Como a Travel Rule afeta as exchanges de cripto
A Travel Rule (Regra de Viagem) é um dos requisitos mais críticos de combate à lavagem de dinheiro (AML) no ecossistema de criptoativos. Introduzida pelo Financial Action Task Force (FATF), ela exige que as instituições que movimentam valores acima de determinados limites compartilhem informações de remetente e destinatário em cada transação transfronteiriça. Para as exchanges de criptomoedas isso significa mudanças operacionais, técnicas e até estratégicas.
O que é a Travel Rule?
A Travel Rule foi criada para garantir que, quando fundos digitais cruzam fronteiras, as autoridades possam rastrear a origem e o destino dos recursos. Em termos práticos, toda exchange que realiza ou recebe transferências acima de US$1.000 (ou equivalente) deve coletar e transmitir os seguintes dados:
- Nome completo, endereço e data de nascimento do remetente;
- Nome completo, endereço e data de nascimento do destinatário;
- Informações da conta (endereço de carteira, número da conta, etc.).
Obrigações para as exchanges
Para cumprir a Travel Rule, as exchanges precisam:
- Implementar KYC (Know Your Customer) robusto em todas as contas;
- Integrar protocolos de transmissão de dados seguros (por exemplo, Travel Rule Information Sharing Alliance – TRISA ou InterVASP Messaging Standard – IVMS101);
- Manter registros detalhados por, no mínimo, cinco anos;
- Treinar equipes de compliance para responder a solicitações de autoridades em tempo hábil.
Impactos operacionais
Os principais impactos nas exchanges são:
- Custos de infraestrutura: aquisição de soluções de compliance, auditorias externas e desenvolvimento interno.
- Velocidade das transações: o processo de verificação pode acrescentar alguns minutos ao tempo de liberação de fundos.
- Experiência do usuário: requisitos de documentação mais extensos podem gerar atrito para novos clientes.
- Risco regulatório: multas e sanções podem chegar a milhões de dólares em caso de não‑conformidade.
Desafios e soluções tecnológicas
O maior desafio técnico é garantir a privacidade dos usuários ao mesmo tempo em que se cumpre a obrigação de transparência. As soluções mais adotadas em 2025 incluem:
- Plataformas de compliance-as-a-service que automatizam a coleta e transmissão de dados;
- Uso de criptografia homomórfica e provas de conhecimento zero (ZKP) para validar informações sem expô‑las.
Exemplos de exchanges que já anunciaram conformidade total podem ser encontrados em relatórios de Coinbase Compliance.
Exemplos de aplicação prática
Algumas publicações do nosso blog abordam temas correlatos que ajudam a entender o contexto mais amplo da regulação:
- Impacto das CBDCs nas criptomoedas – Analisa como moedas digitais de bancos centrais podem interagir com as exigências de AML.
- Como a DeFi está disruptando os bancos – Mostra o panorama de inovação que pressiona reguladores a adaptar regras como a Travel Rule.
O que esperar nos próximos anos?
Com a expansão das finanças descentralizadas (DeFi) e a adoção crescente de ativos digitais por instituições tradicionais, a pressão para padronizar a implementação da Travel Rule só deve aumentar. Espera‑se que:
- Novas versões do IVMS101 incluam campos específicos para protocolos DeFi;
- Autoridades brasileiras, como a CVM e o Banco Central, publiquem guias detalhados para exchanges locais;
- Mais soluções interoperáveis (por exemplo, TRISA) facilitem a troca de informações entre VASPs de diferentes jurisdições.
Manter-se atualizado e investir em tecnologia de compliance será essencial para garantir competitividade e evitar sanções.