o NFT seja usado como ferramenta de produção (ex.: arte digital vendida como serviço), pode ser classificado como rendimento empresarial (Categoria B).
5. Residentes vs. Não residentes
Residentes fiscais em Portugal são tributados sobre a totalidade dos seus rendimentos mundiais, incluindo ganhos com cripto‑ativos obtidos no estrangeiro. Não residentes são tributados apenas pelos ganhos obtidos em território português, o que normalmente só ocorre se o ativo for vendido através de uma exchange localizada em Portugal.
6. Dicas práticas para otimizar a carga fiscal
- Planeie o momento da venda: aproveite anos com menor renda tributável para reduzir a taxa efetiva.
- Use perdas a compensar: perdas acumuladas de anos anteriores podem ser usadas para reduzir o imposto devido.
- Mantenha registos rigorosos: a AT pode solicitar comprovativos; registos detalhados evitam multas.
- Considere a criação de empresa: para quem faz mineração ou trading profissional, o regime empresarial pode ser mais vantajoso fiscalmente.
Para aprofundar sua estratégia de investimento, confira também este conteúdo relacionado: Como Investir em Cripto com Pouco Dinheiro: Estratégias, Ferramentas e Segurança e O que é uma carteira de criptomoedas (wallet) e como escolher a melhor para você. Se quiser entender melhor os riscos psicológicos do mercado, leia O que é FOMO e FUD no mercado cripto? Guia completo para investidores.
7. Conclusão
Portugal oferece um ambiente tributário atrativo, mas a responsabilidade de declarar corretamente recai sobre o contribuinte. Entender as diferentes categorias de imposto, manter registos precisos e planejar estrategicamente são passos essenciais para evitar surpresas na hora de preencher a declaração de IRS.
Com as informações acima, você está pronto para navegar o universo das criptomoedas sem medo de cair em armadilhas fiscais.