O que é o “custo de reescrita” do histórico da blockchain?
Em blockchains públicas, todo estado – desde saldos de contas até contratos inteligentes – é armazenado de forma imutável. Contudo, ao longo do tempo, transações e atualizações podem exigir que partes desse histórico sejam reescritas ou recalculadas, gerando custos adicionais em termos de gas, largura de banda e armazenamento. Esse fenômeno é conhecido como custo de reescrita (rewrite cost) do histórico da blockchain.
Por que a reescrita acontece?
A reescrita pode ser desencadeada por diferentes motivos:
- Atualizações de protocolo: hard forks que alteram regras de consenso (ex.: a introdução do EIP‑1559 que mudou a forma de cobrança de taxas).
- Limpeza de estado (state pruning): para reduzir o tamanho da cadeia, nós podem descartar dados antigos que não são mais necessários.
- Correções de vulnerabilidades: patches que exigem a modificação de contratos ou da estrutura de dados.
- Reorganizações de blocos (reorgs): quando a cadeia mais longa substitui uma versão anterior, parte das transações podem ser reprocessadas.
Componentes que geram custo
O custo de reescrita não se resume apenas ao gas fee pago pelos usuários. Ele inclui:
- Gas computacional: cada operação que altera o estado consome gas. Quando um bloco precisa ser reprocessado, todas as transações afetadas consomem gas adicional.
- Armazenamento: a necessidade de gravar novos estados ou de remover antigos pode gerar custos de I/O nos nós.
- Largura de banda: a propagação de blocos reescritos aumenta o tráfego de rede.
- Tempo de validação: nós precisam validar novamente as transações, o que pode atrasar a sincronização de novos participantes.
Impacto econômico nas blockchains de alta demanda
Em redes como Ethereum, onde o volume de transações atinge milhões por dia, o custo de reescrita pode representar uma parcela significativa dos gastos operacionais. A introdução do EIP‑1559, por exemplo, trouxe a queima de parte das taxas (base fee), reduzindo a inflação do token ETH, mas também alterou a dinâmica de gas usado para reescrever o estado.
Para entender melhor a relação entre taxa de queima e custo de reescrita, veja o artigo Ethereum e a queima de ETH com EIP‑1559: tudo o que você precisa saber.
Como os mecanismos de queima de tokens influenciam o custo de reescrita
Os mecanismos de queima de tokens reduzem a oferta circulante, mas também podem alterar a forma como os contratos lidam com o saldo disponível. Quando tokens são queimados, os contratos precisam atualizar seus registros internos, gerando operações adicionais de escrita.

Em sistemas de tokenomics deflacionários, a frequência de queima pode elevar o número de chamadas de contrato, aumentando o custo de reescrita total da rede.
Estratégias para minimizar o custo de reescrita
Desenvolvedores, validadores e usuários podem adotar boas práticas para reduzir esses custos:
- Design de contratos eficientes: limitar o número de writes ao estado e usar mapping ou bitmaps ao invés de arrays extensos.
- Uso de layer‑2: soluções como rollups processam múltiplas transações off‑chain e submetem um único proof à camada principal, diminuindo a frequência de reescrita.
- State pruning e snapshotting: nós que implementam pruning descartam dados antigos, enquanto snapshots permitem restaurar rapidamente o estado sem percorrer toda a cadeia.
- Atualizações cuidadosas de protocolos: evitar mudanças frequentes que exigem reprocessamento massivo.
Exemplo prático: cálculo de custo de reescrita em um contrato ERC‑20
Considere um contrato ERC‑20 que executa transfer e burn. Cada operação grava duas vezes no estado (decrementa o saldo do remetente e incrementa o do destinatário). Se, em um dia, houver 100.000 transferências e 10.000 queimas, o número total de writes será:
Writes = (100.000 * 2) + (10.000 * 2) = 220.000 writes
Assumindo um custo médio de 20.000 gas por write, o custo de reescrita diário seria aproximadamente 4,4 bilhões de gas, o que se traduz em dezenas de milhares de dólares, dependendo do preço do ETH.
Considerações de segurança
O custo de reescrita também tem implicações de segurança. Ataques de reorg ou spam podem forçar nós a reprocessar blocos, consumindo recursos e potencialmente levando a denial‑of‑service. Estratégias como proteções avançadas em protocolos DeFi ajudam a mitigar esse risco.

Visão futura: o papel das novas arquiteturas de consenso
Redes de próxima geração (ex.: Ethereum 2.0, Polkadot, Cosmos) introduzem sharding e consenso híbrido, que prometem distribuir a carga de escrita entre múltiplas cadeias paralelas. Isso pode reduzir drasticamente o custo de reescrita ao limitar o escopo de cada atualização de estado.
Entretanto, a complexidade de coordenar shards traz novos desafios de cross‑shard communication, que ainda podem gerar custos de reescrita em nível de meta‑rede.
Conclusão
O custo de reescrita do histórico da blockchain é um componente crítico para a sustentabilidade econômica e a segurança das redes distribuídas. Compreender suas origens – desde atualizações de protocolo até queimas de tokens – permite que desenvolvedores e investidores tomem decisões mais informadas, otimizando contratos, adotando soluções layer‑2 e acompanhando evoluções de consenso.
Para aprofundar ainda mais, consulte fontes externas como a documentação oficial da Ethereum sobre gas e a análise de Coindesk sobre taxas de gas.