Como verificar o cronograma de vesting de um token
O vesting – ou período de aquisição – é um dos mecanismos mais críticos na tokenomics de qualquer projeto cripto. Ele determina como, quando e em que quantidade os tokens serão liberados para fundadores, equipe, investidores e outras partes interessadas. Entender e, principalmente, verificar esse cronograma é essencial para avaliar a saúde de um projeto, prevenir surpresas de diluição e tomar decisões de investimento mais embasadas.
1. O que é vesting e por que ele existe?
Vesting é um contrato inteligente que bloqueia uma parcela dos tokens e os libera gradualmente ao longo do tempo. O objetivo principal é alinhar os incentivos dos desenvolvedores e investidores com o sucesso a longo prazo do projeto. Sem um vesting adequado, os detentores de grandes quantidades de tokens poderiam vender tudo de uma vez (“dump”), provocando quedas bruscas de preço e perda de confiança.
Os parâmetros mais comuns de um vesting são:
- Cliff: período inicial em que nenhum token é liberado. Normalmente varia de 3 a 12 meses.
- Vesting period: tempo total ao fim do qual 100% dos tokens serão liberados.
- Linear vs. non‑linear: liberação constante ao longo do tempo ou em etapas (por exemplo, 25% a cada trimestre).
2. Onde encontrar o cronograma de vesting?
Os projetos geralmente divulgam o cronograma de vesting em:
- Whitepaper ou Tokenomics Deck: documentos oficiais que detalham a distribuição e as regras de liberação.
- Contratos inteligentes na blockchain – em especial no Etherscan (para tokens ERC‑20) ou em exploradores equivalentes de outras redes.
- Sites de análise como CoinMarketCap ou CoinGecko, que costumam incluir seções de “Tokenomics” com links para contratos.
Vamos detalhar como usar cada uma dessas fontes.
2.1. Analisando o whitepaper
Procure por seções intituladas “Token Distribution”, “Vesting Schedule” ou simplesmente “Tokenomics”. Normalmente, o documento traz tabelas que especificam:
- Quantia total de tokens alocados a cada parte (equipe, investidores, reserva).
- Datas de início e término do vesting.
- Se há cliffs e a periodicidade da liberação.
Se o whitepaper for vago, vale buscar o contrato inteligente para confirmar os detalhes.

2.2. Explorando o contrato inteligente
Passo a passo para tokens ERC‑20 no Etherscan:
- Acesse o Etherscan e cole o endereço do token na barra de busca.
- Na aba “Contract”, clique em “Read Contract”.
- Procure funções como
vestedAmount(address),releaseSchedule(address)oucliff(). Cada contrato pode ter nomes diferentes, mas a ideia é a mesma. - Insira o endereço da carteira que você quer analisar (por exemplo, o da equipe) e veja quantos tokens já foram liberados e quantos ainda estão pendentes.
Alguns projetos utilizam contratos padrão como OpenZeppelin ERC20Vesting. Nesses casos, a lógica de vesting é pública e auditável.
2.3. Ferramentas de terceiros
Plataformas como Dune Analytics ou Nansen já criam dashboards que exibem o vesting de projetos populares. Embora sejam serviços pagos, muitos oferecem visualizações gratuitas que facilitam a compreensão do fluxo de tokens ao longo do tempo.
3. Como interpretar o cronograma de vesting?
Depois de localizar os dados, a análise se resume a responder algumas perguntas-chave:
- Qual a porcentagem total de tokens que ainda está bloqueada? Se mais de 30% está em vesting, há risco de diluição futura.
- Qual a taxa de liberação mensal ou trimestral? Uma taxa alta pode gerar pressão de venda em curtos períodos.
- Existe um cliff longo? Cliffs de 12‑18 meses são comuns para garantir comprometimento da equipe.
- Quem são os beneficiários? Fundadores, advisors, investidores institucionais ou reservas de ecossistema.
Para ilustrar, imagine um token com 100 M de supply total, onde 20 M são alocados à equipe com vesting de 4 anos e cliff de 12 meses. A cada mês, 0,5 M será liberado (20 M / 48 meses). Se a equipe decidir vender 50 % desses tokens assim que o cliff acabar, o mercado pode absorver 5 M de tokens em um curto espaço, provocando queda de preço.
4. Exemplos práticos de verificação de vesting
4.1. Caso hipotético: Token “AlphaX”
Suponha que o token AlphaX tenha o seguinte cronograma (dados extraídos do contrato no Etherscan):

| Beneficiário | Alocação | Cliff | Vesting period | Liberação mensal |
|---|---|---|---|---|
| Equipe | 15 M (15%) | 6 meses | 24 meses | 0,625 M |
| Investidores privados | 20 M (20%) | 3 meses | 12 meses | 1,667 M |
| Reserva de ecossistema | 30 M (30%) | 0 | 36 meses | 0,833 M |
Ao analisar o contrato, vemos que a equipe já recebeu 3 M (30 % da alocação) após o cliff. O próximo ponto de atenção é o grande volume de liberação mensal dos investidores privados (1,667 M). Se o preço estiver em alta, pode haver pressão de venda a cada trimestre.
4.2. Como usar o Dune para monitorar vesting em tempo real
Crie uma query simples que some o totalSupply menos o vestedSupply para obter o supply circulante efetivo. Salve o dashboard e configure alertas para variações superiores a 5 % no supply circulante.
5. Boas práticas ao avaliar projetos com vesting
- Verifique a transparência: Projetos que publicam o contrato e explicam detalhadamente o vesting são mais confiáveis.
- Compare com benchmarks: Use métricas como Fornecimento Total vs. Fornecimento Máximo para entender a diluição potencial.
- Observe o histórico de liberação: Se o projeto já cumpriu cliffs anteriores sem atrasos, a probabilidade de cumprir o restante é maior.
- Considere a tokenomics geral: Vesting faz parte de um ecossistema que inclui queima de tokens (Mecanismos de Queima de Tokens), inflação e distribuição de recompensas.
- Use ferramentas de análise de sentimento: Picos de discussões negativas podem indicar preocupação dos investidores com próximos eventos de vesting.
6. Conclusão
Verificar o cronograma de vesting de um token não é apenas uma tarefa de curiosidade; é um passo fundamental para entender a dinâmica de oferta e demanda, avaliar riscos de diluição e, sobretudo, garantir que os incentivos do time estejam alinhados com os interesses da comunidade.
Ao combinar a leitura atenta do whitepaper, a inspeção de contratos inteligentes em exploradores como o Etherscan e o uso de dashboards de análise, você terá uma visão completa e confiável do futuro tokenômico de qualquer projeto.
Agora, com as ferramentas e o know‑how corretos, você está pronto para analisar vestings como um profissional e tomar decisões de investimento mais seguras.